ASTEROIDE

Bactérias contaminam asteroide capturado no espaço

Nas amostras, também foram identificados blocos de construção de RNA e vitamina B3, além de uma molécula usada na naftalina

Ao analisar amostras do asteroide Ryugu, a equipe do Imperial College London encontraram hastes e filamentos de matéria orgânica na superfície. Os grãos do asteroide foram coletados pela Hayabusa-2, mantidos hermeticamente selados desde a coleta até a entrega aos laboratórios da Agência Espacial Chinesa, onde foram abertos em nitrogênio puro, em uma sala limpa e com equipamentos esterilizados. Ainda assim, germes conseguiram alcançar a superfície. Parte das amostras foram enviadas para diversos laboratórios.

"Foi algo realmente grande, olhar para Ryugu pela primeira vez e havia essa coisa misteriosa", declarou o Dr, Matthew Genge, do Departamento de Ciências da Terra e Engenharia do Imperial College London e principal autor do estudo, ao IFLSciense. "Você tem que imaginar que estou sentado lá com dois estudantes de graduação, um dos quais está tão animado que continua caindo da cadeira. Na primeira sessão de microscópio eletrônico de varredura, notei essas pequenas fibras orgânicas.”

“Pensamos sobre isso e percebemos que eles poderiam ser micróbios, o que, claro, foi tremendamente emocionante, especialmente para os alunos de graduação", continuou o pesquisador. "Mas eu sabia, por estudos anteriores, que bactérias terrestres foram encontradas em espécimes de meteoritos. Na segunda vez que olhamos para o espécime, uma semana depois, o número dessas pequenas fibras havia aumentado por um fator de mais de 10. Havia apenas aglomerados delas ao redor de parte do material orgânico indígena dentro do meteorito.”

O asteroide Ryugu foi alterado pela água e contém moléculas orgânicas mais antigas que o sol. Nas amostras, foram identificados blocos de construção de RNA e vitamina B3, além de uma molécula usada na naftalina — os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs).

“É claro que esse material é abiótico. Ele se formou no espaço sem nenhuma vida. Mas ele contém muitas coisas boas, muitos petiscos para micróbios terrestres”, explicou o Dr. Genge na declaração. “Microrganismos terrestres, especialmente bactérias, podem metabolizar uma gama muito ampla de moléculas orgânicas.”

Um processo foi realizado para a eliminação das bactérias terrestres, a fim de que os cientistas chegassem até as moléculas que estavam abaixo e ao redor delas. Elas foram colocadas em um microscópio eletrônico de varredura, onde foram expostas a um vácuo forte e a um feixe de elétrons de 20 quivolts.

A descoberta evidenciou que, mesmo nas melhores condições, um único esporo pode se espalhar por um material extraterrestre facilmente. Segundo a pesquisa, mesmo que os meteoritos sejam coletados após a queda, é quase que impossível encontrar evidências de vida — a menos que não seja nada parecida com a da Terra. Uma amostra coletada em outro lugar também pode enfrentar as mesmas preocupações.

“Um dia faremos a descoberta de vida em outro planeta. Encontraremos microrganismos, provavelmente em uma rocha que foi trazida de volta à Terra. Quando esse dia acontecer, gostaríamos de pensar que todos nós estaremos pulando para cima e para baixo e comemorando. Mas, na verdade, alguém fará a pergunta: 'Mas isso é da Terra?' Porque sempre há uma chance muito, muito pequena. E isso é tudo o que você precisa. Isso é tudo o que você precisa”, pontuou o Dr. Genge ao IFLScience.

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*Estagiário sob a supervisão de Mariana Niederauer

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