CUIDADO

Termas Romanas podem ser fonte natural antimicrobiana

Utilizadas por séculos para tratar diversas doenças, Termas Romanas em cidade britânica podem abrigar organismos com potencial antibiótico. Primeira fase do estudo detectou bons candidatos, dizem cientistas

Mundialmente famosas, as Termas Romanas da cidade de Bath, no Reino Unido, abrigam uma gama diversificada de microrganismos que podem ser críticos na luta global contra a resistência antibacteriana, sugere um artigo publicado na revista The Microbe. O estudo é o primeiro a fornecer um exame detalhado das comunidades bacterianas e arqueológicas encontradas nas águas da popular atração turística do Reino Unido. 

Os cientistas da Universidade de Plymouth recolheram amostras de água, sedimentos e biofilme em locais dentro do complexo dos Banhos Romanos, incluindo a Fonte do Rei (onde as águas atingem cerca de 45°C) e o Grande Banho, onde as temperaturas estão próximas dos 30°C. O material foi analisado usando tecnologia de sequenciamento de ponta e técnicas tradicionais de cultura foram empregadas para isolar bactérias com atividade antibiótica.

Cerca de 300 tipos distintos de bactérias foram isolados em todo o local dos Banhos Romanos — entre eles, os principais grupos candidatos, Actinobacteria e Myxococcota, conhecidos pela produção de antibióticos — com diferentes exemplos sendo mais proeminentes nas diferentes temperaturas da água.

Outros testes mostraram que 15 desses grupos isolados — incluindo exemplos de Proteobacteria e Firmicutes — apresentaram níveis variados de inibição contra patógenos humanos, incluindo E.coli, Staphylococcus Aureus e Shigella flexneri.

Sem precedentes

A pesquisa surge em um momento em que a necessidade de novas fontes de antibióticos atinge níveis sem precedentes. Estima-se que a resistência das bactérias aos medicamentos atualmente utilizados seja responsável por mais de 1,25 milhão de mortes globais todos os anos.

No estudo, os cientistas dizem que é necessária uma quantidade significativa de pesquisa adicional antes que os microrganismos encontrados nos banhos romanos possam ser aplicados na luta contra doenças e infecções em todo o mundo. Eles acrescentam que, o trabalho inicial mostrou que há um claro potencial para novos produtos naturais contidos nas fontes termais que podem ser exploradas para esse fim.

"Essa é uma pesquisa realmente importante e muito emocionante", avalia Lee Hutt, professor de Ciências Biomédicas na Universidade de Plymouth e autor sênior do estudo. "A resistência antimicrobiana é reconhecida como uma das ameaças mais significativas à saúde global, e a procura por novos produtos naturais antimicrobianos está ganhando ritmo", diz. 

Segundo Hutt, o estudo demonstrou, pela primeira vez, alguns dos microrganismos presentes nas Termas Romanas, revelando-as como uma fonte potencial de novas descobertas antimicrobianas. "Não há nenhuma ironia no fato de as águas dos Banhos Romanos serem há muito consideradas pelas suas propriedades medicinais e agora, graças aos avanços da ciência moderna, podemos estar prestes a descobrir que os romanos estavam certos."

Tratamentos

"As pessoas visitam as nascentes de Bath há milhares de anos, adorando, tomando banho e bebendo as águas ao longo dos séculos", acrescenta Zofia Matyjaszkiewicz, gerente de coleções dos Banhos Romanos e coautora do estudo.

Zofia Matyjaszkiewicz diz ainda que: "Mesmo no período vitoriano, o Centro de Tratamento Spa em Bath utilizava as águas naturais das nascentes pelas suas propriedades curativas em todos os tipos de duchas, banhos e tratamentos. É realmente emocionante ver pesquisas científicas de ponta como essa acontecendo aqui, em um local com tantas histórias para contar".

A pesquisa será expandida para que os cientistas aprofundem o estudo da fonte termal como potencial abrigo de produtos antimicrobianos. Prevista para começar em outubro, a nova fase aplicará uma variedade de técnicas para rastrear microrganismos encontrados nas Termas Romanas quanto à atividade antimicrobiana, para identificar quais podem ter potencial para uso clínico futuro.

As Termas Romanas recebem visitantes há quase dois milênios e, em 2023, mais de 1 milhão de pessoas visitaram suas fontes termais e outras coleções.

 


Mais Lidas

Problema global

A resistência antimicrobiana (RAM) é uma das principais ameaças globais à saúde pública e ao desenvolvimento. Estima-se que a RAM bacteriana foi diretamente responsável por 1,27 milhão de mortes globais em 2019 e contribuiu para 4,95 milhões de mortes. 

O uso indevido e excessivo de antibióticos em humanos, animais e plantas é o principal impulsionador do desenvolvimento de patógenos resistentes a medicamentos. A RAM afeta países de todas as regiões e em todos os níveis de rendimento.

Os fatores e as consequências são exacerbados pela pobreza e pela desigualdade, e os países de rendimento baixo e médio são os mais impactados. 

A RAM ocorre quando bactérias, vírus, fungos e parasitas não respondem mais aos medicamentos antimicrobianos. Como resultado, os antibióticos e outros remédios antimicrobianos tornam-se ineficazes, e as infecções ficam difíceis ou impossíveis de se tratar.

É um processo natural, que ocorre ao longo do tempo por meio de alterações genéticas em patógenos. O surgimento e a propagação são acelerados pela atividade humana, principalmente pelo uso indevido e excessivo de antimicrobianos para tratar, prevenir ou controlar infecções em humanos, animais e plantas.

Fonte: OMS