O primeiro inventário global de poluição plástica calculou que, em 2020, 52 milhões de toneladas de produtos à base do material foram lançados no meio ambiente. Se colocados em linha reta, os resíduos dariam a volta ao mundo mais de 1,5 mil vezes, compararam os autores, da Universidade de Leeds, no Reino Unido. Os cálculos, feitos com modelagem de inteligência artificial, colocam o Brasil no oitavo lugar entre os 10 maiores poluidores, com o descarte não sustentável de 1.444.824 toneladas anuais.
-
Cientistas descobrem proteína responsável pela fórmula da longevidade
-
Resiliência mental ajuda a ter uma velhice saudável, diz estudo
A cada ano, mais de 400 milhões de toneladas de plástico são produzidas. Muitos produtos são descartáveis, difíceis de reciclar e podem permanecer no meio ambiente por décadas ou séculos, muitas vezes sendo fragmentados em itens menores. Alguns contêm aditivos químicos potencialmente prejudiciais, que representam ameaças à saúde humana, principalmente se forem queimados a céu aberto, destaca o inventário.
Em 2020, ano-base do estudo, 30 milhões de toneladas de plástico, ou 57% da poluição pelo produto, foram queimadas sem qualquer controle ambiental nas ruas ou lixões. Publicado na revista Nature, o artigo destaca que esse processo "traz ameaças substanciais à saúde humana, incluindo defeitos neurodesenvolvimentais, reprodutivos e congênitos".
Gerenciamento
"Resíduos não coletados são a maior fonte de poluição plástica, com pelo menos 1,2 bilhão de pessoas vivendo sem serviços de coleta, forçadas a autogerenciar o lixo, o que fazem geralmente despejando-o em terra, em rios ou queimando-o em fogueiras", analisa Josh Cottom, pesquisador em poluição plástica da Universidade de Leeds e primeiro autor do artigo. "Ao melhorar o gerenciamento básico de resíduos sólidos, podemos reduzir drasticamente a poluição plástica e melhorar a vida de bilhões de pessoas."
No estudo, o modelo computacional coletou e avaliou dados de gerenciamento de resíduos em mais de 50 mil municípios do mundo, incluindo Brasília, Belo Horizonte, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. O diagnóstico da destinação do lixo plástico é desolador: catadores informais e pouca evidência de reciclagem sustentável.
A pesquisa também identificou novos pontos críticos de poluição plástica, revelando a Índia como o maior contribuinte — em vez da China, como foi sugerido em modelos anteriores — seguida pela Nigéria e Indonésia. Segundo os pesquisadores, a mudança de posição reflete melhorias na coleta e no processamento de resíduos implementadas nos últimos anos pelo governo chinês.
Contraste
"O contraste entre as emissões de resíduos plásticos do Norte Global e do Sul Global é gritante", diz o estudo. Apesar do alto consumo do material, a poluição por objetos maiores que 5mm (macroplástica) é um problema comparativamente pequeno acima da linha do equador, onde o gerenciamento do lixo é mais abrangente. Por outro lado, embora países de baixa e média renda produzam muito menos resíduos do tipo, uma grande proporção não é coletada, ou descartada de forma incorreta, fazendo com que ocupem o topo do ranking.
Uma das preocupações expressas pelos pesquisadores é com a África Subsaariana. Embora os países dessa região geralmente apresentem níveis baixos de poluição, a avaliação per capita é de 12kg por pessoa por ano, o equivalente a mais de 400 garrafas plásticas. Há temor de que essa parte do continente africano se torne a maior fonte mundial de poluentes macroplásticos, pois a maioria deles tem uma gestão ruim dos resíduos, ao mesmo tempo em que a população está em crescimento rápido. No Brasil, a emissão de objetos plásticos per capita é de 5,7kg/ano, segundo o estudo.
Acesso
Os pesquisadores destacam que os resultados apontam a "necessidade básica e o aspecto vital" do acesso à coleta de lixo, juntamente com os serviços de água e esgoto. Eles também ressaltam que, embora a queima descontrolada de plástico tenha recebido muito pouca atenção no passado, trata-se de um problema tão grande quanto os resíduos jogados no meio ambiente. "Precisamos começar a focar muito, muito mais em lidar com a queima a céu aberto e resíduos não coletados antes que mais vidas sejam desnecessariamente impactadas pela poluição plástica", disse Costas Velis, da Escola de Engenharia Civil de Leeds e líder da pesquisa.
Em nota, Ed Cook, pesquisador associado em sistemas de economia circular para resíduos plásticos em Leeds, disse que o primeiro inventário global de poluição plástica fornece uma linha de base que pode ser usada por formuladores de políticas. "No passado, houve dificuldades para lidar com esse problema, em parte devido à escassez de dados de boa qualidade. Esperamos que nosso conjunto detalhado de dados em escala local ajude os tomadores de decisão a alocar recursos escassos para lidar com a poluição plástica de forma eficiente."