Os desinfetantes são amplamente usados para a higienização de ambientes contra os microorganismos, sobretudo em meio urbano. No entanto, os micróbios estão se acostumando ao uso de produtos industrializados e criaram capacidade genética de resistir a eles. É o que revela um estudo publicado no periódico científico Microbiome.
"A nossa utilização de produtos de limpeza e de outros produtos industrializados cria um ambiente único que exerce pressões seletivas sobre os micróbios, às quais estes têm de se adaptar ou ser eliminados", explica Xinzhao Tong, professor na Universidade Zi'an Jiaotong-Liverpool, na China, e principal autor do estudo.
Como parte da pesquisa, os cientistas coletaram 738 amostras de uma variedade de ambientes urbanos, como metrôs, casas, equipamento público e pele humana em Hong Kong. Em seguida, avaliaram o metagenoma genético dos micróbios presentes nas amostras, a fim de entender como eles se adaptaram às condições urbanas.
Foram identificadas novas 353 linhagens microbianas, das quais algumas continham genes para metabolizar produtos industrializados encontrado nas cidades, usando-os como fontes de carbono e energia.
Um dos micróbios encontrados foi uma variação da Candidatus phylum Eremiobacterota, encontrada no solo da Antártica. "O genoma desta nova estirpe de Eremiobacterota lhe permite metabolizar íons de amônia presentes nos produtos de limpeza. A linhagem também tem genes para álcool e aldeído desidrogenases para decompor o álcool residual encontrado em desinfetantes comuns", expõe Tong.
“Os micróbios que possuem capacidades melhoradas para utilizar recursos limitados e tolerar produtos industrializados, como desinfetantes e metais, competem com micróbios não resistentes, aumentando a sua sobrevivência e mesmo a sua evolução em ambientes construídos. Podem, portanto, representar riscos para a saúde se forem patogênicos", completa o pesquisador.
Agora, a equipe investiga a transmissão e a evolução desses micróbios super-resistentes em unidades de tratamento intensivo, que estão expostas ao uso contínuo de desinfetante e demais produtos de limpeza. Os cientistas esperam melhorar as práticas de controle de infecções e a segurança de ambientes clínicos com relação à saúde dos trabalhadores e dos pacientes.