Envelhecer bem, com qualidade e vitalidade é um desejo frequente, no entanto um estudo liderado pela Harvard TH Chan School of Public Health, nos Estados Unidos, revelou que menos de 10% das pessoas chegam aos 70 anos sem doenças e com boa saúde física, cognitiva e mental. Mas há uma luz no fim do túnel, a pesquisa, apresentada congresso anual da Sociedade Americana de Nutrição, indicou que adotar uma dieta saudável, por volta dos 40 anos, considerada meia-idade, aumenta em até 84% as chances de viver a velhice com qualidade.
Para o ensaio, a equipe analisou dados de mais de 100 mil pessoas ao longo de três décadas. Os pesquisadores verificaram que indivíduos, que começaram a seguir uma dieta saudável a partir dos 40 anos, apresentaram uma probabilidade entre 43% e 84% maior de manter um bom funcionamento físico e mental aos 70 anos.
"Pessoas que seguiram padrões alimentares saudáveis na meia-idade, especialmente aqueles ricos em frutas, vegetais, grãos integrais e gorduras saudáveis, tiveram uma chance significativamente maior de envelhecer de forma saudável", reforçou, em nota Anne-Julie Tessier, pesquisadora na Harvard TH Chan School of Public Health e líder do ensaio.
Durval Ribas Filho, nutrólogo e endocrinologista, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) e Fellow da Obesity Society FTOS, nos Estados Unidos, frisa que a ingestão de alimentos com compostos bioativos funcionais — como frutas verduras e legumes — protege o organismo e beneficia a saúde. "Isso gera o retardo de processos oxidativos e processos que levam às doenças crônicas degenerativas são reduzidos. A alimentação é a base para que você tenha uma boa ingestão de antioxidantes que vão lhe proteger.
Equilíbrio
Embora comprovadas as vantagens de uma dieta equilibrada, a nova pesquisa foca no envelhecimento saudável, definido não apenas pela ausência de doenças, mas também pela capacidade de viver de forma independente e com boa qualidade.
Os cientistas avaliaram mais de 106.000 pessoas desde 1986. Os participantes, que tinham pelo menos 39 anos, sem doenças crônicas, forneceram informações sobre sua dieta a cada quatro anos. Em 2016, quase metade dos voluntários havia falecido, e apenas 9,2% chegou ou ultrapassou os 70 anos livres de problemas crônicos e com boa saúde geral.
A associação entre dieta de saúde planetária, focada em frutas, legumes e proteínas vegetais, e o bom envelhecimento não é uma surpresa. "O fato de ter se destacado como um dos principais padrões alimentares associados ao envelhecimento saudável é especialmente interessante, pois sugere que podemos adotar uma dieta que beneficia tanto a nossa saúde quanto o planeta", detalhou Tessier.
Dinah Ribeiro de Paula, nutróloga e coordenadora dos cursos de Medicina Integrativa e Nutrologia da Faculdade BWS Primum, ressalta que os principais desafios para uma boa alimentação estão relacionados à organização da dieta. Desde a compra de alimentos de boa qualidade até a preparação. O que dificulta também, é o acesso limitado a esses bons alimentos e a falta de entendimento da importância de uma dieta equilibrada."
Camila Lima, professora de nutrição do CEUB, explica que a dieta DASH, também avaliada no estudo, tem como maior objetivo é controlar doenças cardiovasculares. "Ela foi desenvolvida para prevenir e tratar essas questões, sendo especialmente relevante para a população idosa. A principal característica é o aumento do consumo de vegetais, frutas, cereais integrais, leguminosas e oleaginosas. Ela inclui proteínas, laticínios com baixo teor de gordura e é pobre em gorduras saturadas. Esses alimentos são ricos em potássio, magnésio, cálcio e fibras, nutrientes que ajudam a reduzir a pressão arterial e a controlar doenças cardiovasculares em geral."
Além disso, a dieta DASH tem mostrado benefícios no controle dos níveis de glicose, colesterol total e triglicerídeos. Estudos científicos em humanos indicam que esse estilo de alimentação pode retardar o envelhecimento do sistema nervoso central e melhorar a função cognitiva, reduzindo o risco de demência. Portanto, a dieta DASH é uma intervenção valiosa para promover um envelhecimento mais saudável.
Mudanças de hábitos
"A escolha da dieta é influenciada por fatores culturais, familiares, socioeconômicos, marketing, biológicos e fisiológicos. Seguimos padrões passados ao longo da nossa vida, algumas pessoas não têm hábito de comer hortaliças e frutas, de cozinhar, ou comem ultraprocessados em excesso. Mudar hábitos é sempre difícil. A alimentação saudável previne doenças crônicas e complicações, com menos tempo doente e menos exacerbações, mais saudável a longevidade. Além disso, as demências também são menos comuns em pessoas com boa alimentação."
Andrea Pereira, médica nutróloga, em São Paulo, e cofundadora do canal Longidade