Para que a temperatura do planeta não exceda 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais até o fim do século, o Brasil se comprometeu, no Acordo de Paris, a zerar as emissões líquidas até 2050. Isso significa o equilíbrio entre o que se emite e o carbono que se sequestra da atmosfera. O país pode ser o primeiro a alcançar essa meta, mas, para isso, terá de investir urgentemente nas soluções baseadas na natureza — especialmente o fim do desmatamento e a restauração da vegetação nativa.
- 'Descobri um câncer de mama aos 23 anos': por que casos entre jovens têm aumentado e são mais agressivos
- Pó de asteroide que caiu na Terra causou inverno de 15 anos
Segundo um estudo publicado nesta terça-feira (31/10) na Global Change Biology, o impacto de ações do tipo seria imediato, com um custo muito mais baixo que das tecnologias que, por exemplo, pretendem retirar da atmosfera os gases de efeito estufa. Para tanto, os autores do artigo insistem na necessidade de políticas mais fortes em todo o país. Eles também destacam que, além de a interrupção do desmatamento ser a medida mitigatória mais importante para o país zerar as emissões líquidas até 2050, é a principal forma de evitar a perda de biodiversidade.
Os pesquisadores projetaram as emissões de gases de efeito estufa do Brasil até 2050 sob diferentes cenários políticos, com uma modelagem computacional. Eles compararam as potenciais reduções resultantes das soluções baseadas na natureza — incluindo reflorestamento em larga escala — com aquelas centradas na engenharia, como captura e armazenamento de carbono.
Código Florestal
Os resultados mostram que soluções baseadas na natureza contribuiriam com 80% da meta de líquida zero, além de reduzir 781 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano no país nas próximas três décadas. Alcançar isso, no entanto, exigiria políticas nacionais que vão além do atual Código Florestal. Sem ações adicionais, os pesquisadores descobriram que a implementação da Lei preencheria levaria a uma redução de emissões de 38% até 2050, muito longe do compromisso assumido.
"Soluções baseadas na natureza, em particular acabar com o desmatamento e restaurar a vegetação nativa, são o caminho a percorrer neste sentido", aposta Roberto Schaeffer, professor do Programa de Planejamento Energético (PPE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coautor do estudo, liderado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra. "A implantação de tecnologias de emissões negativas é muito dispendiosa e, mais importante ainda, arriscada, uma vez que não foi comprovado que estas tecnologias funcionam em escala ainda", destaca.
Diminuir significativamente o desmatamento também foi apontado por uma nota técnica divulgada ontem pela rede Observatório do Clima (OC) como essencial para o país chegar a 2025 com uma redução de 48% nas emissões, em comparação a 2005. Essa é uma das contribuições assumidas pelo Brasil no Acordo de Paris. De acordo com o texto, desde janeiro deste ano, o governo "conseguiu reverter uma aceleração de 54% na taxa de alertas de desmatamento, produzindo uma queda de 42% no primeiro semestre de 2023". Para que, nos próximos dois anos a meta seja alcançada, "será preciso manter esse nível de empenho", afirma o OC.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br