Alimentação

Comer castanhas ajuda a emagrecer?

Sim, apesar do alto teor de gordura, nozes e pistache, por exemplo, reduziram o peso e fatores de risco da síndrome metabólica em adultos. Pode ser uma estratégia para combater obesidade e doenças cardiovasculares, diz pesquisa

Ingerir castanhas ajuda no controle do peso e é uma forma eficiente de se obter energia da gordura, diz um estudo publicado na revista Nutrients. Segundo os autores, muitas pessoas temem ingerir alimentos como nozes e pistache, com medo de engordar. Porém, eles afirmam que o consumo de 150g a 200g do ingrediente semanalmente é, ao contrário, uma estratégia para manter o peso saudável.

A baixa ingestão de castanhas por grupos populacionais, incluindo adultos jovens na faixa dos 20 e 30 anos, é especialmente problemática, uma vez que correm alto risco de excesso de obesidade abdominal e de desenvolver síndrome metabólica (MetSx), ambas precursoras de diabetes. Os autores da pesquisa destacam que a taxa global de MetSx aumentou 21,3% neste grupo etário em cinco anos. 

Heidi J. Silver, pesquisadora de metabolismo, nutrição e obesidade do Centro Médico da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, afirma que o novo ano é o "momento perfeito para acabar com os mitos de alimentos prejudiciais". Entre eles, diz, que o teor de gordura em castanhas e frutos secos no geral leva ao aumento de peso. 

Fator de risco

No estudo, 84 adultos entre 22 e 36 anos que tinham, pelo menos, um fator de risco de síndrome metabólica — hipertensão, alto teor de glicose no sangue, excesso de gordura corporal ao redor da cintura ou níveis anormais de colesterol no sangue — foram divididos em dois grupos. Um deles recebeu um lanche de 30g de nozes mistas e sem sal, enquanto o outro ingeriu 30g de petiscos à base de carboidratos, como pretzels sem sal ou biscoitos duas vezes por dia, durante 16 semanas.

Sem que os participantes do estudo fizessem quaisquer outras mudanças em sua dieta, como restringir a ingestão de calorias, ou nos hábitos de vida, como começar atividades físicas, os pesquisadores observaram uma redução de 67% no risco de MetSx para mulheres e de 42% para homens no grupo das castanhas. Aqueles que ingeriram 30g de castanhas mistas duas vezes ao dia não sofreram alteração no peso corporal, ao longo de 16 semanas. Segundo Heidi J. Silver, as descobertas são consistentes com pesquisas anteriores. 

Nas participantes do sexo feminino, houve evidências de que a ingestão de nozes mistas levou à redução da circunferência da cintura, um fator de risco chave para síndrome metabólica, diabetes e doenças cardiovasculares. Entre os homens, foi observada redução de insulina no sangue, outro importante contribuinte para essas condições. 

Eficiência

Os pesquisadores também observaram que o organismo dos participantes, que se alimentaram com nozes, utilizou a gordura como energia de forma mais eficiente, em comparação com a ingestão do lanche à base de carboidratos. Isso poderia explicar por que não houve aumento no peso ou na gordura corporal durante o estudo.

Pesquisas anteriores também sugerem que o corpo absorve 5% menos calorias provenientes da ingestão de nozes do que se pensava anteriormente. "Projetamos especificamente o estudo para poder investigar os efeitos independentes do consumo de nozes no peso corporal, garantindo que o número de calorias que os participantes ingeriram durante o período de intervenção de 16 semanas correspondesse à quantidade das que gastaram em cada dia, o que é um dos pontos fortes gerais do desenho e dos resultados do estudo", destaca Silver.

De acordo com a pesquisadora, os resultados dos estudos sugerem que a ingestão desses alimentos pode ser uma parte importante da rotina de autocuidado de qualquer pessoa em 2024. Ela também observa que são necessárias pesquisas adicionais sobre a resposta cardiometabólica às nozes em outros subgrupos da população.

 


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Própolis verde, ação antitumoral

O própolis é utilizado há muito tempo na medicina tradicional e vem ganhando atenção da comunidade científica após a comprovação de seus benefícios à saúde, que incluem propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, antimicrobianas e imunomoduladoras. Estudo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade do Sul da Dinamarca constatou que o própolis verde brasileiro, produzido pela abelha africanizada (Apis mellifera) tem potencial antitumoral. 

O principal componente do própolis verde brasileiro é a artepilina C, encontrado principalmente na resina do alecrim-do-campo (Baccharis dracunculifolia), planta nativa do país.

"Pesquisas anteriores mostraram que a artepilina C pode alterar modelos de membranas biológicas, filmes finos ao redor das células vivas, especialmente quando variamos o pH do meio em que são colocadas", disse Wallance Moreira Pazin, professor do Departamento de Física e Meteorologia da Faculdade de Ciências de Bauru (FC) da Unesp.

Os pesquisadores investigaram como as células saudáveis e as tumorais se comportavam bioquimicamente quando colocadas em contato com a artepilina C, concentrando-se para esse efeito nos fibroblastos — estruturas primárias na cura e manutenção do tecido conjuntivo — e nos tecidos de glioblastoma. Este último é o câncer cerebral primário mais comum.

PH

O pH (grau de acidez) do meio de cultura também foi variado para verificar se um microambiente mais ácido levaria a diferentes efeitos da artepilina C. Em seguida, realizaram uma análise meticulosa dos efeitos do própolis nas membranas celulares.

A pesquisa revelou que o composto interagiu intensamente com as células tumorais, alterando sua fluidez e potencial de reorganização. Também desencadeou a autofagia, um processo de limpeza que envolve a degradação de componentes celulares desgastados, anormais ou com mau funcionamento.

Segundo Pazin, o estudo, publicado na revista Life e financiado pela Fapesp, contribui para uma compreensão mais profunda dos mecanismos de ação da substância e fornece informações para pesquisas futuras que levem a tratamentos inovadores para o câncer. 

"Embora os ensaios in vitro tenham demonstrado alta eficiência nas atividades biológicas dessa molécula, a administração oral ou tópica aos pacientes seria prejudicada por certas particularidades, como baixa absorção e biodisponibilidade", pondera o professor, afirmando serem necessários mais estudos.