A espécie de sapo Minervarya charlesdarwini, típica das ilhas indianas de Andamã e Nicobar, copula de cabeça para baixo em buracos de árvores — e, mais recentemente, no lixo. A descoberta foi realizada por um time de biólogos da Universidade de Delhi e do Serviço Zoológico da Índia, Universidade de Harvard e Universidade de Minnesota (EUA).
Conhecidos como os sapos de Charles Darwin, os animais pertencem à família Dicroglossidae, uma linhagem de anfíbios asiáticos que inclui mais de 220 espécies. Os charlesdarwini copulam e depositam os ovos acima da superfície da água, em buracos de árvores cheios de água ou nos contrafortes das raízes. Em seguida, os girinos nascem livres para nadar e se desenvolver.
A pose em que o par se reproduz, porém, é inédita. Tanto o macho, agarrado nas costas da companheira, quanto a própria fêmea se colocam verticalmente de cabeça para baixo das cavidades das árvores, com o corpo fora da água.
"Não se conhece nenhum outro anfíbio que ponha ovos terrestres dentro de buracos de árvores numa posição invertida. Esta descoberta é fundamental para compreender como a espécie interage com os seus ambientes e que habitats são essenciais para a sua sobrevivência", explica S.D Biju, professor da Universidade de Deli que liderou o estudo.
Há, ainda, outros detalhes únicos na reprodução dos charlesdarwini. A luta entre machos para conquistar uma fêmea pode chegar ao nível violento de mordidas, chutes e até mesmo decapitação do adversário.
Os machos produzem três sons diferentes para atrair as fêmeas, mas também produzem um som agressivo, para ameaçar os outros machos que queiram copular com a fêmea. Quando esse som não assusta os oponentes, a briga física começa.
Quando um macho consegue subir em uma fêmea, alguns machos podem inclusive tentar separá-los com chutes e empurrões. Para evitar ser atingida, a fêmea escala árvores, isso com o macho nas costas. Este fato sugere que o comportamento de botar ovos de cabeça para baixo pode ter evoluído como forma de evitar que machos agressivos deslocassem o par e perturbassem a desova.
A perda de hábitat e, consequentemente, a perda de locais para reprodução pode levar os sapos de Charles Darwin a se reproduzir em locais não naturais, como o lixo. A espécie pode não ser capaz de sobreviver por conta do domínio humano e da alteração das paisagens na ilha em que vivem.
“O fato de os sapos utilizarem o lixo para se reproduzir é surpreendente e preocupante. Precisamos agora [..] conceber formas de proteger os locais naturais de reprodução que são críticos para a sobrevivência da espécie”, ressalta Sonali Garg, bolsista de pós-doutorado em Biodiversidade do Museu de Zoologia Comparada de Harvard.
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