Astronomia

Saturno: "Lua da morte" pode, na verdade, ter vida

O satélite junta-se, assim, ao raro grupo que contém água embaixo de sua camada de gelo: Europa e Ganimedes (de Júpiter), Encélado e Titã (de Saturno)

Representação artística de Mimas, satélite de Saturno, que abriga sob a superfície um improvável oceano  -  (crédito: Frédéric Durillon, Animea Studio | Observatoire de Paris - PSL, IMCCE/Divulgação)
Representação artística de Mimas, satélite de Saturno, que abriga sob a superfície um improvável oceano - (crédito: Frédéric Durillon, Animea Studio | Observatoire de Paris - PSL, IMCCE/Divulgação)

Mimas, uma pequena lua de Saturno, abriga sob a sua superfície gelada um improvável oceano líquido propício ao surgimento de vida, de acordo com um estudo publicado na revista Nature. O satélite junta-se, assim, ao raro grupo que contém água embaixo de sua camada de gelo: Europa e Ganimedes (de Júpiter), Encélado e Titã (de Saturno).

"Se há algum lugar no universo onde não esperávamos encontrar condições favoráveis para a vida, este lugar é Mimas", detalhou, em coletiva de imprensa, Valéry Lainey, principal autor do estudo. O satélite do planeta dos anéis, descoberto em 1789 pelo astrônomo William Herschel, "absolutamente" não tinha "a aparência certa", segundo o astrônomo do Instituto de Mecânica Celeste e Cálculo de Efemérides (IMCCE) do Observatório de Paris - PSL.

Com apenas 400km de diâmetro, o satélite era apelidado de "lua da morte" porque parecia frio, inerte e, portanto, desabitado. Isso se devia à sua superfície cheia de crateras, incluindo uma imensa que lhe dava um ar semelhante à Estrela da Morte, a estação do Império na saga Star Wars.

Remodelagem

A casca de gelo parecia estar congelada, sem sinal de atividade geológica interna que pudesse modificá-la. Diferentemente, a superfície lisa de sua irmã maior, Encélado, é regularmente remodelada pela atividade de seu oceano interno e seus gêiseres.

Porém, os cientistas tinham a intuição de que "algo estava acontecendo dentro de Mimas", disse Lainey. Eles estudaram a rotação da lua em torno de si mesma e suas pequenas oscilações, chamadas librações, que podem variar segundo a estrutura interna do astro.

Os primeiros trabalhos do grupo, publicados em 2014, não conseguiram demonstrar a existência de um oceano líquido no satélite. A maioria dos pesquisadores tendia a acreditar na existência de um núcleo rochoso. "Poderíamos ter deixado as coisas assim, mas estávamos frustrados", observou Lainey.

A equipe, então, compilou dezenas de imagens feitas pela sonda Cassini da Nasa (2004-2017) para ampliar pesquisa para todo o sistema de Saturno e 19 de suas luas. Os dados permitiram analisar o movimento orbital de Mimas ao redor do planeta e como isso afeta suas librações. A detecção de variações ínfimas, da ordem de centenas de metros, denunciou a presença de um oceano líquido sob toda a superfície.

Maré

O oceano se move sob uma camada de gelo de 20km a 30km de espessura, comparável à de Encélado, descreve o estudo. Surgiu sob a influência da gravidade de outras luas de Saturno: são efeitos de maré que agitam o astro e geram calor, impedindo que seu oceano congele. Os cálculos sugerem um mar formado recentemente, há apenas entre 5 e 15 milhões de anos, o que explicaria por que ainda não foi detectado nenhum sinal geológico de sua existência na superfície.

"A lua reúne todas as condições para a habitabilidade: água líquida, mantida por uma fonte de calor, em contato com rocha, o que favorece o desenvolvimento de trocas químicas indispensáveis para a vida", resumiu Nicolas Rambaux, um dos autores. Porém, não se sabe se Mimas poderia abrigar formas primitivas, como bactérias.

Lainey afirmou que "a questão será abordada nas próximas missões espaciais nas décadas que estão por vir". "Uma coisa é certa: se busca as condições mais recentes de habitabilidade no Sistema Solar, é para Mimas que deve olhar", ressaltou o astrônomo.

 


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postado em 08/02/2024 03:55
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