Qualidade de Vida

Caminhadas frequentes reduzem dores na lombar, mostra estudo

O exercício frequente, conforme orientação de especialistas, diminui em mais de 40% os episódios de dores, melhora a qualidade do sono e do humor, além de beneficiar os sistemas respiratório e cardiovascular

Fazer caminhada regularmente dobra o tempo sem crises de dor em pacientes com problemas na lombar. É o que aponta um estudo da Universidade Macquarie, na Austrália, considerado pioneiro, publicado, recentemente, na revista The Lancet. De acordo com o trabalho, aproximadamente 800 milhões de pessoas no mundo sofrem com o problema, que é um dos principais motivos de incapacidade e piora da qualidade de vida.

O artigo destacou que episódios repetidos de dor lombar são muito comuns e acometem sete em cada dez pessoas que se recuperam de uma crise em menos de um ano. Atualmente, as abordagens mais utilizadas para prevenir e combater as lombalgias combinam exercícios e educação. Todavia, algumas atividades físicas não são acessíveis, pelos valores e também pela necessidade de supervisão. Agora, o ensaio clínico realizado pelo Grupo de Pesquisa em Dor Espinhal da Universidade Macquarie atestou que caminhar é uma intervenção eficaz e prática.

"Existe a crença de que proteger as costas é importante e que o movimento pode causar danos. Simplesmente não é verdade. Manter-se ativo dentro dos limites da dor e tentar manter sua rotina habitual da melhor forma possível resultará em uma recuperação mais rápida", reforçaram, ao Correio os autores principais do estudo, Mark Hancock, professor de fisioterapia da universidade, e Natasha Pocovi, doutora pela instituição.

A equipe acompanhou 701 adultos que estavam se recuperando de uma crise de dor lombar. Os voluntários foram divididos aleatoriamente para participar de um programa de caminhada e seis sessões educativas orientadas por fisioterapeutas durante seis meses, ou para ficarem no grupo de controle. Os cientistas acompanharam os participantes durante um a três anos.

Mark Hancock detalhou que as descobertas do ensaio podem ter um grande impacto em como a condição é tratada. Segundo ele, os voluntários que participaram do programa de caminhada tiveram menos episódios de dores limitantes e as crises ocorriam, em média, a cada 208 dias em comparação a 112 dias do grupo controle.

"A educação fornecida pelo fisioterapeuta buscou proporcionar aos participantes uma melhor compreensão da dor, reduzir o medo associado ao exercício e ao movimento, e gerou confiança para gerenciar a própria dor", detalhou Hancock ao Correio.

Conforme os cientistas, foi uma grande surpresa ver o quanto essa intervenção, considerada simples, impactou na vida das pessoas além da melhoria no manejo da dor lombar. "Conseguimos reduzir em mais de 40% a recorrência de dor lombar que exigiu cuidados médicos, também tivemos pacientes que relataram melhorias no sono, no humor, mudanças positivas no estilo de vida e melhor manejo de outras condições crônicas de saúde. Foi muito gratificante ver as implicações positivas para a saúde geral desta intervenção", frisaram.

Julian Machado, chefe da Ortopedia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, e diretor científico da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, divisão Distrito Federal, reitera que ao caminhar grande parte da musculatura é trabalhada. "Inclusive a que mantém o equilíbrio e a musculatura lombar, que mantém a ortostase, que é a posição em pé. Tudo isso é trabalhado enquanto se caminha."

Segundo o especialista, a caminhada também é benéfica para prevenir outros tipos de dor. Com a ativação muscular, são produzidas substâncias que previnem algumas condições, não apenas músculo-esqueléticas. "Prescrevemos atividade física como prevenção para pessoas que têm dor lombar, incluindo a caminhada. Há vantagens também para os sistemas respiratório e cardiovascular, melhora sintomas de depressão e ansiedade, pois também trabalha o sistema neurológico."

Nilo Carrijo, ortopedista especialista em coluna do Hospital Brasília, da rede Dasa no Distrito Federal, narra que em sua prática clínica nunca proíbe a caminhada ao lidar com doenças da coluna vertebral. "Assim como é considerado por Mark Hancock, a liberação de endorfinas e endocanabinoides é estimulada durante atividades que exijam esforço aeróbico, caminhadas, corrida ou ciclismo", diz ele.

Carrijo explica que essas substâncias ajudam no controle da dor independentemente de medicações. "Recomendo a manutenção (da caminhada), mas como o próprio estudo aponta, ainda é cedo para assumirmos a caminhada como método de prevenção de dor principal. O fortalecimento muscular continua sendo o padrão ouro no controle da dor lombar e na prevenção de novas crises."

Os pesquisadores agora pretendem explorar como integrar a abordagem preventiva nos cuidados de rotina de pacientes que convivem com a dor lombar recorrente.

Melhor opção

"Observamos que 80% das dores lombares estão associadas à limitação de mobilidade da articulação do quadril. Movimentar-se faz com que essa estrutura da lombar não seja prejudicada. A atividade física, em especial, a caminhada é a melhor opção para dores lombares. A caminhada tem a praticidade de poder ser feita em qualquer lugar. Se praticada ao ar livre, em horários próprios para se expor ao sol, ajuda ainda mais na regulação do ciclo circadiano e da harmonia do corpo. O ideal é caminhar de duas a três vezes por semana, entre 30 a 40 minutos, de preferência ao ar livre, sem utilizar equipamentos que causem sobrecarga no corpo."

Carlos Magno, fisioterapeuta da clínica IBPhysical, em Brasília

 

 

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Mais mobilidade

"Observamos que 80% das dores lombares estão associadas à limitação de mobilidade da articulação do quadril. Movimentar-se faz com que essa estrutura da lombar não seja prejudicada. A atividade física, em especial, a caminhada é a melhor opção para dores lombares. A caminhada tem a praticidade de poder ser feita em qualquer lugar. Se praticada ao ar livre, em horários próprios para se expor ao sol, ajuda ainda mais na regulação do ciclo circadiano e da harmonia do corpo. O ideal é caminhar de duas a três vezes por semana, entre 30 a 40 minutos, de preferência ao ar livre, sem utilizar equipamentos que causem sobrecarga no corpo."

Carlos Magno, fisioterapeuta da clínica IBPhysical, em Brasília