Espécies exóticas invasoras (EEI) causam um prejuízo anual de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões à economia. Um relatório divulgado pela a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) apontou que há, no país, 476 EEIs, sendo 268 animais e 208 plantas e algas. A maioria é nativa da África, da Europa e do Sudeste asiático, e entra no Brasil principalmente devido ao comércio ilegal.
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Animais como tilápia, javali, sagui e búfalo, e plantas como mamona e amendoeira-da-praia, são considerados invasores, ou seja, estão fora de sua área de distribuição natural, e chegaram ao país de forma intencional ou acidental. Embora nem sempre a presença de espécies importadas seja um problema, o relatório mostra que os prejuízos são maiores: foram identificadas 1.004 evidências de impactos negativos e 33 de positivos.
Segundo o documento, produzido por 73 autores líderes, 12 colaboradores e 15 revisores de 40 instituições de pesquisa e órgãos públicos, se o cenário socioeconômico atual for mantido, a tendência é de um aumento entre 20% e 30% de invasões biológicas até o fim do século.
O prejuízo com os impactos negativos — que vão de limpeza de crustáceos em usinas hidrelétricas a estratégias de saúde pública para combater doenças causadas por mosquitos invasores — chegou a US$ 105 bilhões entre 1984 e 2019.
"Invasões biológicas geram graves impactos negativos à biodiversidade, aos produtos ecossistêmicos e afetam sobremaneira a saúde e a economia", resumiu, no lançamento do relatório, em São Paulo, Mário Luis Orsi, professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) um dos coordenadores do estudo.
Cálculo
Orsi destacou que faltam estudos científicos sobre os impactos das invasões biológicas no país — um cálculo que só pode ser feito a longo e médio prazo. "A dimensão dos impactos negativos é, provavelmente, muito maior do que imaginamos. No nosso relatório, 239 das espécies invasoras provocaram mais de mil impactos negativos. Os 33 impactos positivos foram todos pontuais e de curta duração."
Os autores do relatório apontam a necessidade urgente de tomadores de decisões adotarem medidas para retirar as espécies invasoras dos ambientes aos quais não pertencem. "Nem as áreas mais preservadas estão imunes à invasão. São encontradas espécies invasoras em 30% das unidades de conservação no país", lembrou Andrea Junqueira, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e também coordenadora do estudo. Sobre os animais domésticos, como cães e gatos, os pesquisadores ressaltam que não provocam prejuízos ambientais, desde que não sejam abandonados.
"Invasões biológicas são processos de baixa previsibilidade e alto risco. A inação, assim como a demora na ação, leva ao agravamento de invasões biológicas e de impactos negativos com o passar do tempo", diz o relatório. Os pesquisadores destacam que a erradicação deve ocorrer nas fases iniciais da invasão e, quando isso não é possível, é necessário ao menos controlar a expansão das espécies.
Demora
Um exemplo da falta de ação, com impactos negativos, é o capim-annoni (Eragrostis plana), gramínea nativa do sul da África, introduzida no Rio Grande do Sul na década de 1950 como contaminante. A espécie foi disseminada e a venda só foi proibida pelo Ministério da Agricultura no fim da década de 1970. "Esse tempo de inação foi suficiente para que o capim-annoni se tornasse a espécie exótica invasora de maior abrangência no bioma Pampa, ocupando mais de 2 milhões de hectares no Brasil, excluindo espécies nativas por competição e diminuindo a biodiversidade e a qualidade de pastagens nativas", destaca o documento.
Segundo a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, embora sejam necessárias ações, o Brasil já tem estrutura legal e conhecimento técnico suficientes para aumentar a prevenção e o controle de invasões biológicas. Além da Constituição Federal, convenções internacionais das quais o país é signatário são a base do arcabouço jurídico, que também inclui leis estaduais e municipais sobre o tema.
O grupo de pesquisadores recomenda a publicação de listas das espécies exóticas invasoras. "As listas são fundamentais e sem elas fica difícil e quase ineficaz qualquer planejamento de ações de manejo. Portanto os estados que têm suas listas já estão um passo à frente", diz Orsi.
Interferência humana
Quase 500 espécies exóticas invadiram ecossistemas brasileiros e estão presentes em 30% das unidades de conservação do país. Há mais registros em áreas degradadas e com maior interferência humana.
Espécies:
*198 plantas terrestres, 6 algas marinhas e 4 plantas aquáticas
* 126 peixes, 36 artópodes, 24 mamíferos, 18 moluscos, 64 de outros grupos
Exemplos:
* Águas continentais: tucunaré, piranha, mexilhão-dourado
* Ecossistemas marinhos: peixe-leão, coral-sol, alga verde
* Ecossistemas terrestres: cão doméstico, cavalo, búfalo, mamona, abelha-africana, algodão-de-seda
* Ecossistemas antrópicos: mosquito da dengue, carpa, pirarucu, caramujo e lagarta
Fonte: Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES)
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