Biologia

Cobras apresentaram extraordinária evolução em 100 milhões de anos

Pesquisadores da UnB e UFPB se uniram a estrangeiros e identificaram uma verdadeira "explosão de inovação em forma e função", explicando por exemplo, a capacidade de uma sucuri capturar presas gigantes em comparação ao tamanho dela

Mais de 100 milhões de anos atrás, os ancestrais das primeiras cobras não eram tão assustadores. Na verdade, consistiam em pequenos lagartos, ofuscados pelos poderosos dinossauros. Os cientistas classificam os ancestrais das cobras como uma "explosão de inovação em forma e função". Eles  desenvolveram corpos sem pernas que podiam deslizar pelo chão, sistemas de detecção química altamente sofisticados para encontrar e rastrear presas e crânios flexíveis que lhes permitiam engolir animais de grande porte. O que desencadeou essa transformação não era conhecido até agora.

Em um estudo publicado na revista Science, um grupo internacional de pesquisadores, incluindo cientistas da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), sugere que a resposta para o sucesso está na velocidade. Segundo a pesquisa, liderada pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, as cobras evoluíram até três vezes mais rápido que os lagartos, especialmente nas características associadas à alimentação, locomoção e ao processamento sensorial.

Com sofisticados modelos matemáticos, os pesquisadores analisaram dados genéticos e dietéticos para compreender a evolução de lagartos e cobras ao longo do tempo geológico. Guarino Colli, coautor do estudo e professor do Departamento de Zoologia da UnB, cita a sucuri, serpente semiaquática brasileira, como exemplo da adaptação das espécies. O animal pode medir mais de 10m e se alimenta de presas de tamanho grande, como a capivara.

"Com a cabeça pequena, mas um crânio flexível, a sucuri consegue engolir presas enormes", explica Colli. "Ela é um exemplo extremo dessa capacidade incrível de adaptação, e é um dos fatores responsáveis pelo sucesso evolutivo desse grupo."

Daniel Rabosky, autor sênior do artigo e biólogo evolucionista da Universidade de Michigan, destaca a relevância do estudo. "Fundamentalmente, esse estudo é sobre o que torna um vencedor evolutivo", define ele. "Descobrimos que as cobras têm evoluído mais rapidamente do que os lagartos em alguns aspectos importantes, e essa velocidade de evolução permitiu-lhes aproveitar novas oportunidades que outros lagartos não conseguiram", diz.

A abordagem multifacetada adotada pela equipe revelou que, embora outros répteis tenham desenvolvido muitas características semelhantes às das cobras - 25 grupos diferentes de lagartos também perderam os seus membros, por exemplo —, apenas elas passaram por esse nível de diversificação explosiva. A lagartixa sem pernas da Austrália, por exemplo, perdeu essa parte do corpo e desenvolveu um crânio flexível, mas praticamente não se diversificou ao longo de milhões de anos.

"Um aspecto notável das cobras é a sua diversidade ecológica: escavam no subsolo, vivem em água doce, no oceano e em quase todos os habitats concebíveis em terra", disse, em nota, Alexander Pyron, coautor do estudo e professor associado de biologia na Universidade George Washington, nos Estados Unidos. "Embora alguns lagartos façam algumas dessas coisas — e haja muito mais lagartos do que cobras —há muito mais cobras na maioria desses habitats, na maioria dos lugares."

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