O envelhecimento provoca mudanças significativas na pele, que perde a elasticidade à medida que a idade avança. Essas mesmas alterações não são apenas estéticas, mostra um estudo do Centro de Câncer Johns Hopkins Kimmel, nos Estados Unidos. O artigo, publicado na revista Nature Aging, sugere que o mecanismo por trás da rigidez da derme também tem relação com um risco maior de melanoma metastático em idosos.
Segundo os autores, a perda de elasticidade na pele envelhecida aumenta a liberação de uma proteína chamada Icam1. Níveis aumentados dessa substância estimulam o crescimento dos vasos sanguíneos no tumor, ajudando-o a crescer. Também os torna permeáveis, permitindo que as células tumorais escapem e se espalhem por todo o corpo com mais facilidade.
"À medida que envelhecemos, a rigidez da nossa pele muda", explica Ashani Weeraratna, diretora associada de pesquisa laboratorial no Centro de Câncer Kimmel e professora de oncologia na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins. "Isso não só tem implicações físicas, mas também pode levar ao aumento do crescimento de novos vasos sanguíneos ou à interrupção da função dessas estruturas", diz.
Letal
O melanoma é a forma mais letal de câncer de pele, segundo a Fundação de Pesquisa do Melanoma. Em 2024, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) prevê quase 9 mil novos casos, o que corresponde a 4,13 em cada 100 mil habitantes. Pacientes mais velhos têm maior probabilidade de desenvolver a doença do que os mais jovens
Além disso, o risco de morte é maior. Segundo Weeraratna, os idosos apresentam mais recorrências após o tratamento e seus tumores têm maior probabilidade de se espalhar ou metastatizar para outras partes do corpo.
O laboratório de Weeraratna concentra-se em como as mudanças relacionadas à idade ajudam os tumores de melanoma a se espalharem e a resistirem às terapias contra o câncer. Pesquisas anteriores da equipe mostraram que uma proteína chamada Hapln1 ajuda a manter a estrutura da matriz extracelular, uma rede de moléculas e minerais que fornecem suporte estrutural, para manter a pele flexível. À medida que as pessoas envelhecem, libertam menos quantidades da substância, o que provoca o enrijecimento da pele.
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Redução
O novo estudo mostra que a redução do Hapln1 aumenta indiretamente os níveis da proteína Icam1, causando enrijecimento, o que altera a sinalização celular. A elevação da substância contribui para a angiogênese, ou o crescimento de novos vasos sanguíneos que fornecem nutrientes aos tumores e os ajudam a crescer.
Os vasos sanguíneos também apresentam vazamentos, tornando mais fácil para as células tumorais escaparem do local inicial do tumor e se espalharem para áreas distantes do corpo.
Em ratos mais velhos com melanoma, o tratamento com medicamentos que bloqueiam o Icam1, no entanto, previne essas alterações, diminuindo os tumores e reduzindo as metástases, demonstrou a pesquisa de Weeraratna. A equipe, agora, estuda atividades da proteína para desenvolver formas mais precisas de atingi-la com drogas, o que poderá levar a novas abordagens para o tratamento de pessoas idosas com esse tipo de câncer de pele.
Abordagens
As descobertas também podem levar a novas abordagens para o tratamento de outros cânceres relacionados com a idade. Terapias anteriores direcionadas a fatores de crescimento que contribuem para a angiogênese falharam em muitos tipos de tumores, incluindo o melanoma. Mas o Icam1 proporciona um novo alvo promissor, acreditam os pesquisadores.
"Sabemos que a angiogênese relacionada com a idade é importante em muitos tipos de cânceres e em vários aspectos da saúde e da doença", diz Weeraratna, que também é presidente de bioquímica e biologia molecular na Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg. "Encontrar uma nova maneira de atingir isso em diferentes tipos de tumor pode ter um grande impacto."
Além disso, a pesquisadora diz que aprender mais sobre o Icam1 pode ter implicações importantes para a compreensão da cicatrização de feridas em idosos. A angiogênese é essencial nesse processo não apenas na pele, mas também no sistema cardiovascular e no cérebro. "Como resultado, as descobertas do laboratório poderão ter implicações importantes para a compreensão das alterações relacionadas com a idade que podem contribuir para doenças cardiovasculares ou acidentes vasculares cerebrais", acredita.
Saiba Mais
Fatores de risco
Como os outros tipos de câncer de pele, o melanoma pode ser prevenido evitando-se a exposição ao sol no horário das 10h às 16h, quando os raios são mais intensos. Os fatores de risco são:
* Exposição prolongada e repetida ao sol (raios ultravioletas - UV), principalmente na infância e adolescência;
* Exposição a câmeras de bronzeamento artificial;
* Ter pele e olhos claros, com cabelos ruivos ou loiros, ou ser albino;
* Ter história familiar ou pessoal de câncer de pele;
* Exposição aos vírus Epstein-Barr e HIV-1;
* Exposição a agrotóxicos e solventes (tricloroetileno). Trabalhadores dos setores de agricultura, metalurgia, limpeza a seco, têxtil, borracha, solventes entre outros podem ter o risco aumentado de desenvolvimento da doença.
Fonte: Instituto Nacional do Câncer (Inca)
Raios UV: danos também ao RNA
LEG: Grânulos azuis e vermelhos são sinais de estresse celular
À medida que os raios solares tocam a pele, trazem calor e vitalidade. No entanto, aí também reside uma ameaça potencial: a radiação ultravioleta (UV), o componente mais energético da luz do astro. Embora os cientistas conheçam bem o mecanismo pelo qual os UV danificam o DNA, podendo levar ao câncer de pele, o seu impacto noutra molécula vital, o RNA, muitas vezes passa despercebido.
Ao testar a resposta celular a vários fatores de estresse, pesquisadores do Instituto Max Planck de Imunobiologia, na Alemanha, notaram algo intrigante: após a radiação UV, uma proteína chamada Dhx9 formam gotículas no citoplasma da célula. “É como encontrar uma bola de neve gigante no deserto”, compara Asifa Akhtar, principal autora do estudo, publicado na revista Cell. “A Dhx9 é uma enzima que normalmente reside no núcleo e tem a capacidade de se ligar ao RNA. Encontrar essa proteína formando gotículas fora do núcleo nos deixou realmente surpresos”, diz.
“Compreender como as nossas células se defendem contra os danos do RNA induzidos pelos raios UV não só aprofunda a nossa compreensão do ciclo celular, mas também abre novas possibilidades para a pesquisa médica”, afirma Akhtar. Condições como queimaduras solares, doenças neurodegenerativas e câncer estão intrinsecamente ligadas a interrupções no equilíbrio do RNA e irregularidades no ciclo celular, diz. “Por isso, esse entendimento poderia levar a novos alvos terapêuticos para doenças caracterizadas pela má gestão do RNA ou pela desregulação da resposta ao estresse”, explica.
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