Cogumelos

Cogumelos alucinógenos eram usados para cura espiritual na África há 8 mil anos

Até então, a única prova de que os povos africanos faziam uso da psilocibina estava em murais com mais de 8 mil anos

Conforme observado pelos pesquisadores, o uso do Psilocybe maluti no Reino de Lesoto é mais antigo do que parece, tendo sido
Conforme observado pelos pesquisadores, o uso do Psilocybe maluti no Reino de Lesoto é mais antigo do que parece, tendo sido "passado por meio de gerações" - (crédito: van der Merwe, B., Rockefeller, A., Kilian, A., Clark, C., Sethathi, M., Moult, T., & Jacobs, K. (2024). A description of two novel Psilocybe species from southern Africa and some notes on African traditional hallucinogenic mushroom use. Mycologia, 1–14.)

Pesquisadores da Universidade de Stellenbosch (África do Sul) documentaram pela primeira vez o uso de cogumelos alucinógenos em rituais de cura espiritual no continente africano. As cerimônias em questão acontecem em Lesoto, onde adivinhos indígenas e curandeiros espirituais utilizam o cogumelo Psilocybe maluti, descoberto na África do Sul em 2021.

Até então, a única prova de que os povos africanos faziam uso da psilocibina provinha de murais com mais de 8 mil anos, encontrados nas paredes de cavernas de Tassili, no deserto do Saara, que foram provisoriamente interpretados como se representassem cogumelos Psilocybe.

Junto com o Psilocybe ingeli — encontrado em 2023 em Cuazulo-Natal, província sul-africana —, as duas novas espécies elevaram para seis o número de cogumelos do gênero Psilocybe encontrados em África.

Conforme observado pelos pesquisadores, o uso do Psilocybe maluti no Reino de Lesoto é mais antigo do que parece, tendo sido "passado por meio de gerações".

O cogumelo é utilizado por dois tipos diferentes de xamãs Basotho: o "linohe", descrito como equivalente a um adivinho, que pode prever o futuro nas visões desencadeadas pelo alucinógeno; e o "ngaka-chitja", um curandeiro que realiza um chá com o P.maluti junto com outra planta alucinógena, produzindo uma bebida psicoativa potente conhecida como "seipone sa koae-ea-lekhoaba".

Durante os rituais, a bebida alucinante é consumida pelo paciente, "que depois é colocado em frente a uma superfície refletora e transmite as alucinações vistas no reflexo aos curandeiros, que as interpretam como respostas às questões espirituais do paciente".

"Este parece ser o único relato registrado em primeira mão da utilização tradicional de cogumelos alucinógenos em África e a primeira menção da utilização de cogumelos alucinógenos na África Subsaariana. O conhecimento partilhado e discutido neste estudo foi transmitido de geração em geração, de boca em boca", concluem os cientistas.

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postado em 03/07/2024 18:32
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