Uma nova classe de medicamentos para tratamento da obesidade foi eleita pela Science, uma das mais importantes revistas científicas mundiais, como o destaque científico de 2023. Tratam-se dos inibidores de GPL-1, as famosas "canetinhas emagrecedoras" (foto). Ao longo do ano, diversos estudos comprovaram que a perda de peso provocada pelo medicamento foi acompanhada por melhoras significativas de comorbidades associadas ao índice de massa corporal (IMC) elevado, como doenças cardiovasculares, diabetes 2 e alguns tipos de câncer.
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Desenvolvida originalmente há duas décadas para tratamento da resistência à insulina, a classe de drogas foi aprovada pela primeira vez no combate à obesidade em 2021. Dois anos depois, começaram a ser apresentados resultados clínicos classificados como impressionantes pelo editor-chefe da Science, H. Holden Thorp.
No ensaio principal, a semaglutida demonstrou levar a uma perda de 15% do peso corporal em 16 meses", relatou Thorp, no editorial da edição especial da revista. Em estudos de doenças cardiovasculares e doenças renais em pessoas com obesidade ou diabetes, os agonistas do GLP-1 demonstraram benefícios potenciais.
É seguro assumir que haverá ensaios clínicos para mais indicações nos próximos anos, incluindo se esses tratamentos podem aliviar vícios", completou. Porém, Thorp também destaca o caráter crônico das terapias à base de GLP-1, o que exige um acompanhamento crítico para garantia de que, de fato, são seguras a longo prazo. Conheça, agora, as outras escolhas da Science.
Avanços no Alzheimer
Sem cura, até pouco tempo a doença de Alzheimer não tinha tratamento específico — os medicamentos prescritos aos pacientes lidam apenas com alguns sintomas. Em 2023, foram publicados resultados de ensaios de duas drogas que atacam diretamente mecanismos associados à patologia. "Nenhuma das duas chega perto da cura, e ambas apresentam sérios riscos, mas oferecem uma nova esperança aos pacientes e familiares", destaca a Science. O anticorpo monoclonal Lecanemab (foto) retardou a perda cognitiva em 27%, comparado ao placebo, em um estudo de 18 meses, e foi aprovado pela agência regulatória norte-americana Food and Drug Administration. Já o donanemab, que aguarda o sinal verde da FDA, desacelerou em 35% o declínio. Ambos são indicados apenas no estágio inicial, sendo restritos a um número reduzido de pacientes. Além disso, entre os efeitos colaterais está o risco aumentado de hemorragia e inchaço cerebral.
Hidrogênio natural
Em tempos de transição energética, um dos objetivos do Acordo de Paris, o hidrogênio natural surge como opção de combustível de baixo carbono. Os métodos atuais de extração, porém, acabam produzindo metano, um gás de efeito estufa que não só armazena calor na atmosfera como produz CO2. A necessidade urgente de substituição dos combustíveis fósseis tem levado a uma corrida por depósitos de hidrogênio e por tecnologias que tornem mais sustentável sua obtenção. "Um estudo não publicado sugere que a Terra pode conter 1 trilhão de toneladas de hidrogênio (...). Mas a grande questão é se o gás está concentrado em reservatórios que as empresas possam explorar economicamente", diz a revista. Na foto da Nasa, sulfeto de hidrogênio emitido na costa da África, sobre o Atlântico.
Protestos de acadêmicos
Baixos salários e condições precárias de trabalho são reclamações de estudantes de pós-graduação e pós-doutorado em todo o mundo, diz a Science. Agora, cientistas em início de carreira começaram a exigir mudanças. No início do ano, 48 mil acadêmicos dos campi da Universidade da Califórnia (na foto , o câmpus de Berkeley) organizaram a maior greve do tipo nos Estados Unidos, o que resultou em um aumento considerável nas bolsas. Segundo a revista, esse tipo de ação tem se pronunciado especialmente nos Estados Unidos, mas Canadá e Alemanha já registram protestos de estudantes por mais benefícios. "Precisamos oferecer melhores condições para a futura geração de cientistas", disse à Science, Álvaro Cuesta-Domínguez, da Universidade de Columbia, membro de um sindicato de pós-doutores e pesquisadores associados.
Nova linha do tempo
Há uma discussão entre antropólogos sobre a data em que os primeiros seres humanos chegaram às Américas. Prevalecem as hipóteses de que eles partiram da Ásia e alcançaram o "Novo Mundo" há 16.000 anos. Outros cientistas acreditam que a primeira colonização americana aconteceu antes, e um estudo publicado em outubro na revista Live Science dá peso à teoria. Os pesquisadores do Parque Nacional de White Sands, no Novo México (EUA), descobriram pegadas (foto) que podem ter entre 21 mil e 23 mil anos. Para confirmar a idade, eles usaram duas técnicas de datação: luminescência estimulada opticamente (OSL) e radiocarbono, consideradas mais confiáveis que métodos anteriores. "Se as datas estiverem corretas, as impressões foram deixadas no auge da última era glacial", informa a Science.
Alerta oceânico
Vários estudos publicados no ano demonstram que há uma bomba de carbono prestes a explodir no Oceano Antártico (foto), considerado o "coração" dos oceanos mundiais. Isso porque na região há um dos mais importantes sistemas de circulação de correntes, com as águas superficiais puxando o calor da atmosfera e o armazenando no abismo, onde, já fria, a massa se espalha pelo norte. Porém, com o aquecimento global, um colapso se insinua. Um estudo da Nature Climate Change mostrou que o fluxo de água abissal desacelerou 30% de 1992 a 2017. "Os novos dados indicam que uma ameaça já chegou, antes do que se pensava", diz a Science.
"Grito" dos buracos-negros
Em junho, cinco equipes internacionais de astrofísicos anunciaram a captura de um estrondo cósmico que pode ser o som de ondas gravitacionais geradas por buracos negros supermassivos, que giram em torno uns dos outros em órbitas bastante próximas. Segundo os pesquisadores, a observação sugere que as "duplas monstruosas", que já se postulavam existir, de fato estão nos céus. Além disso, demonstra um novo método de detecção das ondas gravitacionais — fenômeno previsto por Albert Einstein — utilizando sinais de estrelas distantes. As ondas provocadas pela aproximação de dois buracos negros supermassivos não podem ser captadas pelo Observatório Ligo. Por isso, os astrofísicos destacam a necessidade de novos meios de detecção, o que parece ter sido obtido agora. A foto é uma representação artística de um buraco negro.
IA prevê o tempo
Desde a Segunda Guerra Mundial, computadores são usados para prever o clima. Com o tempo, as simulações foram se aprimorando, mas ainda exigem uma grande quantidade de máquinas para apresentar dados confiáveis, como o centro de processamento de dados da foto. A inteligência artificial (IA), porém, está mudando isso. Google, Huawei e Nvidia treinaram modelos para fazer previsões de 10 dias que se mostram mais confiáveis do que os métodos tradicionais, pois, em um minuto, oferece resultados que, em geral, ocorrem em duas horas. Há um alerta da Science, porém: "Ninguém espera que a previsão numérica tradicional do tempo desapareça".
Avanços com vacina antimalária
A primeira vacina contra malária do mundo, chamada Mosquirix, reduziu significativamente as mortes de crianças pequenas — o grupo mais atingido pela doença —, mas não é barata, e a capacidade de produção da substância é baixa. Um novo imunizante, chamado R21/Matrix-M (foto), fabricado com um custo 50% menor que o primeiro, pode ser aprovado brevemente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) avalia novos dados para decidir se dá sinal verde para a substância. Resultados preliminares com 4,8 mil crianças demonstraram uma eficácia tão grande quanto a do Mosquirix a US$2 a dose. Além disso, podem ser produzidas 100 milhões de doses por ano.
Era dos supercomputadores
A revista Science destaca a chegada da era da exaescala, com o primeiro computador no mundo a executar 1 quintilhão de operações matemáticas por segundo (foto). Ele foi desenvolvido durante uma década pelo Instituto Frontier, nos Estados Unidos. A precisão da máquina é quase perfeita. "As explorações em exaescala apenas começaram. Para o ano, espera-se que novos supercomputadores cheguem na Califórnia, na Alemanha, na França e no Japão, abrindo as portas para a ciência em uma escala anteriormente inatingível", destaca a publicação.
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