Pesquisadores do centro Mass Eye and Ear, em Boston, nos Estados Unidos, revelaram em um novo estudo, publicado ontem, na revista Science Translational Medicine. Nele, os cientistas afirmam que a imagem da retina pode ser uma ferramenta crucial na previsão do risco de desenvolvimento de várias doenças, incluindo oculares, neuropsiquiátricas, cardíacas, metabólicas e pulmonares.
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A equipe, em colaboração com o Broad Institute de Massachussetts (MIT) e Harvard, combinou imagens da retina, dados genéticos e big data para estimar a probabilidade de uma pessoa desenvolver essas condições no futuro.
Os cientistas descobriram associações entre o afinamento de diferentes camadas da retina e um aumento do risco de diversas doenças. Eles identificaram também loci genéticos relacionados ao adelgaçamento da estrutura, oferecendo visões para tratamentos personalizados.
A primeira autora do estudo, Seyedeh Maryam Zekavat, residente de oftalmologia de Harvard, no Mass Eye and Ear, afirmou, em nota, que a descoberta tem implicações promissoras para a medicina preventiva, permitindo a identificação precoce de riscos. "Mostramos que as imagens da retina podem ser usadas para prever o risco futuro de doenças oculares e sistêmicas".
O estudo analisou dados de 44.823 participantes de um banco de dados (UK Biobank) ao longo de uma década. Os autores proporcionam uma visão aprofundada das diferentes camadas celulares da retina e revelam informações sobre os genes e vias biológicas associadas à saúde da retina, que podem ser exploradas para desenvolver terapias futuras.
Especialistas
Juliana Zarate, oftalmologista na Kora Saúde, em Fortaleza, no Ceará, explica que a retina é formada por vasos sanguíneos e camada de fibras nervosas e que alterações nessas estruturas podem significar doenças como retinopatia diabética e retinopatia hipertensiva. "Pela classificação dos estágios dessas doenças podemos fazer uma porcentagem de probabilidade do paciente desenvolver patologias cardíacas, problema cerebral, como AVC, doenças de origem microvasculares, e várias outras", diz ela.
Emerson Fernandes e Castro, oftalmologista do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, ressalta que exames acessíveis ajudam na identificação de problemas por meio de imagens oculares. "O exame de fundo do olho, disponível no SUS (Sistema Único de Saúde), nos dá muitas informações. Em um paciente diabético, se o fundo do olho está sem sangramento, possivelmente o resto do corpo está legal. Se tivermos uma hemorragia, provavelmente rins e coração também estão comprometidos."
O ensaio também aponta para a possibilidade de ampliar o uso rotineiro da imagem da retina em oftalmologia, integrando-a em outras áreas "Os pacientes nos procuram pela saúde ocular, mas e se pudéssemos contar-lhes mais do que isso? E se pudéssemos usar as imagens da retina de alguém para dizer: você parece ter um alto risco de ter pressão alta, talvez você devesse fazer um exame, ou talvez seu médico de atenção primária devesse saber disso", enfatizou, em comunicado, o autor sênior Nazlee Zebardast, diretor de Glaucoma Imaging no Mass Eye and Ear e professora assistente na Harvard Medical School.
Para Ione Alexim, oftalmologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e da Beneficência Portuguesa de São Paulo, prever problemas de saúde, ou detectá-los no início facilita a personalização de tratamentos, melhorando as chances de um desfecho positivo. "O estudo reforça ainda a importância do uso de inteligência artificial, que é uma realidade em diversas áreas, e, com certeza, ajudará muito na saúde e cuidados dos pacientes, principalmente em locais onde o acesso ao especialista ainda não é possível para todos."
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