SAÚDE

Musicoterapia pode fazer mal à saúde se não for regulamentada

Se não realizada por um profissional capacitado, a música pode causar danos aos pacientes. A regulamentação da profissão aguarda sanção presidencial

"Há um grande público autista que tem uma sensibilidade imensa que, se não souber tratar com música, pode aumentar a estereotipia", contou a presidente da União Brasileira das Associações de Musicoterapia (Ubam), Marly Chagas - (crédito: Acervo pessoal de Marly Chagas)

A música tem o poder não apenas de entreter, mas também de curar. Nos momentos de estresse, muitos de nós recorremos à música como uma fonte de conforto. No entanto, o que poucos percebem é que a música vai além de apenas uma distração agradável, ela pode ser uma ferramenta terapêutica, na chamada musicoterapia. A técnica emerge como um recurso terapêutico para promover a saúde e superar dificuldades físicas, mentais e emocionais.

Um dos pilares da musicoterapia é a compreensão das necessidades específicas dos pacientes. Não se trata apenas de ouvir músicas para aliviar o estresse. É uma prática clínica e terapêutica que busca ajudar pacientes por meio da expressão musical. “As pessoas falam ‘Eu adoro ouvir música quando estou estressado’, esse é um efeito popular que acontece. A frase ‘Quem canta seus males espanta’ nunca esteve tão errada. Em uma ação clínica, não se pode espantar os males com a música. Deve-se enfrentá-los”, disse a presidente da União Brasileira das Associações de Musicoterapia (Ubam), Marly Chagas.

A música pode ter efeitos negativos se não for administrada adequadamente por um profissional treinado, por isso requer uma preparação séria e competente. Uma abordagem inadequada pode não apenas falhar em alcançar os resultados desejados, mas também causar desconforto ou até mesmo danos aos pacientes. Ao Correio, Marly explicou os riscos associados à falta de regulamentação.

“As pessoas pensam que a música só faz bem, mas não é verdade. Precisamos ter um profissional musicoterapeuta capacitado para exercer essa função de tratar a pessoa com a música, tanto nas questões de saúde quanto da vulnerabilidade social. É importante conscientizar o poder executivo que não é qualquer pessoa que pode fazer musicoterapia”.

Desde a reabilitação física até o tratamento de condições neurológicas como Parkinson e Alzheimer, a musicoterapia pode ser utilizada. Para muitos idosos, pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e aqueles com dificuldades de aprendizagem, a musicoterapia funciona como porta de entrada para a comunicação.

Regulamentação

Recentemente, o Projeto de Lei 6.379/2019, que visa regulamentar a profissão de musicoterapeuta, foi aprovado pelo Senado Federal e está agora aguardando a sanção presidencial. Assim, os profissionais da área precisarão de formação adequada para oferecer o tratamento. Atualmente, há poucas instituições que ofertam o curso profissionalizante, com apenas três em universidades federais, um em uma universidade estadual e três em instituições particulares

“A constituição garante regulamentar algo que faz mal se não for regulamentado, seja a saúde ou social. A música faz mal. O som faz mal. Há um grande público autista que tem uma sensibilidade imensa que, se não souber tratar com música, pode aumentar a estereotipia”, afirmou a presidente da Ubam.

*Estagiária sob a supervisão de Talita de Souza

 

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 05/04/2024 19:42
x