COP28

COP28: sem acordo sobre combustíveis, declaração é adiada

Reações dos críticos pesam em meio às resistências daqueles que evitam medidas mais drásticas, assim as negociações se prolongam para a finalização do documento final esperada para hoje

Com a falta de consenso sobre a declaração final, a Presidência da 28ª Conferência do Clima (COP28), em Dubai, nos Emirados Árabes, deixou para hoje a divulgação do texto, que vem sendo construído ao longo de duas semanas. O rascunho divulgado na segunda-feira, véspera do que seria o fim do evento, desagradou as delegações que queriam metas mais ambiciosas sobre a eliminação dos combustíveis fósseis.

Às 21h (hora local e 14h em Brasília) de terça-feira (12/12), as salas de discussão foram esvaziadas. "Durante a noite e durante todo o dia de hoje (ontem), o presidente da COP28 e a sua equipe estiveram envolvidos em extensas consultas com uma ampla representação de grupos e partes negociadoras", diz uma nota.

Em seguida, acrescenta que: "Isso é para garantir que todos sejam ouvidos e que todas as opiniões sejam consideradas. Ele (sultão Al Jaber, presidente da COP28) está determinado a entregar uma versão do texto que tenha o apoio de todas as partes." O comunicado também afirma que as consultas se estenderão pela madrugada.

Um levantamento da organização civil Rede de Ação Climática das Ilhas do Pacífico (Pican, sigla em inglês) apontou que 126 países e a União Europeia são a favor de a palavra eliminação entrar no texto, enquanto 80 nações preferem substituição ou redução. Porém, a vontade da maioria enfrenta a posição de potências como Estados Unidos e China, maiores produtores mundiais de combustíveis fósseis e principais emissores de gases de efeito estufa.

Lobby

Em uma COP fortemente frequentada por lobistas do setor energético, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) divulgou uma carta aos 13 membros, instando o cartel a não aceitar uma declaração que citasse a eliminação dos combustíveis fósseis, como constava no rascunho de sexta-feira. Na segunda-feira, a nova sugestão do texto final substituiu a palavra por redução, provocando a ira das partes que exigem um avanço real para se cumprir a meta do Acordo de Paris, de 2015.

"Há um impulso sem precedentes apoiado por 127 países para um acordo histórico sobre a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis na COP28, para finalmente enfrentar a causa profunda da crise climática: petróleo, gás e carvão", comenta Romain Ioualalen, gerente de política global da Oil Change International. "Devemos denunciar as mentiras do lobby dos combustíveis fósseis e pressionar as nações ricas a ouvirem as exigências dos estados em desenvolvimento por equidade e justiça", diz.

Esperava-se que a COP28 trouxesse avanços, após a divulgação, em setembro, do balanço do Acordo de Paris, cujo objetivo principal é limitar o aumento da temperatura global a, no máximo, 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais até o fim do século. No primeiro dia, houve otimismo, com a adoção do fundo de perdas e danos, para compensar os países mais vulneráveis às mudanças climáticas. Porém, no decorrer da conferência a pressão dos produtores de combustíveis fósseis minou as expectativas de quem acreditava em uma conferência, histórica.

Se o novo rascunho for aceito, a Presidência convocará uma nova sessão plenária para hoje, encerrando a COP28 com 24 horas de atraso. Como o texto tem de ser aprovado por unanimidade, é praticamente tradição das conferências climáticas não finalizarem no dia programado.

 

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