Varíola dos macacos

Varíola dos macacos: nova pesquisa pode ajudar a explicar transmissão sexual da doença

Por meio de análise genômica, o estudo identificou uma linhagem do vírus distinta da que tipicamente circula na região

As erupções são dolorosas e se parecem às lesões típicas da varíola dos macacos
 -  (crédito:  CDC/Reprodução)
As erupções são dolorosas e se parecem às lesões típicas da varíola dos macacos - (crédito: CDC/Reprodução)

Um tipo de vírus de varíola dos macacos que circula na África Central ganhou a habilidade de se transmitir também sexualmente, afirma uma pesquisa ainda não revisada por pares. Por meio de análise genômica, o estudo identificou uma linhagem do vírus distinta da que tipicamente circula na região.

Até o ano passado, esse tipo de vírus de Monkeypox, chamado de Clade I, tinha como principal via contaminação os roedores. Havia poucos casos em que a transmissão ocorria por contato com outras pessoas e, mesmo nesses, a contaminação não era por relação sexual.

A pesquisa foi publicada neste mês no medRxiv, site criado por uma laboratório de Yale e que divulga estudos ainda não revisados. Por isso, as conclusões dos artigos publicados na plataforma ainda não devem ser usadas para guiar práticas clínicas ou comportamentos relacionados à saúde.

No artigo, os autores do artigo pontuam a semelhança da evolução do Clade I com o tipo de vírus que levou à explosão de varíola dos macacos no mundo em 2022.

Os pesquisadores coletaram dados de vigilância e registros hospitalares na República Democrática do Congo, localizada na África Central, entre outubro de 2023 e janeiro de 2024. No ano passado, um surto de varíola dos macacos explodiu na região mineradora de Kamituga localizada no Congo. A área é densamente povoada, com população que ultrapassa os 240 mil habitantes.

Dos 241 casos suspeitos de varíola do macaco da região, 108 se confirmaram. Desses, 29% eram relacionados a profissionais do sexo, "destacando o contato sexual como um modo chave de infecção", diz o artigo.

Outras evidências que apontam para contaminação por sexo são a idade dos pacientes. Em Kamituga, a maioria dos indivíduos afetados eram adolescentes e jovens adultos, o que contrasta com outros surtos da doença na República Democrática do Congo, em que a maior parte dos pacientes são crianças abaixo dos 15 anos de idade.

Além disso, registros hospitalares indicaram que a maioria dos casos suspeitos apresentavam lesões genitais compatíveis com vírus.

Os pesquisadores afirmam que há indícios de que a nova linhagem, provavelmente, já existia na região, mas contaminava animais não humanos.

Existem dois tipos de vírus da varíola dos macacos: o da África Ocidental, chamada de Clade II, e o da Bacia do Congo (África Central), chamada de Clade I. Um dos pontos em que os dois tipos se diferenciam é a gravidade da doença. Enquanto a mortalidade do Clade II é de 4%, o do Clade I é de 11%.

Historicamente, 95% dos casos de varíola dos macacos foi de responsabilidade do Clade I. Mas, em 2017, um grande surto do tipo Clade II surgiu na Nigéria. Análises genômicas sugerem que a mutação que permitiu a transmissão de humanos para humanos, principalmente, por via sexual, surgiu em 2015.

O vírus que provocou os surtos de varíola dos macacos em 2022 e fez a Organização Mundial de Saúde declarar emergência global de saúde vem da África Ocidental. Na época, 90% dos casos registrados tiveram transmissão por contato sexual.

Apesar dos vírus Clade I não serem conhecidos pela contaminação entre seres humanos, um estudo publicado em 2023 na revista Centers for Disease Control and Prevention registrou pela primeira vez a transmissão sexual desse tipo.

Acesse o estudo no medRvix.

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postado em 26/04/2024 01:13 / atualizado em 26/04/2024 01:13
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