Espaço

Cientistas tentam amenizar efeitos da gravidade zero na imunidade humana

Exposição à quase zero no espaço fragiliza o organismo de forma semelhante ao que se passa com o processo do envelhecimento. Pesquisadores investigam a quercetina, uma substância, como alternativa para reverter danos

Astronautas testam os impactos da microgravidade, após missões alguns apresentam problemas de pele e infecções   -  (crédito: Nasa/Divulgação )
Astronautas testam os impactos da microgravidade, após missões alguns apresentam problemas de pele e infecções   - (crédito: Nasa/Divulgação )

Desde que os humanos começaram a explorar o que existe além da Terra, os astronautas têm enfrentado problemas de saúde devido às condições extremas que vivem em um voo espacial, incluindo a ausência de gravidade. Cientistas do Instituto Buck de Pesquisa Sobre Envelhecimento, nos Estados Unidos, revelaram como essas circunstâncias afetam as células do sistema imunológico. A extensa pesquisa foi divulgada na revista Nature Communications abordando os efeitos da microgravidade nas estruturas imunológicas.

"Demonstramos como a microgravidade simulada influencia as células imunológicas e como as mudanças na força afetam sua função ao nível celular", explicou, em nota, Daniel Winer, professor do instituto e um dos líderes da pesquisa.

Utilizando estruturas em microgravidade simulada e dados de voos espaciais, os pesquisadores analisaram como diferentes células imunológicas no sangue reagem à gravidade reduzida. O ensaio incluiu linfócitos e monócitos, fundamentais para a imunidade.

Os pesquisadores observaram os impactos da baixa gravidade no organismo humano durante viagens ao espaço. De acordo com o estudo, os astronautas enfrentam uma série de problemas imunológicos, como infecções e sensibilidade da pele, mesmo quando em voos de curta duração. Pesquisas anteriores identificaram que a função das células imunológicas é prejudicada pela microgravidade.

Semelhanças

Maria Helena Porter Fonseca, imunologista do Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo, destaca que o envelhecimento imunológico na Terra e as mudanças no sistema que ocorrem no espaço apresentam semelhanças.

"Ambos têm uma resposta imunológica mais fraca, dificultando a luta contra doenças e infecções. As células de defesa do corpo, como as células T e NK, não funcionam tão bem em ambas as situações", ressalta a médica, explicando sobre as funções das células natural killer (NK), da imunidade inata, e T, da que é a adquirida.

Explorando as mudanças causadas pela gravidade reduzida, a equipe examinou como 25 horas de microgravidade simulada afetam o sistema imunológico, usando amostras de 27 doadores humanos saudáveis com idades entre 20 e 46 anos. Para simular um ambiente quase sem força gravitacional, os cientistas cultivaram as células em um dispositivo desenvolvido pela agência espacial norte-americana, a NASA.

Ao avaliar as estruturas nas condições controladas, os pesquisadores utilizaram um conjunto de técnicas, incluindo sequenciamento e microscopia com alta qualidade. Eles, então, validaram as descobertas comparando os dados com outros estudos semelhantes.

"Curiosamente, as mudanças nas forças mecânicas parecem orquestrar a função das células imunitárias", frisa Winer. Depois de vários genes e vias bioquímicas que são afetadas pela microgravidade, a equipe verificou se era possível encontrar medicamentos ou suplementos específicos que protejam as células imunológicas. 

Para essa busca, foi utilizada a tecnologia de aprendizado de máquina desenvolvida por David Furman, professor do instituto e coautor do ensaio, que detecta mais de 2 milhões de interações entre genes, medicamentos e alimentos. 

Alternativa

Os cientistas identificaram dezenas de compostos potenciais e escolheram um, o pigmento vegetal quercetina — encontrado principalmente em cebolas roxas, uvas, frutas vermelhas, maçãs e frutas cítricas. A quercetina acabou revertendo aproximadamente 70% das alterações causadas pela falta de gravidade e protegeu as células.

Para a imunologista Porter Fonseca, estudar o envelhecimento no espaço pode ajudar os idosos na Terra. "Permite que os cientistas vejam rapidamente como o sistema imunológico muda e como corrigi-lo. Isso pode levar a novos tratamentos e estratégias para manter o sistema imunológico dos idosos forte, ajudando a combater melhor as doenças."

Maurício de Miranda Ventura, diretor do Serviço de Geriatria do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), em São Paulo, pondera que são dois ambientes completamente diferentes, o que dificulta  comparar o resultado de um local aplicando em outro. "Estudar as alterações imunológicas que ocorrem com os astronautas em órbita vai nos ajudar a entender o que acontece quando uma pessoa envelhecer em órbita. Não consigo ver a aplicabilidade clínica desses achados agora."

O médico afirma que o trabalho ajudará a definir caminhos para pesquisas futuras em mecanoimunologia e astroimunologia. "Oferece oportunidades para desenvolver contramedidas para manter a função celular normal no espaço", diz.

 Pedras galácticas

Pesquisadores de mais de 40 instituições de todos os continentes descobriram que os rins são significativamente afetados por missões espaciais, com a radiação galáctica causando danos permanentes que podem inviabilizar missões a Marte. Publicado na Nature Communications, o estudo é a maior análise já feita sobre a saúde renal em voos para fora da Terra, incluiu dados de astronautas comerciais e abordou os problemas de saúde causados pela prática desde a década de 1970.

Conforme o trabalho, a exposição à radiação espacial, como os ventos solares e a radiação, pode causar problemas de saúde, incluindo perda óssea e desenvolvimento de cálculos renais. O estudo mostra também que a microgravidade e os raios cósmicos podem remodelar os rins humanos e de animais, afetando o equilíbrio de cálcio e sal, mesmo após períodos curtos no espaço. Além disso, a exposição simulada de missões a Marte resultou em danos permanentes nos rins de ratos.

Para os pesquisadores, os resultados são preocupantes para missões a Marte, pois os danos renais podem comprometer a saúde dos astronautas durante viagens prolongadas. "Se não desenvolvermos novas formas de proteger os rins, eu diria que, embora um astronauta possa chegar a Marte, poderá necessitar de diálise no regresso",  frisou Keith Siew, primeiro autor do estudo e pesquisador da University College London, no Reino Unido.

Siew acrescentou que os rins demoram a mostrar sinais de danos causados pela radiação. "Quando isso se tornar aparente, provavelmente será tarde demais para evitar o fracasso, o que seria catastrófico para as chances de sucesso da missão", afirmou.

Pedras galácticas nos rins

Pesquisadores de mais de 40 instituições de todos os continentes descobriram que os rins são significativamente afetados por missões espaciais, com a radiação galáctica causando danos permanentes que podem inviabilizar missões a Marte. Publicado na Nature Communications, o estudo é a maior análise já feita sobre a saúde renal em voos para fora da Terra, incluiu dados de astronautas comerciais e abordou os problemas de saúde causados pela prática desde a década de 1970.

Conforme o trabalho, a exposição à radiação espacial, como os ventos solares e a radiação, pode causar problemas de saúde, incluindo perda óssea e desenvolvimento de cálculos renais. O estudo mostra também que a microgravidade e os raios cósmicos podem remodelar os rins humanos e de animais, afetando o equilíbrio de cálcio e sal, mesmo após períodos curtos no espaço. Além disso, a exposição simulada de missões a Marte resultou em danos permanentes nos rins de ratos.

Para os pesquisadores, os resultados são preocupantes para missões a Marte, pois os danos renais podem comprometer a saúde dos astronautas durante viagens prolongadas. "Se não desenvolvermos novas formas de proteger os rins, eu diria que, embora um astronauta possa chegar a Marte, poderá necessitar de diálise no regresso",  frisou Keith Siew, primeiro autor do estudo e pesquisador da University College London, no Reino Unido.

Siew acrescentou que os rins demoram a mostrar sinais de danos causados pela radiação. "Quando isso se tornar aparente, provavelmente será tarde demais para evitar o fracasso, o que seria catastrófico para as chances de sucesso da missão", afirmou.

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    20240606 Created Foto: AFP - NASA
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Astronautas americanos no espaço
    Astronautas americanos no espaço Foto: ROBERT MARKOWITZ NASA-JSC
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postado em 12/06/2024 06:00
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