Mente humana

Porque precisamos de exemplos concretos para entender grandes tamanhos e espaços?

"As queimadas destruíram uma área equivalente a 200 campos de futebol"; especialistas explicam o motivo das comparações serem melhor assimiladas pelo cérebro

A matemática é uma ciência que lida com conceitos e objetos que não são diretamente observáveis de maneira física. Portanto, visualizar e compreender espaços, números e tamanhos que estão fora do nosso alcance visual pode ser um desafio para muitas pessoas. Entender a dimensão de um número imensurável fisicamente, como o tamanho de uma área de 10 mil hectares, se torna mais fácil se comparado com piscinas olímpicas ou campos de futebol, por exemplo.

“Se falamos que um terreno tem um hectare, as pessoas não estão habituadas a esse padrão. Mas se dissermos que é do tamanho de um campo de futebol essa pessoa sabe do que se trata”, explica o doutor em física Mario Luiz Lopes da Silva,  professor do Instituto de Física e Matemática da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). 

O mesmo raciocínio vale para assimilar alturas e números como um milhão ou bilhão. “Por exemplo, falar que um equipamento em um laboratório de física tem doze metros de altura, fica um pouco abstrato, mas se falarmos que é da altura de um prédio de quatro andares, as pessoas vão ter uma noção melhor do tamanho do equipamento, pois os prédios de quatro andares fazem parte do dia a dia delas”, esclarece.

“Do ponto de vista científico, estamos sempre buscando estabelecer padrões”

Silva pontua que os seres humanos buscam determinar padrões para quase todas as situações cotidianas. “Essa necessidade vem da busca por descrever quantitativamente as coisas. Por exemplo, quando vamos ao supermercado, onde comparamos a quantidade de alimento nas embalagens, usamos o quilograma. Então, do ponto de vista científico, estamos sempre buscando estabelecer padrões”, diz.

A médica neurologista e coordenadora do departamento científico de neuro-oncologia da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Ligia Henriques Coronatto, diz que as comparações concretas são necessárias não somente para a compreensão de dimensões e proporções, mas para o entendimento de todos os conceitos considerados abstratos. “Conceitos abstratos são construídos por um conjunto de relações e só fazem sentido quando essa rede de elementos abstratos e concretos está bem traçada”.

Por outro lado, as abstrações estão relacionadas a outros conceitos, em uma série de incontáveis relações. “A aprendizagem só ocorre quando o novo elemento é encaixado nessas redes já existentes. Se não é relacionado, não faz sentido e se não faz sentido, é descartado pelo cérebro”, completa.

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O cérebro humano é formado por diversas áreas. A camada mais externa do cérebro é o córtex cerebral, dividido em cinco lobos (frontal, parietal, temporal, occipital e ínsula). As áreas que atuam no âmbito da compreensão para entender número e tamanhos são: lobo frontal e temporal esquerdo (para compreender números e cálculos) e lobo parietal direito (forma, tamanhos e dimensões de objetos).

“Dessa forma, nosso cérebro relaciona conceitos concretos com abstratos já que são mais maleáveis de serem trabalhados com nosso sistema neural já exausto com as exigências corriqueiras diárias”, detalha Coronatto.

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