Pesquisadores da Universidade de Yale desvendaram que o paladar dos mosquitos Aedes albopictus, também conhecidos como mosquito-tigre asiático, é capaz de detectar uma ampla variedade de estímulos gustativos. Esse avanço pode ajudar a desenvolver novas estratégias para reduzir a disseminação de doenças transmitidas por mosquitos.
"Esse mosquito pode espalhar diversas doenças, como dengue e chikungunya", afirmou, em comunicado, John Carlson, professor da universidade e autor sênior do estudo, publicado na Nature em outubro deste ano. Carlson explicou que alguns compostos presentes no suor humano estimulam a vontade de picar, enquanto compostos amargos podem suprimir esse comportamento, o que pode ajudar a explicar por que algumas pessoas parecem "mais saborosas" para esses insetos.
A maioria dos estudos anteriores focava em como os odores e o calor ajudam os mosquitos a encontrar suas vítimas, mas esse novo estudo mostra que o paladar tem um papel decisivo depois que o mosquito pousa na pele humana.
Gosto: o fator decisivo após o pouso
A equipe de Yale investigou 46 compostos gustativos, incluindo açúcares, sais, compostos amargos e aminoácidos, e mapeou as respostas dos neurônios presentes no órgão do paladar do mosquito, o labellum. Eles observaram que alguns compostos, como açúcares, ativavam muitos neurônios, enquanto outros, surpreendentemente, bloqueavam a atividade neuronal.
Essa dualidade entre excitação e inibição ajuda os mosquitos a codificarem uma ampla gama de estímulos gustativos e possivelmente a reconhecer combinações de compostos que indicam a presença humana. "Existe uma lógica por trás dessa preferência", explica Lisa Baik, autora principal do estudo e pesquisadora associada ao laboratório de Carlson. "Há muitos lugares na natureza onde podemos encontrar sal ou aminoácidos isolados, mas humanos possuem esses dois compostos juntos na pele, e os mosquitos podem reconhecer essa combinação como um indicador de uma boa oportunidade de picada", continua.
Outro achado relevante foi o efeito dos compostos amargos, que se mostraram capazes de reduzir a alimentação dos mosquitos sem interferir na postura de ovos. Isso indica que esses compostos poderiam ser usados para inibir picadas, oferecendo uma alternativa mais eficaz e menos agressiva em comparação com repelentes convencionais.
Perspectivas futuras para o controle de doenças
Com a ampliação do conhecimento sobre o sistema gustativo dos mosquitos, os cientistas de Yale acreditam que novas abordagens para o controle de doenças podem surgir. A possibilidade de interferir na percepção de gosto dos mosquitos representa um caminho inovador para prevenir picadas e combater a disseminação de doenças como a dengue e a chikungunya, com o potencial de beneficiar milhões de pessoas em regiões tropicais e subtropicais.
"Esses compostos podem ser extremamente úteis, especialmente porque as mudanças climáticas expandem o habitat dos mosquitos e, consequentemente, a propagação de doenças", completa Carlson.
*Estagiária sob supervisão de Pedro Grigori
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