Apesar de atualmente ser considerada o melhor tratamento para lidar com uma série de sintomas relacionados à menopausa, como os fogachos, a terapia de reposição hormonal ainda é enxergada com receio por pacientes e médicos devido a riscos que, hoje, sabe-se que são infundados, segundo o ginecologista, membro da North American Menopause Society (NAMS), da International Menopause Society (IMS) e associado à Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Igor Padovesi.
“Muitas pessoas acreditam que a reposição hormonal aumenta o risco de problemas como câncer de mama, acidente vascular cerebral e doença arterial coronariana. Isso se deve principalmente a estudos realizados no final da década de 1990 e início dos anos 2000 que, devido a várias falhas metodológicas, chegaram a conclusões incorretas sobre os efeitos dessas terapias no organismo que até hoje afastam médicos e pacientes desse tipo de tratamento, apesar de múltiplos estudos mais modernos já terem apresentado evidências contrárias”, diz o especialista.
Mas, agora, um novo estudo de larga escala realizado com dados de 10 milhões de mulheres mostrou que a terapia de reposição hormonal na menopausa é segura mesmo em idades avançadas e inclusive reduz o risco de mortalidade por diversas causas. “Tudo depende do tipo, dose e via de administração desses hormônios. Os estudos antigos que mostravam aumento de risco foram realizados com hormônios sintéticos e por via oral, diferente da terapia hormonal preconizada atualmente”, ressalta Igor.
O levantamento, publicado em abril no Journal of The Menopause Society, concentrou-se especialmente em estudar os efeitos da terapia de reposição hormonal em mulheres menopausadas após os 65 anos, um assunto ainda mais controverso. “Por muito tempo, continuar a terapia hormonal da menopausa além dos 65 anos era desencorajado, tanto por um desbalanço na relação benefício-risco, quanto pela crença de que os sintomas da queda de estrogênio não persistiam após essa idade. Mas hoje temos evidências crescentes de que, em alguns casos, esses sintomas podem persistir por muitos anos, então continuar com a terapia hormonal pode ser uma opção com aconselhamento adequado e avaliação regular dos riscos e benefícios. As diretrizes mais recentes, inclusive, já afirmam que não existe uma regra geral para interromper a terapia hormonal em determinada idade e a decisão de continuar com o tratamento deve ser individualizada”, explica o médico. Ao todo, o estudo inclui dados de mais de 10 milhões de mulheres com mais de 65 anos que realizaram terapia de reposição hormonal entre 2007 e 2020.
Os pesquisadores também buscaram avaliar especificamente os impactos na saúde de diferentes tipos, doses e vias de administração dos hormônios, já que as informações sobre o assunto são escassas. Com base nos dados coletados foi possível concluir que, em comparação com mulheres que nunca usaram hormônios ou descontinuaram o tratamento antes dos 65 anos, aquelas que utilizaram monoterapia de estrogênio além dessa idade apresentaram redução significativa na mortalidade e no risco de insuficiência cardíaca, fibrilação atrial, infarto do miocárdio, demência, tromboembolismo venoso e câncer de mama, de pulmão e colorretal. Em contrapartida, o uso combinado de estrogênio e progestagênio mostrou um pequeno aumento no risco de câncer de mama, mas tais riscos podem ser mitigados com a administração transdérmica ou vaginal de menores doses de progesterona natural, que também resultou em uma diminuição significativa dos riscos de tromboembolismo venoso, insuficiência cardíaca, doença cardíaca isquêmica e câncer do endométrio e do ovário. “Então, para maior redução de riscos especialmente em idades mais avançadas, o estudo sugere que a terapia hormonal seja realizada com doses menores de hormônios, preferencialmente bioidênticos, e com o estrogênio administrado por via não oral”, resume Igor.
Como os dados foram coletados do Medicare, seguro de saúde gerido pelo governo dos Estados Unidos, os pesquisadores ainda ressaltam que o acompanhamento só começou quando essas mulheres efetivamente entraram no sistema por volta dos 65 anos. Mas o mais provável é que tenham iniciado a terapia hormonal anos antes e continuaram a realizá-la após entrarem no Medicare, o que reforça ainda mais a recomendação de que quanto antes a terapia hormonal for iniciada, melhor. “Sabemos que o ideal é iniciar a terapia hormonal da menopausa na fase de transição menopausal, que pode começar cinco a dez anos antes da última menstruação da mulher. É nesse momento que surgem os primeiros sintomas e iniciar a terapia hormonal nesse período ajuda a diminuir riscos e maximizar benefícios”, diz o especialista em menopausa.
De acordo com Igor Padovesi, estudos como esse são de extrema importância para conscientizar a população sobre a segurança do tratamento e mostrar que existe uma opção eficaz e com grandes benefícios não só para melhorar o bem-estar e qualidade de vida das mulheres na menopausa, mas também reduzir o risco de doenças e aumentar a longevidade. “Mas é importante ressaltar que, apesar de segura, a terapia de reposição hormonal ainda é um tratamento médico que deve ser prescrito por um especialista. Ainda que seja indicada para a grande maioria das mulheres, existem exceções. Contraindicações incluem sangramento vaginal inexplicado, predisposição a tromboembolismo e histórico de doença coronária arterial, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral ou câncer sensível a estrogênio, incluindo o câncer de mama. Então, o mais importante é buscar um ginecologista especialista no assunto para passar por uma avaliação e, se indicada, realizar a terapia de reposição hormonal com o devido acompanhamento, assim garantindo a segurança e eficácia do tratamento”, recomenda.
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