Os Emirados Árabes Unidos, país anfitrião da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023 (COP28), dependem significativamente dos hidrocarbonetos, como petróleo e gás natural, para o desenvolvimento do país. Com 9 milhões de habitantes, os Emirados emitiram 237 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2) em 2021, uma quantidade considerável em relação a países com populações maiores, como a Espanha.
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As discussões ocorrem a partir do dia 30 até 12 de dezembro. De acordo com levantamento da France Press, essas emissões refletem um estilo de vida baseado na combustão de petróleo e gás, impulsionado por atividades que consomem muita energia, como arranha-céus e o uso generalizado de ar-condicionado. Em julho, o país apresentou um novo plano climático. Os Emirados Árabes Unidos aderiram ao compromisso de triplicar a produção de energia renovável até 2030.
O governo acaba de inaugurar o seu primeiro parque eólico e, duas semanas antes da COP28, colocou em funcionamento a central solar Al Dhafra, uma das maiores do mundo. Também anunciou planos para reduzir as emissões em todos os setores, da indústria ao transporte, com especial destaque para os veículos elétricos.
Porém, organizações ambientais, como a Climate Action Tracker, consideram a estratégia "insuficiente". Há, ainda, a estimativa de que as emissões dos Emirados continuarão aumentando até 2030 e o gás continuará com uma posição importante até 2050, enquanto a sua meta de emissões líquidas zero em 2050 permanece vaga. A indústria do petróleo e do gás continua dominante, mas representa agora apenas cerca de 30% do PIB, em comparação com 42% do seu vizinho saudita.
Análises
Stela Herschmann, coordenadora-adjunta de Política Internacional do Observatório do Clima, sublinhou ao Correio que a queima de combustíveis fósseis é a atividade que mais contribui para as mudanças ambientais. "Falamos do carvão, que é o pior de todos e o mais poluente. Petróleo e gás também. Além do agravamento da crise climática, tem outros impactos, como a presença de muito material particulado, que gera uma série de problemas de saúde."
A Adnoc, dirigida pelo presidente da COP28, Sultan Al Jaber, diz que há planos para investir bilhões para aumentar a produção de hidrocarbonetos. Al Jaber argumenta que seu petróleo é mais barato e tem menor impacto de emissões devido à extração simplificada. O país também apoia a captura e o armazenamento de carbono, mas segundo a Global Witness, as emissões totais da Adnoc, incluindo as geradas pela combustão de combustíveis exportados, devem continuar aumentando até 2030.
Ao Correio, Ricardo Fuji, especialista de Conservação do WWF-Brasil, ressaltou que a transição energética é viável em todos os países, uma alternativa para os combustíveis fósseis. "Já está ocorrendo. A questão é em que medida que esse processo está acontecendo, que nível e que velocidade. Essa velocidade é insuficiente para combatem as mudanças climáticas e conseguir atingir as metas estabelecidas no acordo de Paris para limitar o aquecimento global."
Para Vinicius Nora, gerente de Oceanos e Clima do Instituto Internacional Arayara, há duas corridas em curso: uma para ser a última nação a explorar o petróleo e outra pela transição energética. "Não diria que a transição energética é algo inviável ou restrito, é uma grande oportunidade de mercado, de investimento. Existe uma competição pelos recursos para que isso aconteça, por exemplo, um recurso que será escasso são os metais preciosos, utilizados para produzir fontes eólicas, baterias."