MICRORGANISMOS

Escovas de dentes e chuveiros abrigam vírus ainda desconhecidos, diz estudo

Novo estudo experimental descobriu que banheiros são lar para ‘biodiversidade inexplorada’ 

Um estudo publicado nesta quarta-feira (9/10) e guiado pela Universidade Northwestern, em Illinois, nos Estados Unidos, descobriu que escovas de dentes e duchas de chuveiros são pontos críticos de infestação de vírus até então desconhecidos.  

Microbiólogos encontraram uma "coleção extremamente diversa" de vírus, muitos deles nunca vistos antes, em objetos do banheiro. A boa notícia é que esses microrganismos não têm como alvo seres humanos, mas buscam atingir bactérias. 

Chamados “bacteriófagos”, ou apenas “fagos”, esses tipos de vírus infectam bactérias e se reproduzem dentro delas. Embora ainda existam poucas informações sobre eles, os microrganismos chamaram atenção pelo uso no tratamento de infecções bacterianas resistentes a antibióticos. Microbateriófagos, por exemplo, infectam microbatérias, que podem causar doenças como lepra, tuberculose e infecções pulmonares crônicas. 

Dessa forma, a infestação de vírus desconhecidos presente no banheiro pode, na verdade, ser valiosa aos estudos que exploram a aplicação deles na medicina, por exemplo.  

“Devido ao ambiente dinâmico, com mudanças extremas de temperatura e períodos em que se encontra molhado e seco, e a exposição a produtos de higiene e de limpeza [...], nós levantamos a hipótese de que a infestação do fago nesses ambientes construídos de forma única são diferentes das interações com biofilmes em outros ambientes”, afirmam os autores Stefanie Huttelmaier, Weitao Shuai, Jack T. Sumner e Erica M. Hartmann. 

Biofilmes são superfícies extracelulares produzidas por comunidades de microrganismos para proteção própria. “Micróbios preferem ambientes com água”, informa Hartmann ao EurekAlert!. “E onde tem água? Dentro de nossas duchas e nas nossas escovas de dentes.” 

Para chegar à hipótese de que os biofilmes nos objetos do banheiro se comportam de forma diferente do que em outros ambientes, os autores analisaram 34 escovas de dentes e 92 duchas. Nelas, foram identificados cerca de 600 microrganismos virais; cerca de 530 deles estavam conectados com famílias de bactérias. 

Segundo Hartmann, basicamente não houve repetição dos vírus em duas amostras diferentes. “Cada ducha e cada escova de dentes é como se fosse sua própria ilhazinha”, esclarece. “Isso só acentua a diversidade incrível de vírus que existem por aí.” 

Por isso, e para que esses vírus continuem matando bactérias prejudiciais aos seres humanos, é indicado que duchas sejam lavadas — em vez de com água sanitária, por exemplo — com vinagre, para remover cálcio, se for o caso; ou simplesmente esfregadas com água e sabão. As escovas de dentes, por sua vez, devem ser trocadas regularmente. 

“Micróbios estão presentes em todo lugar, e a maioria deles não vai nos deixar doentes”, afirma a autora. “Quanto mais você os ataca com desinfetantes, mais chances há de eles desenvolverem resistência ou se tornarem mais difíceis de serem tratados.” 

O estudo experimental, chamado Phage communities in household-related biofilms correlate with bacterial hosts but do not associate with other environmental factors (“Comunidades de fagos em biofilmes domésticos se correlacionam com hospedeiros bacterianos, mas não se associam a outros fatores ambientais”, em tradução livre), foi publicado na revista Frontiers in Microbiomes.  

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