Crise Climática

Ondas de calor: impactos são maiores no fundo dos oceanos

Impacto chega a ser até 19% mais forte do que nas águas superficiais, mostra pesquisa com registros de até 2 mil metros abaixo da superfície

Espécies que não conseguem fugir das temperaturas altas, como os corais, podem ser a mais atingidas -  (crédito: WILLIAM WEST)
Espécies que não conseguem fugir das temperaturas altas, como os corais, podem ser a mais atingidas - (crédito: WILLIAM WEST)
postado em 20/09/2023 06:04

A biodiversidade marinha está mais ameaçada pelas ondas de calor do que se acreditava até agora. Um estudo publicado na revista Nature Climate Change mostra que o fenômeno tem duração maior e é mais intenso em águas profundas, em comparação à superfície. Segundo os autores, isso ameaça potencialmente espécies sensíveis, à medida que o aumento da temperatura está cada vez mais frequente.

Os oceanos absorveram 90% do excesso de calor produzido pela poluição por carbono proveniente da atividade humana desde o início da era industrial. Nos últimos anos, episódios de temperatura da água anormalmente elevados tornaram-se mais frequentes e intensos. Um impacto particularmente grave refere-se a espécies que não conseguem migrar para escapar do calor — exemplos são os corais da Grande Barreira, na Austrália, e as florestas de alga do Pacífico.

No novo estudo, os pesquisadores, liderados por Eliza Fragkopoulou, da Universidade de Algarve, em Portugal, analisaram os impactos dos picos de temperatura em águas mais profundas. Segundo Fragkopoulou, essa é a primeira tentativa de observar as ondas de calor marinhas abaixo da superfície. "As ondas de calor marinhas e seus efeitos foram estudados principalmente na superfície do oceano, e não sabíamos muito sobre suas características nas profundezas."

19% mais forte

Usando observações e modelagem no local, os pesquisadores estudaram as ondas de calor marinhas globais de 1993 a 2019, incluindo registros de até 2 mil metros abaixo da superfície. Eles descobriram que a intensidade era mais alta entre 50m e 200m — ocasionalmente, até 19% mais forte do que nas águas superficiais. A duração também aumentou com a profundidade, com o aquecimento persistindo até dois anos depois que as temperaturas voltaram ao normal no topo.

Os cientistas, então, analisaram uma medida substituta do estresse térmico conhecida como intensidade cumulativa e a mapearam em relação à distribuição da biodiversidade considerando os limites máximos de calor. O objetivo era descobrir áreas onde as criaturas marinhas são potencialmente mais vulneráveis às mudanças. "Considerando que os impactos das ondas de calor marinhas na biodiversidade do fundo do mar ainda são, em grande parte, desconhecidos, há uma necessidade urgente de mais e melhor monitorização do oceano global para compreender os seus efeitos", destacou Fragkopoulou, em nota.

Ángel Borja, pesquisador e editor-chefe da revista científica Frontiers in Ocean Sustainability, acredita que o estudo é essencial para melhor proteção da biodiversidade nas profundezas do oceano. "Até agora, não havia sido demonstrado que a intensidade das ondas de calor era maior nas áreas subterrâneas do que na superfície. Isso é de grande importância e implicação, uma vez que a maior biomassa de organismos (invertebrados e peixes) do oceano está na zona mesopelágica, entre 200 e 1 mil metros de profundidade. É nessa zona que ocorre o que alguns chamam de a maior migração diária de animais do planeta, pois a cada noite eles se aproximam da superfície e descem novamente." 

 


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