Ciência e Saúde

Traumas de infância podem ser sentidos em até 3 gerações

Em um estudo com roedores, pesquisadores perceberam que situações traumáticas na infância podem desencadear transtornos mentais que atravessam gerações

criança depressão trauma -  (crédito: davidpereiras/envato)
criança depressão trauma - (crédito: davidpereiras/envato)
Nathan Vieira - CanalTech
postado em 10/10/2023 13:45 / atualizado em 10/10/2023 13:45

Transtornos psiquiátricos gerados por traumas na infância podem ultrapassar gerações. Essa foi a descoberta de um estudo publicado na revista Science Advances na última quarta-feira (4). Para chegar a essa informação, os cientistas conduziram experimentos com roedores.

Anteriormente, outros estudos já tinham ressaltado a ideia de que situações traumáticas de infância podem resultar em problemas emocionais e comportamentais tanto em humanos quanto em ratos. Pesquisas anteriores também mostraram que esses problemas podem ser atribuídos a alterações no funcionamento do cérebro e podem durar a vida toda.

Para desencadear traumas de infância nos roedores, os cientistas os tiraram de suas mães e os colocaram com mães adotivas, e transferiram repetidamente para novas mães adotivas todos os dias durante a primeira semana de vida.

Depois disso, os pesquisadores analisaram os animais e encontraram níveis elevados de proteínas codificadas pelos genes ASIC1, ASIC2 e ASIC3. A partir da análise, o grupo descobriu que os ratos eram mais sensíveis à dor quando adultos e apresentavam problemas sociais e comportamentais em comparação com os outros.

Transtornos que ultrapassam gerações

À medida que os roedores envelheciam e podiam acasalar e produzir descendentes, os investigadores também testaram essa prole, e encontraram níveis elevados das mesmas proteínas, o que sugere que esses problemas neurológicos e psiquiátricos podem ser transmitidos através das gerações — mais precisamente três.

Os investigadores também tentaram tratar a doença administrando às três gerações de ratos o medicamento amilorida, que é conhecido por reduzir os níveis de proteínas codificadas pelos genes ASIC1, ASIC2 e ASIC3.

Pesquisadores testaram traumas de infância em roedores para analisar problemas neurológicos (Imagem: nikki_meel/envato)

Dessa maneira, os cientistas descobriram que isso não apenas reduziu esses níveis, mas também reduziu os sintomas físicos que os ratos apresentavam. Com isso, a ideia agora é conduzir mais estudos para explorar mais a fundo essa interação.

Consequências de traumas na infância

As adversidades na primeira fase da vida podem desencadear consequências de longo prazo. Em 2021, por exemplo, um estudo apresentou que crianças expostas à violência doméstica têm mais distúrbios ou transtornos mentais.

Isso vem desde o nascimento, inclusive. Então se o bebê é exposto à violência de um dos pais, geralmente apresenta um desenvolvimento mais lento e resultados adversos durante o crescimento.

Além disso, pessoas traumatizadas na infância são mais propensas a viciar em morfina. Os cientistas identificaram que as pessoas que tiveram traumas na infância ficaram mais eufóricas e com vontade maior de outra dose da substância.

Fonte: Science Advances

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