Aquecimento global

Planeta está 1,5ºC mais quente, adverte o programa Serviço Copernicus

Temperatura da Terra alcançou a marca de 12 meses consecutivos acima de 1,5ºC, patamar que deveria ser atingido apenas em 2100. Janeiro teve recordes de calor, principalmente na América do Sul

Mais de sete décadas antes do previsto, o mundo alcançou a marca de 12 meses consecutivos com uma temperatura acima de 1,5ºC. Segundo o Acordo de Paris, assinado em 2015, a marca deveria ser atingida apenas em 2100. O Serviço Copernicus de Mudanças Climáticas, na Europa, confirmou que janeiro manteve a tendência do ano passado, com recordes de calor, especialmente na América do Sul.

Segundo o Copernicus, entre fevereiro de 2023 e janeiro de 2024, a temperatura média global chegou a 1,52ºC acima do registrado entre 1850-1900, início da revolução industrial. Embora isso não signifique que a meta de Paris já foi batida definitivamente, pois é possível reverter o padrão, os especialistas consideram a marca alarmante.

Diversos estudos mostram os impactos negativos de um aumento tão significativo nos termômetros, como secas, alagamentos, insegurança alimentar, derretimento do gelo polar e disseminação de doenças transmitidas por mosquitos.

Em nota, Brian Hoskins, diretor do Instituto Grantham sobre Mudanças Climáticas do Imperial College de Londres, foi enfático: "Este é um aviso brutal sobre a urgência das medidas que devem ser adotadas para limitar as mudanças climáticas".

Citado pela agência France Presse, Johan Rockström, do Instituto de Postdam de Pesquisas sobre Impactos Climáticos, mostrou-se preocupado. "É um sinal muito importante e desastroso. Um alerta para dizer à humanidade que nos aproximamos mais rápido que o previsto do limite de 1,5 ºC", acrescentou. 

Em nota, Samantha Burgess, vice-diretora do Copernicus, lamentou o recorde. "Uma redução rápida das emissões de gases do efeito estufa é o único meio de frear o aumento das temperaturas mundiais", disse.

A Organização Meteorológica Mundial e a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos Estados Unidos já haviam alertado que 2024 pode ferver ainda mais que o ano anterior, marcado pela chegada do fenômeno El Niño. Existe 33% de chance de os próximos meses quebrarem recordes e 99% de probabilidade de ficar entre os cinco mais quentes já registrados.

Estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam para uma probabilidade de 50% de a barreira definitiva do 1,5ºC ser quebrada entre 2030 e 2035. O cálculo é feito com base nos resultados apresentados, até agora, pelos países que assinaram o Acordo de Paris.

Embora devessem já estar em um cenário de redução das emissões de gases de efeito estufa, os responsáveis pelo aquecimento global, os signatários estão no caminho oposto, com lançamento recorde de CO2, metano e outros poluentes.

Depois dos recordes de 2023, o novo ano segue o mesmo caminho. Com temperatura média de 13,14ºC, 2024 teve o mês de janeiro mais quente desde o início dos registros. Além da América do Sul, que sofre com incêndios como o que devasta o Chile, janeiro foi atipicamente ameno no Hemisfério Norte, quando o esperado é um frio intenso pela proximidade com o Ártico.

A atmosfera não é o único sistema global a sofrer o aumento das temperaturas: em janeiro, a superfície dos oceanos também bateu recordes, registrando, em média, 20,97ºC. O aquecimento das águas superficiais e profundas está levando ao colapso de importantes correntes marinhas, além de ameaçar o ecossistema oceânico, com implicações negativas para a pesca.

PALAVRA DE ESPECIALISTA

Violação ao Acordo de Paris

Arquivo Pessoal - Matt Patterson, assistente de pesquisa de pós-doutorado em física atmosférica na Universidade de Oxford

"As temperaturas quentes dos oceanos relacionadas com o evento El Niño no Pacífico tropical contribuíram, mas a principal causa é o aumento das concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera, provenientes da queima de combustíveis fósseis. Um único ano acima do limite de 1,5ºC não é suficiente para violar o acordo climático de Paris. No entanto, ultrapassar a marca em um ano sublinha a janela de tempo cada vez menor que a humanidade tem para fazer cortes profundos nas emissões e evitar alterações climáticas perigosas."

Matt Patterson, assistente de pesquisa de pós-doutorado em física atmosférica na Universidade de Oxford

Mais Lidas

Lua à vista

Empresas norte-americanas preparam para lançar, na Quarta-Feira de Cinzas (14), um novo módulo não tripulado à Lua. O foguete da SpaceX tem sua decolagem marcada para as 00h57 locais (02h57 em Brasília) de 14 de fevereiro do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, e pouso esperado para 22 de fevereiro, em uma cratera próxima do polo sul do satélite natural. A Nasa pagou à Intuitive Machines mais de US$ 100 milhões (R$ 496 milhões) para enviar seu hardware científico na missão. Se obtiver sucesso, será o primeiro pouso suave dos Estados Unidos na superfície lunar desde o fim da era Apollo há cinco décadas, e o primeiro realizado pela indústria privada. A operação ocorre a menos de um mês depois que uma missão semelhante que fracassou quando a nave se desintegrou na atmosfera terrestre. A missão contará com um módulo de alunissagem construído pela Intuitive Machines, uma empresa texana, acoplado à parte superior de um foguete da SpaceX, segundo a Nasa (agência espacial dos EUA). 

Violação ao Acordo de Paris

"As temperaturas quentes dos oceanos relacionadas com o evento El Niño no Pacífico tropical contribuíram, mas a principal causa é o aumento das concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera, provenientes da queima de combustíveis fósseis. Um único ano acima do limite de 1,5ºC não é suficiente para violar o acordo climático de Paris. No entanto, ultrapassar a marca em um ano sublinha a janela de tempo cada vez menor que a humanidade tem para fazer cortes profundos nas emissões e evitar alterações climáticas perigosas."

Matt Patterson, assistente de pesquisa de pós-doutorado em física atmosférica na Universidade de Oxford