Três perguntas para Karen Oliveira, diretora de políticas públicas e relações governamentais da TNC Brasil

O que precisa ser resolvido efetivamente na COP29?

Apesar de parecer uma COP de transição, na verdade é uma Conferência bastante importante pela questão do financiamento. No Acordo de Paris, foi assumido o compromisso de os países desenvolvidos doarem em torno de US$ 100 bilhões ao ano. A verdade é que já está se completando praticamente 10 anos e esse valor nunca foi atingido. Com isso, um dos pontos que foi acordado na reunião preparatória da COP29, em Bonn, na Alemanha, foi justamente um processo de revisão, no qual espera-se estabelecer uma nova meta que está sendo chamada de Objetivo Coletivo Quantificado para o Financiamento Climático (NCQG), que define uma série de outros pontos que são derivados a partir daí. Os países têm até fevereiro para apresentar suas contribuições para a redução das emissões de efeito estufa. É muito comum se falar de metas mais ambiciosas, mas o nível de ambição está diretamente relacionado aos recursos financeiros disponíveis para a implementação das medidas. Então, se não houver um acordo em relação ao novo financiamento, dificilmente conseguiremos dos países metas mais ambiciosas.

A COP da biodiversidade foi suspensa justamente pela falta de acordo sobre financiamento. Corre-se o risco de isso se repetir agora? 

Essa fonte de recursos vem de fundos públicos por doação e está cada vez mais comprometida. E em um cenário no qual você observa claramente uma crise no multilateralismo, que não vem funcionando bem. A gente observa que cada vez mais as decisões estão sendo tomadas em relações bilaterais. O próprio presidente Lula ressaltou, na Assembleia Geral da ONU, a importância de uma revisão do programa multilateral global. Em um momento em que os conflitos armados consomem a maior parte dos recursos, soma-se o próprio momento de emergência climática que a gente vem atravessando. Cada vez mais, os países estão precisando investir na recuperação de danos como os que aconteceram no Rio Grande do Sul, nos Estados Unidos, na Europa e até nas áreas desérticas da África. Por isso, são necessários mecanismos financeiros inovadores diferenciados, além da participação do setor privado, para ver se, somando tudo, consegue-se chegar a essa nova meta.

Qual o papel do Brasil nas COPs, a partir de agora? 

O Brasil pretende levar para a COP29 uma plataforma que vem sendo discutida para investimento climático, no sentido de dar maior visibilidade e atrair parcerias. Essa é uma iniciativa importante. A segunda iniciativa, anunciada na COP passada e que está ganhando cada vez mais a adesão de outros países, é o apoio a um mecanismo financeiro chamado "Triple F", o The Tropical Forest Forever Facility. Ele consiste no pagamento pela floresta conservada, principalmente na conversão de títulos da dívida externa, somados a outros recursos de origem privada. No próximo ano, COP30 será uma oportunidade única do Sul Global colocar realmente a voz em evidência e mostrar que temos problemas, mas também soluções e que, trabalhando, todo mundo junto, é possível fazer a diferença, e o Brasil tem tudo para ser o grande protagonista. (PO)

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