Planeta em ebulição

Incêndios florestais sete vezes mais prováveis

Mudanças climáticas, que deixaram o mundo mais quente e seco em 2023, estão por trás de tantas perdas florestais, mostram pesquisadores

Fogo consome floresta nas colinas de West Kelowna, em British Columbia, no Canadá: mudanças climáticas aumentaram a probabilidade de ocorrência dos incêndios de grandes proporções no país
 -  (crédito:  AFP)
Fogo consome floresta nas colinas de West Kelowna, em British Columbia, no Canadá: mudanças climáticas aumentaram a probabilidade de ocorrência dos incêndios de grandes proporções no país - (crédito: AFP)
postado em 31/12/2023 18:35

Se 2023 pudesse ser resumido a uma imagem, seria provavelmente a de uma floresta em chamas. Do Chile ao Cazaquistão, centenas de milhares de hectares foram devastados pelo fogo. Somente no Canadá, a área destruída por incêndios florestais foi 16 vezes maior que o normal: mais de 15 milhões de hectares, o dobro do recorde anterior, de 1989. O país norte-americano perdeu o equivalente a mais de uma Grécia — esta última, aliás, registrou a maior queima da União Europeia em um único episódio, com 810 quilômetros quadrados (mais que a cidade de Nova York) — e registrou 20 mortos em agosto.

Incêndios florestais são fenômenos naturais, mas estão se agravando à medida que o planeta ferve. Segundo a equipe internacional de cientistas climáticos World Weather Attribution, liderados pelo Imperial College London, as mudanças climáticas, que tornaram o mundo mais quente e seco em 2023, estão por trás de tantas perdas florestais. Os pesquisadores estudaram o caso canadense e afirmam que as alterações antropocêntricas no clima tornaram esses eventos entre 20% e 50% mais intensos em Quebec. "A palavra 'sem precedentes' não faz justiça à gravidade dos incêndios florestais no Canadá este ano", afirma Yan Boulanger, cientista pesquisador da Natural Resources Canada e um dos autores do estudo. "Do ponto de vista científico, a duplicação do recorde anterior de áreas queimadas é chocante."

Segundo o especialista, as temperaturas mais altas secam a vegetação, aumentando a probabilidade de os incêndios florestais começarem e se espalharem. "As alterações climáticas aumentam enormemente a inflamabilidade do combustível disponível para incêndios florestais — isso significa que uma única faísca, independentemente da sua fonte, pode rapidamente transformar-se num inferno escaldante."

Índice

O estudo se concentrou em uma região da província canadense do Quebec, que registou um número excepcionalmente alto de incêndios florestais desde maio. Os pesquisadores utilizaram uma medida, o Índice Meteorológico de Incêndios (FWI, sigla em inglês), que combina temperatura, velocidade do vento, umidade e precipitação para refletir o risco de um incêndio florestal se alastrar e se espalhar caso ocorra uma ignição.

Com base no FWI, os pesquisadores calcularam a Classificação de Gravidade Diária Cumulativa — índice que reflete a intensidade acumulada das condições meteorológicas associadas aos incêndios florestais. A medição incluiu dados de maio até o fim de julho.

O resultado: as mudanças climáticas tornaram as condições meteorológicas pelo menos sete vezes mais propensas a provocar incêndios, e esses fenômenos ficaram até 50% mais intensos. "Torna-se evidente que as condições secas e quentes que conduzem aos incêndios florestais estão se tornando mais comuns e mais intensas em todo o mundo como resultado das alterações climáticas", acredita Clair Barnes, pesquisadora do Instituto Grantham, no Imperial College London. Segundo a cientista, há um pequeno, mas crescente, número de evidências que sugerem a associação.

Os pesquisadores argumentam que é fundamental aumentar a sensibilização do público para os riscos à saúde representados pela má qualidade do ar proveniente da fumaça dos incêndios florestais. "Em todo o mundo, o aumento das temperaturas está criando condições semelhantes às dos incêndios florestais canadenses", afirma Fredi Otto, cofundador da World Weather Attribution. "Até que paremos de queimar combustíveis fósseis, o número de incêndios florestais continuará a aumentar, queimando áreas maiores por longos períodos."

 

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