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Estudo mostra que males para o coração se acumulam com o tempo

Estudo feito por equipes de diferentes países mostra que pressão alta e colesterol elevado favorecem o surgimento de doenças cardiovasculares mesmo após serem controlados

Estudo realizado por cientistas da Austrália e do Reino Unido investigou a associação entre a pressão arterial e o colesterol (LDL-C) com a doença coronariana (DAC) ao longo da vida. Conforme o trabalho, publicado, ontem, na revista Plos One, ter esses dois indicativos elevados em idades mais jovens, até os 55 anos, mesmo que sejam controlados posteriormente, está relacionado a um risco aumentado para a saúde cardiovascular.

Para o trabalho, os cientistas usaram dados de 395.543 participantes do UK Biobank, um biobanco de informações do Reino Unido, e fizeram uma análise para avaliar a relação causal entre os fatores de risco e a doença coronariana. Os resultados revelaram uma associação significativa entre níveis mais elevados de pressão arterial e de colesterol com um maior risco de DC, com efeitos consistentes em várias faixas etárias.

Conforme os autores, em particular, a exposição LDL-C elevado e pressão alta em idades mais jovens foi associada a um risco aumentado de DAC independentemente dos níveis serem normalizados posteriormente. Isso sugere que o controle precoce desses fatores de risco é crucial para prevenir a condição ao longo da vida.

Os pesquisadores enfatizaram a relevância clínica dessas descobertas, observando que "os resultados fornecem insights valiosos sobre a contribuição da PAS e do LDL-C para o risco de DC em diferentes estágios da vida." Além disso, a técnica utilizada para avaliar a relação também ajudou a trazer clareza para o ensaio.

A análise por idade revelou que "os efeitos da PAS e do LDL-C na DAC foram consistentes em diferentes grupos etários, destacando a importância contínua desses fatores de risco. Essa descoberta tem implicações significativas para a prática clínica e as estratégias de prevenção, ressaltando a necessidade de intervenções direcionadas em diferentes faixas etárias para reduzir o risco de doença coronariana.

Resultados

Os resultados ressaltam ainda a importância de considerar a interação entre outras questões que podem impactar em uma abordagem eficaz na prevenção da condição.

Conforme Lázaro Miranda, conselheiro da Sociedade Brasileira de Cardiologia do Distrito Federal e cardiologista no Hospital Santa Lúcia, os indicativos de risco que contribuem para o surgimento e desenvolvimento da doença aterosclerotica coronária são múltiplos e muitos ainda serão descritos. "Essa pesquisa confirma a premissa de que quanto mais longo o tempo de exposição a valores elevados de Pressão Arterial Sistólica (PAS) e Lipoproteína de Baixa Densidade (LDL), maior é o risco de gerar DAC e suas temíveis complicações, como infarto e acidente vascular."

Miranda narra que o conhecimento acerca da condição é representado pela forma de um iceberg. "Buscamos, incessantemente, revelar toda a sua base, onde se oculta o chamado risco residual."

Apesar dos resultados consistentes, os estudiosos apontam que o trabalho tem algumas limitações, como a falta de dados de ensaios clínicos randomizados em populações jovens. "No entanto, as descobertas fornecem uma base sólida para futuras pesquisas e intervenções clínicas."

Thiago Germano de Siqueira, cardiologista do hospital Anchieta, em Brasília, reforça a importância da prevenção dos problemas cardiovasculares ainda na juventude. É muito importante que aconteça precocemente, porque a gente sabe que esses fatores de risco são acumulativos ao longo da vida. Iniciando logo você está diminuindo o tempo de exposição desse paciente e a chance dele desenvolver a doença cardiovascular."

Siqueira acrescenta que, no Brasil, tem grandes índices de problemas cardíacos, uma questão de saúde pública. "Estamos num contexto de mais de 380 mil mortes por doença cardíaca no Brasil, apenas este ano. É a condição que mais mata no mundo, se somar todos os tipos de câncer não dá o número de mortes por doença cardiovascular. Temos que ser agressivos no tratamento desses pacientes, a gente tem que sair dessa inércia terapêutica e realmente ser incisivo e demonstrar a importância de se tratar, de prevenir ainda numa fase mais jovem."

 


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Quanto antes, melhor

"Temos que pensar nos fatores de risco considerando o tempo em que ficaram fora de controle. Se temos um paciente de 50 anos, que passou os últimos 20 com pressão arterial não controlada e com LDL elevado, mesmo que ele esteja com sua doença controlada no momento, ele passou por longo período exposto, o que gerou, provavelmente, disfunção vascular e aterosclerose. Essas alterações são irreversíveis e acabam trazendo risco de infarto. Se a doença se inicia em idade precoce, ele ficará exposto por muitos anos àquilo, levando a uma maior probabilidade de adoecimento no futuro. Conseguir detectar a condição e tratá-la cedo é a chave para uma maior proteção e sucesso. Devemos realizar uma avaliação cardiológica anual, pelo menos a partir dos 35 anos para os homens e 40 anos para as mulheres."

Carlos Nascimento,
cardiologista do Hospital
Brasília Unidade Águas Claras, da rede Dasa no Distrito Federal

Gordura abdominal afeta fertilidade

Além de interferir na saúde em geral, a obesidade também impacta na fertilidade. É o que aponta um artigo, publicado, ontem, na revista Plos One. O ensaio, feito por cientistas chineses, analisou a relação entre a circunferência da cintura e a infertilidade feminina nos Estados Unidos, utilizando dados da Pesquisa Nacional de Exame de Saúde e Nutrição (NHANES). Os resultados indicaram que a circunferência maior estava associada à infertilidade feminina, independentemente do índice de massa corporal (IMC). "Cada aumento de 1cm na circunferência da cintura foi associado a um aumento de 3% no risco de infertilidade", afirmaram os autores.

Os pesquisadores utilizaram dados de três ciclos de dois anos da NHANES, que incluíram mulheres com idades de 18 a 45 anos. A circunferência da cintura foi medida por técnicos de saúde treinados, enquanto a infertilidade foi auto-relatada, a partir de questionários de saúde reprodutiva.

Os autores destacaram a importância de considerar a medida como um fator de risco para uma possível gestação, além do IMC. "Nossos resultados sugerem que a circunferência da cintura pode ser um indicador útil para identificar mulheres em risco de infertilidade, e que intervenções para reduzir a circunferência da cintura podem ser benéficas para melhorar a saúde reprodutiva das mulheres", destacaram os autores, em nota.

Vinicius Medina, especialista em reprodução humana e membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), narra que é a gordura é um tecido que também é chamado de endócrino, que também produz hormônios.

"Esses hormônios podem atrapalhar todo o sistema reprodutivo. Quem tem uma grande circunferência abdominal, se encontra num estado inflamatório alterado, há resistência à insulina e todas as alterações hormonais, podendo interferir na produção do estrogênio e androgênio. Todo esse distúrbio pode levar à infertilidade. A gordura abdominal está associada a vários problemas."