O uso de medicamentos para tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade reduzem a vontade e o consumo de álcool, aponta pesquisa comportamental realizada por cientistas da Universidade Virginia Tech, publicada em novembro. "Essa descoberta enfatiza a hipótese médica de que medicamentos podem atenuar o alcoolismo e demais hábitos perigosos", afirma Warren Bickel, professor de Saúde Comportamental do Instituto de Pesquisa Biomédica Franlin, da Virginia Tech, e um dos autores do estudo.
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Os especialistas combinaram dois métodos de pesquisa: a análise de comentários da rede social Reddit e um estudo conduzido com 153 participantes que reportaram ter obesidade.
Em primeira análise, a equipe selecionou mais de 68 mil postagens do Reddit, realizadas entre 2009 e 2023, que incluíram os medicamentos utilizados para tratar diabetes tipo 2, como Ozempic, Tirzepatida e Mounjaro — responsáveis por reduzir o nível de açúcar no sangue ao imitar hormônios liberados pelo organismo depois de comer.
Em uma segunda etapa, foram selecionados 33.309 postagens relacionadas aos medicamentos, feitas por 14.595 usuários. Destas, 1.580 publicações tinham relação com o consumo de álcool e, em 71,7% delas, havia relatos de redução de desejo, uso e demais efeitos adversos causados pelo alcoolismo.
Na segunda parte do estudo, 153 participantes que se diziam obesos foram selecionados por meio das redes sociais. Um terço dos participantes foi o grupo controle, ou seja, não tomou nenhum remédio. Outra parte dos selecionados tomou o medicamento Semaglutide em injeção ou cápsula, e uma terceira parte das pessoas tomou o fármaco Tirzepatida. Os pacientes que ingeriram os medicamentos periodicamente relataram que beberam menos em comparação com o grupo controle. Além disso, os pesquisadores descobriram que as probabilidades do consumo excessivo de álcool eram significativamente inferiores entre os participantes que tomaram os medicamentos.
"Os pacientes relataram que beberam menos, experienciaram menos o efeito do álcool quando o ingeriram e diminuíram as chances de consumir bebidas álcoolicas em excesso", analisa Alexandra DiFeliciantonio, professora assistente no Instituto de Pesquisa Biomédica Franlin e também autora da pesquisa.
Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores sugerem a realização de estudos clínicos randomizados e controlados para confirmar a hipótese. Os cientistas ainda apontaram que os participantes se identificaram majoritariamente brancos e do sexo feminino, sendo necessários mais estudos em populações diversificadas para examinar se há diferenças dos efeitos inibidores de álcool a depender de sexo e raça.