A campanha do Dezembro Vermelho é uma ação criada para conscientizar sobre os riscos e necessidade de se prevenir contra o vírus da imunodeficiência humana (HIV) e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Entre os impactos de algumas dessas infecções, a infertilidade, seja pela incapacidade de engravidar ou até mesmo por inviabilizar a gestação, é um dos sinais de alerta. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), essas infecções são responsáveis por 25% dos casos. Saiba quais são elas e como prevenir.
Dr. Roberto de Azevedo Antunes, médico ginecologista e diretor da Clínica Fertipraxis - Centro de Reprodução Humana, alerta para a necessidade de manter os exames em dia para evitar sequelas maiores. Ele explica que um dos principais causadores é a doença inflamatória pélvica (DIP), causada principalmente pelas bactérias causadoras da clamídia e da gonorreia.
Segundo o especialista, essa contaminação gera principalmente uma infertilidade tubária, quando uma pessoa não consegue engravidar devido a problemas nas tubas uterinas. “A mulher se contamina com a clamídia no colo do útero, isso causa uma cervicite [inflamação no colo do útero] e essa infecção ela sobe para o endométrio e, eventualmente, para as tropas, isso gera um dano tubário”.
Nos homens, a DIP afeta o canal da uretra e a próstata, fazendo com que o indivíduo não consiga liberar o sêmen ou que esse líquido tenha pouca ou nenhuma concentração de espermatozoides.
Um dos maiores riscos, segundo o médico, é que os sintomas da doença ocasionada por clamídia e gonorreia é difícil de ser diagnosticada. “É importante que o médico esteja bastante atento para essa possibilidade de fazer um tratamento antibiótico adequado e diminuir os riscos de sequelas”, alerta.
A recomendação do Ministério da Saúde é que, na presença de qualquer sinal de DIP, procure imediatamente um profissional. Entre os sintomas mais característicos estão, segundo o especialista, dor no colo, dor abdominal e dor durante exame de palpação dos ovários.
Problemas na gravidez
O Vírus do papiloma humano (HPV) também pode ocasionar indiretamente a infertilidade em mulheres, além de impossibilitar, em alguns casos, que haja um parto normal. O médico Roberto de Azevedo Antunes explica que procedimentos cirúrgicos, necessários em casos mais avançados, podem provocar uma espécie de “afunilamento” no canal do colo do útero. Isso pode dificultar a chegada do sêmen e, dessa forma, a possibilidade de gravidez.
“A infertilidade não é só engravidar”, ressalta Antunes. “Aumenta o risco de ter uma perda gestacional, principalmente mais tardia porque aquele colo não consegue mais segurar tão bem uma gravidez”.
Como um dos sintomas do HPV é o aparecimento de lesões no canal vaginal, essa infecção também pode impedir que ocorra um parto normal. Isso também pode acontecer com a herpes na fase ativa, onde há o aparecimento de lesões.
Próximas gerações
Outros vírus que podem impedir uma reprodução de modo convencional são o HIV e os causadores das hepatites B e C. De modo direto, essas ISTs não interferem na fertilidade, mas impedem que parceiros tenham relações sem o uso do preservativo pelo risco de contaminação.
Diretor da Clínica Fertipraxis, especializada em técnicas de reprodução assistida, o ginecologista explica que as modalidades têm se tornado uma alternativa para casais sorodiscordantes, onde um é soropositivo e o outro não, que querem ter filhos.
O médico ainda alerta para o risco de doenças congênitas, que podem acontecer com o bebê ainda na gestação. “Infelizmente estamos vivendo uma epidemia novamente de sífilis, as notificações de casos vêm aumentando no país inteiro. A sífilis por si só não chega a gerar infertilidade, mas é algo que a gente precisa ficar atento porque pode causar a sífilis congênita nos bebês”, adverte.
Em todos os casos, é fundamental manter um comportamento sexual responsável, com uso de preservativos e exames ginecológicos e urológicos em dia.