Cogumelos

Cogumelos alucinógenos eram usados para cura espiritual na África há 8 mil anos

Até então, a única prova de que os povos africanos faziam uso da psilocibina estava em murais com mais de 8 mil anos

Pesquisadores da Universidade de Stellenbosch (África do Sul) documentaram pela primeira vez o uso de cogumelos alucinógenos em rituais de cura espiritual no continente africano. As cerimônias em questão acontecem em Lesoto, onde adivinhos indígenas e curandeiros espirituais utilizam o cogumelo Psilocybe maluti, descoberto na África do Sul em 2021.

Até então, a única prova de que os povos africanos faziam uso da psilocibina provinha de murais com mais de 8 mil anos, encontrados nas paredes de cavernas de Tassili, no deserto do Saara, que foram provisoriamente interpretados como se representassem cogumelos Psilocybe.

Junto com o Psilocybe ingeli — encontrado em 2023 em Cuazulo-Natal, província sul-africana —, as duas novas espécies elevaram para seis o número de cogumelos do gênero Psilocybe encontrados em África.

Conforme observado pelos pesquisadores, o uso do Psilocybe maluti no Reino de Lesoto é mais antigo do que parece, tendo sido "passado por meio de gerações".

O cogumelo é utilizado por dois tipos diferentes de xamãs Basotho: o "linohe", descrito como equivalente a um adivinho, que pode prever o futuro nas visões desencadeadas pelo alucinógeno; e o "ngaka-chitja", um curandeiro que realiza um chá com o P.maluti junto com outra planta alucinógena, produzindo uma bebida psicoativa potente conhecida como "seipone sa koae-ea-lekhoaba".

Durante os rituais, a bebida alucinante é consumida pelo paciente, "que depois é colocado em frente a uma superfície refletora e transmite as alucinações vistas no reflexo aos curandeiros, que as interpretam como respostas às questões espirituais do paciente".

"Este parece ser o único relato registrado em primeira mão da utilização tradicional de cogumelos alucinógenos em África e a primeira menção da utilização de cogumelos alucinógenos na África Subsaariana. O conhecimento partilhado e discutido neste estudo foi transmitido de geração em geração, de boca em boca", concluem os cientistas.

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