Pesquisa liderada pelo Instituto Wolfson de Saúde da População da Universidade Queen Mary de Londres, no Reino Unido, revelou que os níveis hormonais, detectados por exames de sangue, são indicadores cruciais para determinar se as mulheres se beneficiarão dos medicamentos para a prevenção do câncer de mama. Conforme o estudo, detalhado, na revista The Lancet, os chamados de inibidores da aromatase, como o anastrozol, são recomendados pelo Instituto Nacional de Cuidados Clínicos e Excelência (Nice), na Inglaterra, como uma opção de terapia preventiva para mulheres pós-menopáusicas com alto risco de câncer de mama.
- Dezembro Vermelho: entenda como ISTs podem afetar a fertilidade
- COP28: declaração final deve apresentar "solução" para combustíveis fósseis
Conforme o estudo, no Reino Unido, uma em cada sete mulheres terá câncer de mama, totalizando quase 56 mil diagnósticos anualmente. Pacientes na pós-menopausa com altas concentrações de hormônio estrogênio na corrente sanguínea enfrentam um risco aumentado de desenvolver o problema.
Os inibidores da aromatase interrompem a produção do hormônio, reduzindo sua quantidade no corpo. Embora os agentes preventivos sejam mais eficazes, sua utilidade pode ser otimizada identificando quem mais se beneficiaria do tratamento.
Para avaliar a relação, sob a liderança do professor Jack Cuzick, da Universidade Queen Mary de Londres, uma equipe formada por pesquisadores de diferentes países utilizou dados do ensaio de prevenção IBIS-II, um estudo internacional e controlado com anastrozol em mulheres pós-menopáusicas de alto risco, realizado de 2003 a 2012.
Eficiência
Os resultados do estudo, envolvendo 212 mulheres, 72 casos, 140 controles, indicaram uma clara tendência de aumento do risco com os níveis hormonais no grupo placebo, mas não no grupo que recebeu anastrozol. Houve uma redução significativa de 55% no risco de câncer em 75% das mulheres tratadas com anastrozol. Aquelas com níveis mais baixos do hormônio se beneficiaram menos do medicamento.
Conforme os cientistas, os dados sugerem que exames de sangue acessíveis podem ser utilizados para identificar para quem a terapia preventiva seria mais adequada. Essa abordagem personalizada permitiria que elas recebessem a terapêutica que oferecesse o melhor equilíbrio entre a gestão do risco de câncer e os potenciais efeitos colaterais.
Para Cuzick, a descoberta é animadora. "Esses resultados são muito emocionantes e podem refinar a forma como escolhemos a medicação preventiva para mulheres na pós-menopausa com alto risco de câncer de mama. No nosso estudo, 25% dessas mulheres com medições mais baixas de estradiol beneficiaram pouco com a toma de anastrozol, embora ainda sofressem dos efeitos secundários do medicamento", contou, em nota.
Fabiana Christina Araújo Pereira Lisboa, mastologista do hospital Anchieta, em Taguatinga, Brasília (DF), reforça que as mulheres na menopausa estão mais suscetíveis aos tumores. "O envelhecimento por si só é um fator de risco para o surgimento do câncer, em função dos danos ao DNA da célula, levando essas estruturas a se multiplicarem de maneira desordenada, conduzindo à formação de tumores. Embora durante a menopausa os níveis de estrogênio e progesterona caiam, a mulher ainda continua produzindo-os nos tecidos periféricos."
Futuro promissor
Segundo o cientista, a pesquisa pode impactar na prática clínica. "Um simples teste hormonal no sangue poderia melhorar o benefício do anastrozol se o usarmos para selecionar os pacientes mais adequados para tomá-lo. Precisamos agora de avaliar rotineiramente os níveis hormonais em mulheres pós-menopáusicas com elevado risco de câncer de mama antes de prescrever anastrozol, para identificar aquelas que estão em maior risco e que responderão bem", finalizou.
Angélica Nogueira Rodrigues, oncologista clínica e membro do Comitê de Tumores Ginecológicos da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, ressalta que é importante investir em pesquisa nessa área. "A célula recebe estímulo desses hormônios e é estimulada a se multiplicar, são ativadas as cascatas de carcinogênese."
Segundo a oncologista, é fundamental manter a estimulação. "Para a maioria das pacientes com câncer de mama o estímulo hormonal tem grande importância. A descoberta tem potencial de selecionar melhor quem precisa usar medicamentos para prevenção e também para titular a dose de medicamentos, que têm efeitos colaterais."
Saúde pós-parto: alerta máximo
Todo ano, pelo menos 40 milhões de mulheres possivelmente enfrentam um problema de saúde de longo prazo causado pelo parto. É o que revela um estudo, detalhado, na revista The Lancet Global Health. A pesquisa mostra uma série de dificuldades causadas nos pós-natais, como dores diversas, incontinência anal e depressão.
Os estudos indicam que a dor durante o sexo afeta 35% das mulheres pós-parto, dores lombares atingem 32%, enquanto a incontinência anal, 19%, a incontinência urinária de 8% a 31%, ansiedade, de 9% a 24% depressão, de 11% a 17%.
Para os cientistas, é importante um maior reconhecimento dentro do sistema de saúde desses problemas de saúde feminina. Cuidados eficazes ao longo da gravidez e do parto também são um fator preventivo para detectar riscos e evitar complicações que podem levar a problemas de saúde duradouros.
"Ao longo de suas vidas e além da maternidade, as mulheres precisam ter acesso a uma variedade de serviços de profissionais de saúde que ouçam suas preocupações e atendam às suas necessidades, para que não apenas sobrevivam ao parto, mas possam desfrutar de boa saúde e qualidade de vida", relata em nota, Pascale Allotey, diretora de Saúde Sexual e Reprodutiva e Pesquisa na Organização Mundial de Saúde (OMS).
Personalização e avanços
O ponto importante da pesquisa foi avaliar se todas as mulheres seriam beneficiadas com a mesma magnitude do uso desses inibidores de aromatase. Aquelas que têm níveis hormonais mais baixos, usar uma medicação que tem esse efeito, não é tão significativo. A gente deve utilizar outros tipos de abordagem. Os principais avanços atuais no tratamento do câncer de mama é justamente entender cada vez melhor a biologia dessa doença e com esse conhecimento a gente ser capaz de personalizar, individualizar esse tratamento com medicamentos mais eficazes e remédios mais precisos para o tipo de patologia que cada paciente tem. Nem todos os casos de câncer de mama precisam de quimioterapia. Temos medicamentos que usam tecnologias muito mais inteligentes, quando precisamos da quimioterapia também usamos imunoterapia em alguns casos.
Romualdo Barroso, oncologista do Hospital Brasília da rede Dasa no DF, líder nacional de câncer de mama da Dasa Oncologia, pós-doutor pela Dana-Farber Câncer Institute e Harvard Medical School
Saiba Mais