A uma semana do fim da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP29), em Baku, no Azerbaijão, executivos, ministros e consultores da indústria de combustíveis fósseis se apresentaram, nesta sexta-feira (15/11), como peças essenciais na transição energética, alguns dias após o anfitrião do encontro, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, afirmar que petróleo e gás são presentes divinos. Segundo organizações não governamentais (ONGs), a reunião dos interessados nesse tipo de energia poluidora oferece grande espaço para grupos de lobby.
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Em Baku e nas proximidades, dezenas de eventos sobre energia foram organizados, com muitas empresas e lobbies estabelecendo estandes informativos. Entre os participantes estavam os ministros de Energia do Cazaquistão, dos Estados Unidos —maior produtor de petróleo mundial—, além de executivos de empresas de energia solar e gás, empresários do mercado de carbono e de "emissões zero".
"Sim, somos parte do problema climático, mas seguimos uma lógica de progresso contínuo, embora nunca seja rápido o suficiente para a sociedade", afirmou à AFP o CEO da TotalEnergies, Patrick Pouyanné, após participar de um evento com o presidente da Socar, a estatal de petróleo do Azerbaijão.
A presidência da COP29 está sob a responsabilidade de Mukhtar Babayev, ex-executivo da Socar. Assim como aconteceu na COP28, em Dubai, ONGs criticaram a presença de centenas de representantes de empresas e lobistas do setor de combustíveis fósseis. A coalizão Kick Big Polluters Out (Expulsar os Grandes Poluidores, em português), que reúne 450 organizações, informou que 1.773 pessoas ligadas a esses grupos estavam presentes no encontro.
Na entrada do evento havia uma cobra gigante simbolizando a influência das corporações nas negociações. "As energias fósseis destroem a vida das pessoas", afirmou Makoma Lekalakala, da ONG EarthLife. "Exigimos o fim do colonialismo energético no Sul", disse à AFP Bhebhe, ativista da ONG Power Shift Africa.
A crítica à influência das indústrias de combustíveis fósseis nas reuniões não vem apenas dos ativistas. "É lamentável que o setor de energia fóssil e os petroestados tenham assumido o controle das negociações de forma tão prejudicial", afirmou o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore.
Com quase 53 mil pessoas credenciadas para o evento, além da equipe técnica e organizadores, de acordo com a Organização das Nações Unidas, novas regras permitem maior transparência sobre a presença de lobbies. Desde a última COP, os participantes devem declarar seus vínculos financeiros ou de outra natureza com as entidades solicitantes do credenciamento.
Entre as delegações, o Japão levou a gigante do carvão Sumitomo, enquanto o Canadá incluiu os produtores de petróleo Suncor e Tourmaline. As empresas ocidentais de petróleo, como Chevron, ExxonMobil, BP, Shell e Eni, reuniram um total de 39 lobistas, segundo as ONGs.
Embora a última edição, em Dubai, tenha tido uma participação recorde do setor fossilista, ela registrou o primeiro acordo da história das COPs que pede um abandono progressivo dos combustíveis fósseis.
Em meio a conflitos de interesses, os negociadores e representantes de quase 200 países tentam alcançar um acordo sobre a contribuição dos países desenvolvidos para os 1 trilhão de dólares, cerca de 5,8 trilhões de reais, anuais necessários para que as nações em desenvolvimento consigam enfrentar as mudanças climáticas.
"Honestamente, o progresso tem sido muito lento", reconheceu a negociadora-chefe do Azerbaijão, Yalchyn Rafiev. "Ninguém avançará significativamente antes de quarta-feira", afirmou à AFP um participante das negociações, que acontecem a portas fechadas. A próxima semana trará a fase final das negociações, com a chegada dos ministros à capital do Azerbaijão.