FURACÕES

Cordilheira dos Andes protege o Brasil de furacões? Viral é falso

Geógrafo explica que o Pacífico é um oceano frio, o que impede o surgimento do fenômeno no país, e que a cordilheira não exerce papel significativo na formação de ciclones

Um vídeo que mostraria como a Cordilheira dos Andes protege o Brasil de furacões viralizou nas redes sociais nas últimas semanas. A informação, que deixou muitos internautas curiosos, contudo, é falsa. O Correio conversou com Rafael Rodrigues da Franca, do Departamento de Geografia e geógrafo e coordenador do Laboratório de Climatologia Geográfica da Universidade de Brasília (UnB), para esclarecer o que de fato impede a formação de furacões no país — spoiler: não é a Cordilheira dos Andes.

@re6i634 Deus é brasileiro! #FuracãoMilton #EstadosUnidos #EUA #CordilheiraDosAndes #Brasil #oceanopacifico #CapCut ? som original - Reginaldo Conceição

O geógrafo esclarece que "tufão" é a nomenclatura correta para o evento formado no oceano Pacífico, enquanto "furacão" é utilizado para se referir aos que se formam no Atlântico. Ambos os termos se referem ao mesmo fenômeno (tempestades causadas por perturbações na atmosfera), mas originados em regiões diferentes.

"Os furacões são centros de baixa pressão atmosférica que se formam nos oceanos da Terra", explica o geógrafo. "Mas um requisito importante para isso é a temperatura da superfície do mar. Furacões não se organizam em oceanos frios (como é o caso do Pacífico), somente em águas quentes."

Rodrigues explica que o oceano Pacífico é frio, principalmente na área ao longo da costa oeste da América do Sul, onde está, também, a Cordilheira dos Andes. Mesmo os pontos perto da Linha do Equador, a temperatura da água varia entre 20 e 22ºC, impedindo que a formação dos furacões. "Até porque, também nessa região, temos um sistema de alta pressão que inibe a formação desse tipo de sistema", continua. "Mesmo que não tivesse esse 'anti-ciclone' (o sistema de alta pressão), o fato da água ser muito gelada impediria o surgimento de furacões ali. Então, a Cordilheira dos Andes não tem papel nenhum nisso", pontua.

No caso do oceano Atlântico, há sim a predominação de correntes mais quentes, como a do Brasil. Mas a temperatura das águas brasileiras ainda estão distantes das registradas em zonas críticas — como a temperatura que resultou na formação do furacão Milton, no México, que estava cerca de 31,5ºC. 

*Estagiário sob a supervisão de Ronayre Nunes

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