ATENÇÃO AOS OLHOS

Acanthamoeba: infecção nos olhos pode levar a cegueira e não é tão incomum

Contaminação acontece por protozoário que se aloja entre os olhos e as lentes de contato

O mal uso da lente de contato, o que parecia inofensivo, se tornou coisa séria e  fez a dentista Nicole Géo perder a visão de um olho -  (crédito: Reprodução/Instagram)
O mal uso da lente de contato, o que parecia inofensivo, se tornou coisa séria e fez a dentista Nicole Géo perder a visão de um olho - (crédito: Reprodução/Instagram)

“Tudo começou com o uso de lentes de contato. Com o desejo de não precisar usar óculos, as lentes se tornaram minha escolha diária para enxergar melhor. Mas o que eu não sabia é que essa decisão tinha riscos, sobretudo quando não temos o cuidado necessário com o acessório. O mal uso, que parecia inofensivo, se tornou coisa séria e me fez perder a visão de um olho”.

Esse é o relato da dentista Nicole Géo, que foi diagnosticada com acanthamoeba, uma infecção grave nos olhos provocada por um protozoário capaz de destruir a córnea e causar cegueira. Mas esse não é o único testemunho sobre esse tipo de infecção no Brasil. Recentemente, um vídeo de outra jovem que também perdeu a visão de um olho pela doença viralizou nas redes sociais.

De acordo com o médico oftalmologista Leonardo Tibúrcio, a maioria dos diagnósticos da infecção acontecem em pacientes que são usuários de lentes de contato. “Hoje, cerca de 90% dos casos de ceratite por acanthamoeba que chegam no consultório são percebidos em usuários frequentes das lentes de contato. A principal causa disso é a má higienização dessas lentes, principalmente quando existe contato e armazenamento de água nos estojos”.  

Segundo Leonardo Tibúrcio, isso acontece porque o grande causador da infecção é um protozoário que vive na água. “Essa ameba entra em contato com a lente de algumas formas: quando lavamos a lente em água corrente ou quando usamos soluções não estéreis - ao invés de limpadores específicos estéreis - dentro do estojo de armazenamento. Outra possibilidade é quando existe o contato entre o protozoário e o usuário de lentes de contato na água - ao nadar, tomar sauna, etc. Acontece que, na verdade, as lentes não devem ter nenhum contato com água, e esse equívoco é o que propicia a infecção e o dano à córnea e ao globo ocular como um todo”, explica.

O médico, diretor do NEO Oftalmologia, localizado no bairro Vila da Serra, em Nova Lima, esclarece que a contaminação por acanthamoeba pode prejudicar a visão em vários níveis. “Existem casos em que conseguimos descobrir e iniciar o tratamento rapidamente, e outros em que o paciente já chega com a infecção agravada, sobretudo pela dificuldade de diagnóstico. A partir disso, começamos um longo tratamento com colírios. Para algumas pessoas, o dano causado pela enfermidade é irreversível, como aconteceu com a Nicole, que perdeu a visão de um olho. Mas há quem perca parte da visão, por exemplo, e alguns casos - raros - em que conseguimos reverter o quadro que pode levar à cegueira e preservar a visão do nosso paciente”, pontua Leonardo. 

Alternativa às lentes

Evitar usar lentes de contato é o meio mais eficaz para prevenir a acanthamoeba, principalmente em atividades que tenham contato com a água. Além disso, higienizar corretamente as lentes e o estojo de armazenamento são práticas fundamentais para manter a saúde dos olhos em dia. “Para quem não se adaptou aos óculos, não consegue ficar sem as lentes ou sabe que comete algum deslize no cuidado diário com elas, a melhor alternativa é a cirurgia refrativa (correção dos graus à laser). Durante o procedimento, conseguimos reduzir ou até mesmo corrigir, por completo, o grau do paciente que possui miopia, astigmatismo ou hipermetropia. É uma cirurgia indolor, segura e que proporciona mais liberdade ao paciente que quer se ver livre dos óculos”, recomenda o oftalmologista.

Para Nicole Géo, optar pela cirurgia refrativa em vez do uso de lentes de contato é uma escolha que poderia ter prevenido a cegueira. “Antes de ter acanthamoeba, cogitei por algumas vezes me submeter à cirurgia refrativa, mas por medo e pela correria do dia a dia acabei adiando esse momento. Se lá atrás eu tivesse feito a cirurgia, hoje não usaria óculos nem lentes e tampouco estaria enxergando apenas por um olho. Teria sido poupada de um grande sofrimento durante meu tratamento, quando fui medicada até mesmo com morfina”, declara.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 29/07/2024 23:46
x