Pesquisadores da Universidade de York, no Reino Unido, utilizaram a série Game of Thrones para estudar sobre prosopagnosia, um tipo de cegueira na qual afeta a capacidade de reconhecer os rostos das pessoas. A condição afeta aproximadamente uma em casa 50 pessoas.
No estudo, os pesquisadores escanearam os cérebros de mais de 70 participantes enquanto eles assistiam cenas da série. Metade deles estava familiarizada com os personagens, enquanto a outra nunca tinha assistido.
Quando os personagens principais apareciam na tela, exames de ressonância magnética mostraram que, em participantes neurotípicos (ou seja, que não são afetados pela doença), a atividade cerebral aumentou em regiões do cérebro relacionadas ao conhecimento não visual sobre os personagens, como quem eles são e o que sabiam sobre eles.
As conexões entre o cérebro visual e essas regiões não visuais também aumentaram em pessoas que conheciam Game of Thrones. No entanto, essas ondas de atividade foram significativamente reduzidas no grupo de participantes neurotípicos que nunca assistiram à série.
Os cientistas decidiram repetir o experimento com pessoas com prosopagnosia, para determinar se essas regiões são importantes para o reconhecimento facial. Assim como no grupo anterior, metade já havia assistido a série a outra não.
Consistente com a dificuldade em reconhecer rostos, o efeito da familiaridade não foi encontrado nas mesmas regiões do cérebro encontradas em participantes neurotípicos. As conexões entre as regiões visuais e não visuais também foram reduzidas na cegueira facial.
O autor sênior do estudo, o professor Tim Andrews do Departamento de Psicologia, celebrou os resultados. "Ficamos realmente animados em ver os resultados do nosso estudo, pois eles sugerem que nossa capacidade de reconhecer rostos depende do que sabemos sobre as pessoas, não apenas de sua aparência", disse.
"Embora se acredite que reconhecemos rostos ao aprender suas propriedades visuais — como características, configuração e textura — nosso estudo indica que isso envolve conectar um rosto ao conhecimento sobre a pessoa, incluindo seus traços de caráter, linguagem corporal, nossas experiências pessoais com ela e nossos sentimentos em relação a ela", continuou.
Andrews explica que o reconhecimento facial é essencial para a vida diária e interações sociais. Ele afirma que as pessoas que lutam contra a doença podem passar por problemas de saúde mental e ansiedade social.
"Nossa pesquisa aprimora a compreensão de como a prosopagnosia parece estar ligada à redução de conexões neurais, tornando desafiador associar rostos ao conhecimento pessoal, o que é crucial para o reconhecimento", completou.
Kira Noad, principal autora do estudo e aluna de doutorado no Departamento de Psicologia, explicou a escolha de Game of Thrones para realizar a pesquisa: "Escolhemos mostrar aos participantes cenas de Game of Thrones porque a série cativou pessoas ao redor do mundo com seus personagens fortes e suas personalidades profundamente diferenciadas."
O estudo foi publicado na revista Cerebral Cortex.