A data de 14 de novembro é o Dia Mundial do Diabetes. Especialistas aproveitam o momento para apelar pela conscientização da população. Uma pesquisa sobre o tratamento de diabetes no Brasil indicou que, embora 72% dos que responderam o questionário utilizem algum serviço do Sistema Único de Saúde (SUS) para consultas, cerca de 2 milhões de pacientes não conseguem acompanhamento adequado para a doença.
A pesquisa da Coalizão Vozes do Advocacy em Diabetes e Obesidade foi realizada com uma amostra quantitativa de 1.843 pessoas com diagnóstico da doença. Ela descobriu que tempos de espera para agendamentos e consultas são as principais barreiras para que tratamentos sejam feitos da forma correta. Grupos vulneráveis da população, com menores escolaridade e renda, são ainda mais afetados por esses e outros fatores.
Ao Correio, a coordenadora da Coalizão Vozes do Advocacy, Vanessa Pirolo, disse que o objetivo do estudo é “trabalhar políticas públicas que possam melhorar o tratamento do diabetes, a adesão dessas pessoas ao tratamento e ao mesmo tempo melhorar o acesso a ele”. Na manhã desta quarta-feira (13/11), ela participou de Sessão Solene em Homenagem ao Dia do Diabetes na Câmara dos Deputados — cujo prédio recebe, a partir das 19h30, iluminação azul e projeção de frases e imagens para conscientização sobre a condição.
De acordo com os dados, 10% dos participantes sequer passam por consultas, e 6% se consultam com frequência menor que deveriam. Isso porque, de uma escala de zero a dez, eles consideram o “tempo de espera para conseguir agendar consultas ou exames” e o “tempo que leva do agendamento até a data da consulta” um fator que vale uma avaliação média de 4,8.
Em alguns casos também — 13% —, o próprio médico não sugeriu acompanhamento periódico. Assim, não é raro que haja descontrole do nível de glicemia ou até mesmo desconhecimento do percentual de açúcar no sangue — 42% deles não sabem ou não se lembram desse dado, essencial para o controle da doença.
“Você precisa entender como funciona seu corpo”, explicou Vanessa. “O acompanhamento é essencial para que a pessoa consiga aderir ao tratamento e evitar as complicações do diabetes. Segundo os dados da pesquisa, por exemplo, se tiver um acompanhamento constante e acesso a toda a medicação e educação em diabetes, a gente tem uma facilidade muito grande para não ter as complicações.”
Por isso, embora 84% dos respondentes com diabetes serem alcançados por medicamentos subsidiados pelo governo, tê-los sempre disponíveis, junto a materiais de controle de glicose, é a principal demanda dos participantes da pesquisa — 60% deles —; seguida por “médicos e profissionais de saúde que demonstrem atenção no atendimento”, com 53%, e “rapidez para agendamento da consulta ou exame”, com 52%.
Dessa forma, a coordenadora da Vozes do Advocacy também apelou para o governo: “Gostaríamos imensamente que o Projeto de Lei que tramita em Brasília, que coloca o teste de glicemia nas urgências e nas emergências, fosse sancionado pelo presidente”.
58% dos participantes não são acompanhados por endocrinologistas, médicos que são especializados no diabetes e, portanto, podem orientar melhor os portadores da condição. 54% estão na fila para se consultar com oftalmologistas por mais de três meses.
A dificuldade de acesso a resultados de exames e a quantidade de médicos ou profissionais de saúde, portanto, também receberam notas baixas em relação à avaliação de zero a dez, com 5,5 e 5,6 respectivamente.
77% deles utilizam serviços gratuitos para consultas, os quais 72% se dão por meio do SUS. 67% fazem também exames pelo sistema público.
“Nós queremos que o Ministério da Saúde faça um programa de capacitação constante da equipe de saúde e que todas as UBSs tenham esse treinamento, utilizando as tecnologias que já são incorporadas no SUS, já que 58% da população é atendida pelo clínico geral e médico da família e eles não têm conhecimento suficiente para dar atenção e ajudar essa população a aderir ao tratamento”, contou Vanessa.
Desigualdade social no tratamento
Respondentes das classes D e E e respondentes pretos avaliaram a maioria dos fatores contemplados pelo estudo com notas abaixo de cinco. Neste último grupo, a insatisfação com a quantidade de médicos e com os prazos para agendamentos e consultas chega quase a 90%.
Enquanto isso, a maioria da classe A não deu nota abaixo de seis para nenhum item da pesquisa. Portadores de planos de saúde (24%) também foram menos críticos, principalmente em relação a tempos de espera — um dos fatores mais criticados pelos que não têm convênio.
Consequências
Por fim, as consequências da negligência do tratamento vêm rápido. 12% das pessoas que responderam afirmam ter ‘retinopatia diabética’, uma alteração na retina causada pelo não controle da doença que pode inclusive levar à cegueira; 32% têm neuropatia diabética — uma complicação que afeta principalmente nervos de extremidades do corpo, como mãos e pés —, 25% doenças cardiovasculares, 23% doenças sexuais, 10% doença renal e 10% feridas nos pés.
“Inclusive, 4% da nossa amostra disse que tem alguma amputação”, informou Vanessa. “Então, a gente precisa diminuir esses índices e, assim, conseguiremos também desonerar o SUS.”
A Sociedade Brasileira de Diabetes informa que cerca de 20 milhões de pessoas convivem com a doença no país, 90% portadoras do tipo 2 — aquele que é adquirido quando o organismo não consegue usar ou não produz insulina suficiente para controlar a taxa de glicemia, e pode ser tratado com dieta, exercícios físicos e medicamentos.
Ainda assim, a maioria das pessoas desconhecem alguns tipos de tratamento. 60% dos diabéticos que participaram da pesquisa da Vozes do Advocacy, por exemplo, nunca ouviu falar de vacinas especiais para diabetes; e apenas 11% se vacinaram nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIEs).
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