Saúde

Obesidade afeta reprodução, apontam estudos

Estudos mostram que, em mulheres e homens, excesso de gordura corporal diminui chances de concepção. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 1 bilhão de pessoas estão com IMC alto

Disfunções metabólicas, doenças cardiovasculares e câncer são algumas das comorbidades mais associadas à obesidade, um problema que afeta 1 bilhão de pessoas globalmente. Porém, a fertilidade também é afetada pelo excesso de gordura corporal, tanto em mulheres quanto em homens, demonstram pesquisas recentes.

Considerando que o número de crianças e adolescentes com índice de massa corporal (IMC) acima de 30 — o que caracteriza o grau 1 de obesidade — aumentou quatro vezes desde 1990, é possível que as novas gerações tenham mais dificuldades para conceber, segundo estudos. "Foi demonstrado que o risco de infertilidade é três vezes maior em mulheres obesas, e várias pesquisas indicam que elas precisam de mais tempo para engravidar", diz um artigo da Universidade de Bari, na Itália, publicado na revista Reproductive Biology and Endocrinology.

Uma série de fatores pode provocar a infertilidade em mulheres, incluindo disfunção ovulatória e endometriose. Porém, entre 20% e 30% dos casos não encontra explicação no aparelho reprodutor, sugerindo que o estilo de vida — IMC, tipo de alimentação, prática de atividade física, estresse — impactam negativamente na capacidade de conceber, como destacou um artigo da Escola de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos.

A associação entre IMC e concepção também é observada entre os homens. Segundo Fernando Prado, especialista em reprodução humana, membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva e diretor clínico da Neo Vita, em São Paulo, aqueles com 20kg acima do peso considerado saudável têm 10% mais risco de serem inférteis.

"Quanto maior o índice de massa corporal de um homem, mais chances de a sua contagem de espermatozoides ser baixa, com pior qualidade do esperma e baixa motilidade", diz Prado. "A própria gordura que fica entre as coxas esquenta os testículos, prejudicando a produção de espermatozoides", destaca o especialista em reprodução humana.

Volume

Na Itália, pesquisadores da Universidade de Catânia descobriram que jovens com excesso de peso tendem a apresentar volume testicular mais baixo, aumentando o risco de infertilidade na idade adulta. Entre homens, observa o artigo, os casos do distúrbio reprodutivo sem explicação são ainda maiores do que nas mulheres: até 70%. Os cientistas, da Unidade de Endocrinologia Pediátrica da instituição, resolveram investigar se a obesidade poderia se associar, de alguma forma, ao problema.

Eles avaliaram 268 crianças e adolescentes, de 2 a 18 anos, atendidos na unidade, para controle de peso corporal. Os pesquisadores coletaram dados sobre volume testicular, idade, índice de massa corporal e resistência à insulina nesses participantes.

Descobriu-se que meninos com peso normal tinham volume testicular 1,5 vez maior, em comparação com aqueles com sobrepeso ou obesidade. Naqueles com níveis de insulina normais, era de 1,5 a duas vezes mais elevado, em relação às crianças com resistência ao hormônio.

Como um menor volume testicular prevê uma produção mais baixa de espermatozoides na idade adulta, os pesquisadores acreditam que a perda de peso pode ajudar os pacientes a evitar a infertilidade mais tarde. "Especulamos que um controle mais cuidadoso do peso corporal na infância poderia representar uma estratégia de prevenção para manter a função testicular mais tarde na vida", destaca Rossella Cannarella, uma das autoras do artigo, publicado no European Journal of Endocrinology.

Melhora

O estudo italiano vai ao encontro de descobertas de pesquisadores da Universidade de Copenhague e do Hospital Hvidovre, na Dinamarca. Eles constataram que, ao perder peso, homens com obesidade melhoram a qualidade do sêmen. Em média, os participantes eliminaram 16,5kg, o que aumentou a concentração e a contagem de espermatozoides em 50% e 40%, respectivamente, oito semanas depois do emagrecimento.

Os participantes tinham de 18 a 65 anos e, no início do estudo, índice de massa corporal entre 32 e 43. Eles foram acompanhados por 52 semanas após o emagrecimento. Um ano depois, aqueles que continuaram em forma tiveram o dobro de espermatozoides na contagem, comparado ao começo da pesquisa. Porém, os que recuperaram a gordura extra perderam os benefícios.

"Foi surpreendente para nós que uma melhoria tão grande pudesse ser demonstrada na qualidade do sêmen em conexão com a perda de peso", reconhece Signe Torekov, professor da Universidade de Copenhague e líder do estudo, publicado na revista Human Reproduction. De acordo com ele, o emagrecimento pode ser uma estratégia de combate à infertilidade, já que a maior contagem de espermatozoides está associada a uma concepção mais rápida.

 


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