Uma pesquisa realizada por cientistas do Instituto Max Planck de Pesquisa em Metabolismo, na Alemanha, mostra que o aprendizado é positivamente afetado pela droga antiobesidade liraglutida. Apenas uma dose da medicação beneficia a atividade cerebral, segundo os autores do artigo publicado, nesta quinta-feira (17/08), na revista Nature Metabolism. O estudo também mostra que a aquisição de conhecimento é prejudicada em pessoas com baixa sensibilidade à insulina, condição associada ao excesso de peso.
"Mostramos que comportamentos básicos, como o aprendizado associativo, dependem não apenas das condições ambientais externas, mas também do estado metabólico do corpo. Portanto, uma pessoa estar acima do peso também determina como o cérebro aprende a associar sensorialmente sinais", afirma, em nota, o líder do trabalho, Marc Tittgemeyer.
Conforme os autores, para controlar o comportamento, o cérebro deve ser capaz de formar associações. Isso envolve, por exemplo, relacionar um estímulo externo a uma consequência, como ver uma peça de metal brilhando na cor vermelha e entender que ela pode gerar uma queimadura. Essa aprendizagem associativa é controlada por uma área do cérebro chamada mesencéfalo dopaminérgico.
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Nessa região, há muitos receptores para moléculas consideradas sinalizadoras, como a insulina, o que permite adaptar os comportamentos às necessidades fisiológicas do organismo. No entanto, quando a sensibilidade à insulina do corpo é reduzida em decorrência da obesidade, causa alterações na atividade cerebral e na capacidade de aprender por associação.
Para testar o funcionamento da liraglutida, os pesquisadores avaliaram 30 voluntários com peso normal e 24 obesos. A equipe injetou, nos participantes, uma dose da liraglutida ou de placebo. Muito usada para tratar obesidade e diabetes tipo 2, a droga age estimulando a fabricação de insulina e produzindo uma sensação de saciedade. Na manhã seguinte à aplicação, os pacientes receberam uma tarefa para que fosse avaliado o desempenho do aprendizado associativo.
Antes da abordagem experimental, a equipe notou que a capacidade de associar estímulos sensoriais era menor em participantes com obesidade do que naqueles com peso normal. Também nos primeiros, a atividade cerebral estava reduzida nas áreas ligadas a esse comportamento. Após uma dose de liraglutida, porém, os obesos não apresentaram mais esse deficit no aprendizado e não foi observada diferença na atividade cerebral entre os grupos.
A liraglutida também devolveu a atividade cerebral aos participantes obesos, levando-os ao mesmo estado que indivíduos com peso normal. "Embora seja encorajador que as drogas disponíveis tenham um efeito positivo na atividade cerebral na obesidade, é alarmante que ocorram mudanças no desempenho cerebral mesmo em jovens com obesidade sem outras condições médicas", pontua Ruth Hanßen, primeira autora do estudo.
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