Pela segunda vez em dois anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declara a mpox uma emergência global. A decisão vem na esteira de um surto na República Democrática do Congo (RDC), que se espalhou para outros 12 países, incluindo quatro que ainda não haviam registrado casos neste ano: Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda. No total, a África tem mais de 17 mil notificações suspeitas — 14 mil apenas na RDC —, um aumento de 160% em relação há um ano. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças da África relataram 517 mortes. No Brasil, não há surto da doença (leia mais abaixo).
Embora anteriormente fosse chamada de "varíola dos macacos", a doença infecciosa não é causada por esses animais. A transmissão ocorre por humanos contaminados, quando há contato próximo com secreções ou objetos — o sexo é uma das vias de contágio. Não existe tratamento específico, mas há uma vacina que, no Brasil, é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para grupos prioritários, como profissionais de laboratório que trabalham com a família do vírus mpox, pacientes de HIV/Aids e pessoas que tiveram proximidade com indivíduos ou secreções de infectados.
"Está claro que uma resposta internacional coordenada é essencial para interromper os surtos e salvar vidas", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, ao anunciar a emergência global. A nova classificação é técnica, e não significa que a doença é considerada pandemia, como a covid-19. "Apesar de termos esse alerta emitido, o foco não é gerar frenesi, mas, sim, estruturar de maneira coordenada ações que visem o controle de uma possível propagação, seja por meio de financiamento, seja compartilhamento de vacinas, medicamentos e até mesmo testes diagnósticos", esclarece Rorgio Faitta Chitolin, biólogo molecular responsável técnico no Laboratório de Diagnósticos por Biologia Molecular.
Segundo a infectologista Marion Koopmans, do Instituto de Pesquisa de Vírus da Universidade de Roterdã, na Holanda, o surto atual iniciou com a clade I, cepa endêmica do continente africano. Porém, recentemente, na província de Quivu do Sul, surgiu uma variante chamada clade Ib que, aparentemente, transmite-se com mais facilidade. Ela é diferente também da clade II, de de 2022. "As evidências sobre gravidade e transmissibilidade da nova sublinhagem são limitadas", alerta Koopmans. "No estágio atual, há alguma especulação sobre uma transmissão mais eficiente, mas isso também pode ser explicado pelo modo mais comum de infecção em Quivu do Sul, impulsionada pelo contato sexual."
De acordo com a infectologista, o vírus mpox não é facilmente transmissível. "Ele se espalha pelo contato direto e, portanto, em teoria, é relativamente fácil de detê-lo, desde que seja reconhecido." Koopmans informa que o aumento nas infecções na República Democrática do Congo não se deve somente à clade lb.
"Mais estudos são necessários para entender completamente a situação", diz a média, lamentando que, na região, a tipagem e o sequenciamento genético dos vírus não são feitas na maioria dos casos.
No Brasil, de 2022 a 2024, foram quase 12 mil casos confirmados e 366, com 66 suspeitos, sendo que 93% das notificações concentram-se no sexo masculino. Na terça-feira, o Ministério da Saúde realizou um seminário on-line para comentar a epidemiologia da mpox.
Segundo Draurio Barreira, diretor do Departamento de HIV/Aids, Hepatites Virais e Infecções Transmissíveis do MS, a média mensal de novas notificações no país varia de 40 a 50, um número "bastante modesto, embora não desprezível".