Alimentação

Conheça os benefícios da dieta mediterrânea

O cardápio rico em frutas, vegetais, azeite de oliva, frutos do mar, grãos integrais e oleaginosas colabora para a cognição e ajuda na qualidade de vida como um todo, afirmam pesquisadores

A dieta tradicional em países banhados pelo Mediterrâneo é rica em frutas, vegetais, azeite de oliva, frutos do mar, grãos integrais e oleaginosas. Comumente relacionada a uma boa saúde, esse tipo de alimentação tem benefícios que volta e meia são descobertos pelos cientistas. Pesquisas recentes mostram que o consumo equilibrado está associado à proteção cerebral e menores chances de morte por câncer.

Um estudo da Universidade de Barcelona, na Espanha, revela que seguir essa dieta reduz o risco de declínio cognitivo em pessoas idosas. O trabalho, detalhado, recentemente, na revista Molecular Nutrition & Food Research, faz parte de um programa francês nomeado Uma dieta saudável para uma vida saudável, realizado ao longo de 12 anos, que envolveu 840 pessoas com mais de 65 anos.

Utilizando um índice metabolômico alimentar baseado em marcadores do soro, o estudo focou nos grupos alimentares da dieta mediterrânea. Marcadores como ácidos graxos e polifenóis foram escolhidos para refletir a exposição a essa alimentação e seus benefícios para a saúde.

Cognição

Segundo equipe, a análise dos exames e de testes neuropsicológicos, ao longo de mais de uma década, revelou a relação inversa entre a alimentação mediterrânea e o comprometimento cognitivo em idosos. A primeira autora do estudo, Alba Tor-Roca, cientista da universidade, reforçou que o consumo desses alimentos está relacionado a menor risco de declínio mental.

"Esses resultados apoiam a utilização de indicadores no acompanhamento em longo prazo para observar os benefícios para a saúde ligados à dieta mediterrânica ou outros padrões alimentares e orientar o aconselhamento personalizado em idades mais avançadas", contou Alba Tor-Roca, em nota.

Fábio Leite, psiquiatra do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, salienta que os benefícios se devem aos componentes da alimentação. "As amêndoas, por exemplo, são ricas em selênio, antioxidantes e têm muito ômega 6. O mesmo acontece com os peixes. O azeite de oliva também é muito saudável, ele ajuda na absorção de vitamina D, vitamina K e tem uma ação anti-inflamatória."

Leite narra que essas propriedades favorecem o cérebro. "Ser antioxidante é muito importante para proteger o corpo e o desenvolvimento cerebral. Sabemos que, principalmente, ômega 6 e ômega 3 são relevantes. Crianças e idosos recebem essa neuroproteção dos antioxidantes. A ação anti-inflamatória evita que o cérebro tenha algum prejuízo com atividade inflamatória metabólica corporal."

Experiência

Carolina Klavdianos, 26 anos, e Arthur de Lima, 27 anos, gerem o restaurante grego Zante, na Asa Sul, em Brasília, e se tornaram adeptos dessa culinária. "Quando abrimos o estabelecimento passamos a consumir com mais frequência alimentos da gastronomia mediterrânea. Comemos mais frutos do mar, saladas em geral, carne de cordeiro em vez de bovina e trocamos a manteiga pelo azeite, trazendo mais saúde e bem-estar. Diminuímos a fritura e prezamos por alimentos leves e com grande fonte proteica."

Os gerentes adaptaram a dieta ao cardápio e ao estilo dos brasilienses. "Percebemos um grande interesse dos clientes em relação ao nosso cardápio e à gastronomia greco-mediterrânea. Muitas pessoas têm memórias afetivas de viagens que fizeram e ficam contentes por ter acesso aos produtos e ingredientes de lá. Além da curiosidade, o que faz com que o público procure a culinária é a preferência por itens frescos e leves, como saladas e frutos do mar."

Omar de Faria, nutricionista em Brasília, destaca que, apesar de ser característica do Mediterrâneo, é possível seguir esse tipo de alimentação mesmo morando no Brasil. "Aqui podemos usar tudo que é empregado nessa alimentação, como parte de um estilo de vida. Temos maior versatilidade em relação aos alimentos, com acesso a inúmeros vegetais, frutas, verduras, tubérculos, castanhas, além das carnes, ovos e laticínios magros."

Estudos

Além dos benefícios para a saúde cerebral, um estudo liderado pela Escola de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos, descobriu que pessoas que seguem o estilo de vida mediterrâneo têm 29% menos risco de morte por todas as causas. Segundo os cientistas, essas pessoas também têm chances 28% menores de morrer por câncer em comparação com aqueles que não aderiram aos hábitos.

No trabalho, os estudiosos analisaram os hábitos de 110.799 pessoas com dados do UK Biobank, um biobanco do Reino Unido, utilizando o índice de Estilo de Vida Mediterrâneo (MEDLIFE). Esse parâmetro mede o consumo de comidas mediterrâneas, os comportamentos alimentares típicos dessa dieta e os hábitos de vida característicos.

Os cientistas acompanharam os participantes por nove anos. Entre os estudados, 4.247 morreram por diferentes causas, 2.401 de câncer e 731 por doenças cardiovasculares. Analisando os resultados junto às pontuações MEDLIFE, observaram uma associação inversa entre a adesão ao estilo de vida mediterrânico e o risco de mortalidade.

Mercedes Sotos Prieto, autora principal e professora da Escola de Saúde Pública de Harvard, frisa que seguir esses hábitos é uma medida saudável. "O estudo sugere que é possível que as populações não mediterrânicas adotem a dieta mediterrânica utilizando produtos disponíveis localmente e adotem o estilo de vida mediterrânico geral dentro dos seus próprios contextos culturais", disse, em comunicado.

Adriano Soares Pinto, nutrólogo da clínica Tivolly, em Brasília, detalha que os componentes antioxidantes ajudam a combater o estresse oxidativo, enquanto os ácidos graxos ômega-3 podem ter propriedades anti-inflamatórias, colaborando no tratamento contra o câncer. "É essencial demonstrarmos para os pacientes, e para a população em geral, a importância da nutrição como parte integrante da promoção da saúde e da prevenção de doenças."

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Índice metabolômico

Ferramenta analítica que usa dados obtidos a partir de metabólitos presentes no soro sanguíneo para avaliar a relação entre a ingestão alimentar e a saúde metabólica

Impactos positivos em idosos

O envelhecimento da população traz desafios significativos, especialmente para os idosos hospitalizados. Estudo liderado pela Universidade de Barcelona, na Espanha, destaca a importância de considerar a dieta mediterrânica no cuidado desses pacientes. A pesquisa, publicada na revista Journal of Nutrition and Healthy Aging, recentemente, sugere que integrar a alimentação mediterrânea nos hospitais permite estratégias personalizadas para prevenir a falta de autonomia dos internados.

O ensaio envolveu 260 pacientes com 75 anos ou mais no Hospital Universitário Gregorio Marañón, na Espanha. A análise revelou que idosos que adotam a dieta mediterrânica e se engajam em programas de exercícios melhoram sua saúde geral, especialmente os que têm condições físicas mais desafiadoras.

A incapacidade associada à hospitalização é um fenômeno complexo que afeta até mesmo pacientes tratados com sucesso durante a estadia no centro médico. Conforme os autores, estratégias de exercícios durante a hospitalização têm se mostrado eficazes para prevenir a deterioração funcional em idosos, reduzindo custos econômicos e melhorando os resultados em longo prazo.

"Um padrão alimentar saudável, como a dieta mediterrânica, está associado a um menor risco de deterioração física e fraqueza nos idosos. Considerando que essa culinária é rica em polifenóis, avaliamos a monitorização desse padrão alimentar por meio de um questionário validado, bem como pela análise do nível de polifenóis na urina", reforçou, em comunicado, a professora Mireia Urpi-Sarda, coautora do trabalho.

A cientista Alba Tor-Roca, reitera que a estratégia investigada pela equipe tem bons resultados. "As conclusões sugerem que a adesão à dieta mediterrânea pode representar um indicador de que os pacientes mais velhos apresentam uma resposta aparentemente melhor às intervenções de exercício", destaca em nota.

Adriano Soares Pinto, nutrólogo da clínica Tivolly, em Brasília, garante que os benefícios são globais. "Promove a saúde digestiva pelo alto teor de fibras, auxilia na prevenção e controle da diabetes e contribui para a saúde óssea. Pode ser contraindicada em algumas situações, como alergias, condições médicas e nutricionais específicas, ou por restrições culturais. É recomendado consultar um profissional de saúde ou nutricionista ao fazer dieta." (IA)

Só há vantagens

"Com adesão do paciente, certamente os benefícios são muito positivos de uma maneira geral. Em termos de saudabilidade, posso dizer que ela traz melhora da função cognitiva, redução do índice de massa corporal, melhora o metabolismo da glicose, reduzindo diabetes; melhora os lipídios no nosso sangue, ou seja, reduza o colesterol, reduz os triglicerídeos. Melhora a pressão arterial tanto sistólica quanto diastólica, diminui a taxa de mortalidade por doença cardiovascular, reduz o índice de mortalidade geral, modera a esteatose hepática e, inclusive, melhora até complicações diabéticas relacionadas. De uma maneira geral, esses são os benefícios da dieta do Mediterrâneo."

Durval Ribas Filho, médico nutrólogo, endocrinologista e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran)