Saúde da Mulher

Conheça o implante criado para tratar endometriose

O dispositivo de hidrogel, de 2mm de comprimento, é colocado nas trompas de falópio e, atua como uma barreira para o esperma e o sangue menstrual. São aguardados mais testes para verificar o percentual de eficácia e segurança

Um dispositivo de hidrogel, implantado nas trompas de falópio, promete ser um tratamento indolor e biocompatível para prevenir os efeitos da endometriose. Artigo publicado na Advanced Materials informa que, uma vez colocado o implante nos dois canais finos, responsáveis pelo transporte do óvulo, desde o ovário até a cavidade uterina, age ainda como contraceptivo. O estudo é conduzido por cientistas da ETH Zurich e Empa.

A implantação do dispositivo, que tem 2mm de comprimento, é realizado por um procedimento não cirúrgico utilizando um histeroscópio, instrumento para inspecionar a cavidade uterina. Em contato com líquidos do próprio organismo, o implante incha e dobra de tamanho. O hidrogel então atua como uma barreira para o esperma e o sangue.

Pelos dados da Sociedade Brasileira de Endometriose e Cirurgia Minimamente Invasiva (SEB Endometriose) , uma em cada dez mulheres brasileiras sofre com a doença, sendo que 57% têm dores crônicas e mais de 30% dos casos podem repercutir com infertilidade. A condição provoca dor crônica, cólicas menstruais intensas, dores durante a relação sexual, desconforto ao urinar e evacuar.

Herrmann Inge, autor correspondente do estudo, explica que a endometriose é " uma condição dolorosa em que um tecido semelhante ao revestimento do útero cresce fora dele, devido ao seu papel na menstruação retrógrada, em que o sangue menstrual flui para trás, em direção ao abdômen". Segundoele, o implante foi desenvolvido como uma forma eficaz e reversível de tratamento.

A aplicação do implante é guiada e monitorada por ultrassom e histeroscópio clínico, que ajudam a visualizar o interior do útero. Testes adicionais em suínos indicaram que estes implantes são biocompatíveis. A ginecologista e obstetra Marcelle Domingues Thimoti ressalta que, há alguns anos, existia uma dispositivo semelhante chamado Essure, formado por uma espécie de mola de metal que induzia a obstrução das trompas de falópio, porém sua indicação era única e exclusivamente contraceptiva. Em 2018, foi retirado mercado.

"O implante de hidrogel pode ser uma alternativa na prevenção de novas lesões pélvicas por endometriose, se considerarmos a teoria da menstruação retrógrada", destaca a médica. No entranto, ela guarda estudos acionais para "avaliar a segurança e a eficácia a longo prazo deste implante em um grupo maior de pacientes".

Segundo ele, os implantes podem ser removidos com segurança em poucos minutos usando luz ou uma solução específica, em um procedimento semelhante às técnicas médicas existentes usadas para examinar as trompas de falópio.

Material

Uma vantagem dos hidrogéis é que o material incha quando em contato com líquidos. Como resultado, o implante começa com aproximadamente 2 milímetros de comprimento e, ao ser implantado nas trompas de falópio como parte de um procedimento não cirúrgico usando um histeroscópio, instrumento para inspecionar a cavidade uterina, o implante incha para mais que o dobro do seu tamanho original. O hidrogel então atua como uma barreira para o esperma e o sangue.

"Descobrimos que o implante tinha que ser feito de um gel extremamente macio - similar em consistência a um bebê de gelatina - que não impacta o tecido nativo e não é tratado e rejeitado como um corpo estranho", explica Alexandre Anthis, autor principal do estudo.

Ramon Tiago Albuquerque Andrade, professor de química e especialista em nanomateriais e ecotoxicologia, descreve os hidrogéis como um polímero plástico que adquire volume rapidamente pela absorção de água. "O encapsulamento de fármacos constitui hidrogéis de fácil degradação ou eliminação pelo organismo, por exemplo, ressaltou.

Os pesquisadores querem fazer mais testes com o implante de hidrogel para examinar a eficácia e a segurança com sua aplicação. "São necessários testes extensivos para confirmar a eficácia e segurança desta tecnologia antes que os primeiros testes clínicos possam ser realizados", disse Hige. "Esperamos estabelecer parcerias adicionais com investigadores e a indústria para explorar a tradução e a comercialização."

*Estagiária sob supervisão de Renata Giraldi

 

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Mariana Rodrigues, ginecologista especialista em cirurgia minimamente invasiva e cirurgia robótica.