Amplamente prescritos para sintomas comportamentais e psicológicos em pessoas com demência, os antipsicóticos estão associados, nesses pacientes, a riscos elevados de efeitos adversos. Segundo um estudo publicado na revista The British Medical Journal (BMJ), entre os desfechos negativos, incluem-se acidente vascular cerebral, coágulos sanguíneos, ataque cardíaco, insuficiência cardíaca, fratura, pneumonia e lesão renal aguda.
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Os autores, liderados pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, argumentam que, apesar das preocupações de segurança, os antipsicóticos são muito receitados para tratar, em pacientes de demência, sintomas como apatia, depressão, agressão, ansiedade, irritabilidade, delírio e psicose. Eles destacam que há evidências anteriores de risco aumentado de acidente vascular e morte.
Com dados oficiais de cuidados hospitalares e mortalidade do Reino Unido, os pesquisadores identificaram 173.910 pessoas com demência (idade média de 82 anos) entre janeiro de 1998 e maio de 2018, que não haviam recebido prescrição de um antipsicótico no ano anterior ao diagnóstico. Cada um dos 35.339 pacientes medicados com essa classe de remédios depois da identificação do transtorno cognitivo foi comparado com até 15 indivíduos com o mesmo problema, mas que não haviam usado essas drogas.
Os antipsicóticos mais prescritos foram risperidona, quetiapina, haloperidol e olanzapina, que juntos representaram quase 80% de todas as prescrições. Excluindo fatores potencialmente influentes, como estilo de vida e condições médicas pré-existentes, o uso desses medicamentos foi associado a risco aumentado para todos os desfechos estudados, exceto arritmia ventricular.
Pneumonia
Nos primeiros três meses de tratamento, as taxas de pneumonia, por exemplo, foram 4,48% entre os usuários de antipsicóticos, contra 1,49% dos não usuários. Em um ano, esse percentual subiu para 10,41% e 5,63%, respectivamente. Os riscos também foram elevados para lesão renal aguda (1,7 vez), acidente vascular cerebral e tromboembolismo venoso (1,6 vez).
Segundo os autores, para quase todos os resultados, os riscos foram mais elevados durante a primeira semana de tratamento antipsicótico. "Nos últimos anos, tornou-se claro que mais pessoas com demência recebem medicamentos antipsicóticos, apesar dos avisos de segurança regulamentares existentes", destaca Darren Ashcroft, pesquisador da Universidade de Manchester e principal autor do estudo.
"É importante que quaisquer benefícios potenciais do tratamento antipsicótico sejam cuidadosamente avaliados em relação ao risco de danos graves, e os planos de tratamento precisam ser revistos regularmente em todos os ambientes de saúde e cuidados", destaca Ashcroft.
Os autores ressaltam que, por ser um estudo observacional, não é possível tirar conclusões sobre causa e efeito. Porém, observam que os dados utilizados são confiáveis e extensos.
"Os medicamentos antipsicóticos são usados para tratar sintomas comportamentais graves e angustiantes em pessoas com demência quando outros tratamentos foram tentados, sem sucesso", destaca Robert Howard, professor de psiquiatria geriátrica da Universidade College London, no Reino Unido, que não participou do estudo. "Todos nós, que prescrevemos nessa situação, devemos estar conscientes dos riscos do tratamento. O início do uso só deve ocorrer sob supervisão especializada, com envolvimento de pacientes e familiares bem informados sobre os riscos."
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