Ciência

Olfato muda a forma como processamos as cores, diz estudo

Experimento britânico descobre que o olfato impacta a forma como uma pessoa enxerga as cores. Fragrâncias cítricas favorecem cores próximas ao amarelo

nariz-cheiro-laranja -  (crédito: Dimaberlin/Envato)
nariz-cheiro-laranja - (crédito: Dimaberlin/Envato)
Fidel Forato — CanalTech
postado em 10/10/2023 13:40 / atualizado em 10/10/2023 13:40

O cérebro recebe um número praticamente impossível de estímulos para processar por minuto. Diante de tanta informação, as percepções captadas pelos cinco sentidos — ou seis sentidos — se cruzam, o que recebe o nome de associações intermodais. É o que revela um experimento britânico ao descobrir que os cheiros alteram a percepção humana sobre as cores.

Publicado na revista científica Frontiers in Psychology, o estudo aponta que, em um ambiente tomado pelo cheiro de café, a cor cinza vista está mais próxima do marrom e do vermelho. Outras mudanças no tom da cor são provocadas por fragrâncias e odores diferentes, frutos da interferência de sentidos.

Cheiro de café muda a percepção humana sobre as cores (Imagem: Farknot/Envato)

Na pesquisa, "mostramos que a presença de diferentes odores influencia a forma como os humanos percebem as cores", afirma Ryan Ward, professor sênior da Liverpool John Moores University (LJMU), no Reino Unido, em nota.

O olfato e as cores

A atual pesquisa é mais uma das descobertas da equipe da LJMU no estudo da interferência do olfato na visão. Anteriormente, as associações intermodais já tinham sido observadas para as seguintes fragrâncias:

  • Cheiro de caramelo é normalmente associado visualmente com o marrom-escuro e o amarelo;
  • Café está ligado com marrom-escuro e o vermelho;
  • Cereja remete ao rosa, vermelho e roxo;
  • Hortelã está conectado com as cores verde e azul;
  • Limão é associado com amarelo, verde e rosa.

Experimento mede interferência dos sentidos

Se os pesquisadores já sabiam que determinados cheiros estavam ligados com cores específicas, eles queriam entender se essas fragrâncias afetavam também a percepção sobre uma mesma cor — no caso, o cinza.

Para investigar essa premissa, foram recrutados 24 adultos, com idades entre 20 e 57 anos, sem nenhum nível de daltonismo. No dia do experimento, os voluntários receberam a recomendação de ir até o laboratório sem usar desodorante e perfume, buscando reduzir ao máximo estímulos olfativos prévios.

Para os testes, um por vez, o indivíduo entrava em uma sala totalmente escura e sem cheiros (limpa com um purificador de ar). Então, uma tela era acesa, exibindo um painel numa cor aleatória. Através de dois controles, o participante precisava ajustar manualmente a cor da tela para o que considerava cinza "puro".

Experimento descobre que o olfato impacta como uma pessoa enxerga as cores (Imagem: Manfred Richter/Pixabay)

Só que durante a tarefa, uma das seis fragrâncias selecionadas pelos cientistas era introduzida no ambiente — caramelo, cereja, café, limão e hortelã, além de água como substância de controle (sem cheiro) —, através de um difusor.

Resultado do teste com as cores

Após analisar os resultados, os pesquisadores concluíram que existe uma tendência consistente, mesmo que leve, da percepção sobre a cor cinza variar conforme os odores que eram apresentados para os voluntários. A única exceção foi o cheiro de hortelã, que não provocou nenhum tipo de desvio na percepção.

"Esses resultados sobre a percepção do cinza confirmaram as correspondências intermodais previstas para quatro dos cinco aromas (limão, caramelo, cereja e café)", pontua o professor Ward. Nesse contexto, o cinza puro só foi obtido com o cheiro de hortelã e de água (sem cheiro).

Além disso, o pesquisador explica que o experimento comprova que "o papel das associações intermodais no processamento de informações sensoriais é forte o suficiente para influenciar a forma como percebemos as informações dos diferentes sentidos, aqui, entre odores e cores". No entanto, outras sobreposições devem ser observadas a partir de outros sentidos, se forem analisadas por estudos futuros.

Fonte: Frontiers in Psychology e Blog Frontiers   

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