NEUROCIÊNCIA

Parkinson: pesquisadores chineses desenvolvem terapia genética

Nova abordagem, que permite a manipulação seletiva dos circuitos afetados pela doença, conseguiu reduzir os principais problemas motores em roedores e primatas, controlando o tremor

Cientistas da Academia Chinesa de Ciências (CAS) criaram uma abordagem de terapia genética que permite a manipulação seletiva dos circuitos afetados pela doença de Parkinson. Conforme os resultados, descritos, nesta quinta-feira (2/11), na revista Cell, o tratamento foi capaz de reduzir os principais problemas motores da condição em roedores e primatas não humanos e controlar completamente o tremor característico. O alívio dos sintomas após a administração de uma única dose durou mais de 24 horas.

Para os pesquisadores, a descoberta poderá impactar o tratamento de outras patologias. “Além de mostrar potencial para o tratamento da doença de Parkinson, essa terapia genética de manipulação de circuitos abre caminho para o desenvolvimento futuro de estratégias terapêuticas direcionadas e baseadas em circuitos para outras doenças cerebrais”, contaram, em nota.

O artigo assinala que o cérebro tem dois caminhos neurais, chamados de "via direta" e "via indireta", que desempenham um papel fundamental no controle do movimento e estão relacionados ao funcionamento do estriado, uma estrutura cerebral. No Parkinson, essa relação sofre alterações. Com a falta de dopamina, característica da doença, a atividade é reduzida na via direta e há o aumento de função da indireta, o que leva a diversos sintomas motores.

Vírus modificado

No trabalho, os cientistas pretendiam estimular partes específicas do cérebro responsáveis pelos movimentos voluntários. Para isso, usaram um vírus modificado como uma espécie de marcador, algo que corroborasse na identificação das áreas desejadas. Após sinalizar essas regiões, eles adicionaram elementos reguladores da atividade neuronal que ajudaria a "ligar" ou ativar apenas as células que eles gostariam de trabalhar. Essas estruturas, chamadas D1-MSNs, são como interruptores que controlam o movimento.

Ao realizar essa etapa, a equipe conseguiu fazer com que os neurônios funcionassem melhor, permitindo que a "via direta" do cérebro, ficasse mais ativa e eficaz, o que ajudou a aumentar o controle sobre movimentos. Os sintomas típicos, como rigidez e tremor, melhoraram muito em modelos de primatas após a aplicação da terapêutica. Por exemplo, a bradicinesia — lentidão dos movimentos corporais e diminuição da capacidade de iniciar e realizar ações voluntárias— foi bastante reduzida, o tremor foi completamente eliminado e as habilidades motoras restauradas.

Para Amauri Godinho Júnior, neurocirurgião do Grupo Santa e titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, os resultados até agora são bons, mas ainda é preciso avaliar em humanos e investigar possíveis efeitos nocivos. “Esse seria um tratamento eficiente, mas contínuo, ininterrupto. Como demonstrado, tem as vantagens de posologia mais fácil, com uma dose diária. Ainda é um ensaio realizado em modelos experimentais em animais. Testes em seres humanos seriam uma nova fase de validação. Os resultados até agora são bastante otimistas.”

 

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