De acordo com a pesquisa Panorama da Saúde Mental, co-idealização do Instituto Cactus e AtlasIntel, apenas 5% das pessoas fazem psicoterapia no Brasil. Os dados também mostraram que os jovens, estudantes, brancos, mulheres, com renda mais alta e maior escolaridade são os grupos que mais fazem terapia.
O panorama faz um monitoramento da saúde mental do brasileiros e entrevistou 2.248 pessoas acima de 16 anos, entre 19 de janeiro e 20 de fevereiro deste ano. “Desde o início do projeto, fiquei entusiasmado com a possibilidade de iniciarmos um monitoramento periódico, sistemático e exaustivo da saúde mental dos brasileiros, colocando as bases para melhor ancorar políticas públicas e o trabalho das autoridades e do terceiro setor em dados e evidências científicas com atualização semestral”, diz Andrei Roman, CEO da AtlasIntel. “A metodologia de coleta web usada possibilitou uma coleta ampla, em 746 municípios, muito mais do que seria possível via coleta presencial. Além disso, por ser anônima e em ambiente on-line, reduz o viés do estigma que o tema de saúde mental carrega, comparado com outras formas de coleta de dados a partir de interação direta com agentes de pesquisa”, completa.
A pesquisa também mostra que apenas 2% dos idosos relataram fazer psicoterapia, a menor taxa entre todas as faixas etárias. No recorte por educação, observamos que aqueles com ensino superior fazem terapia em uma proporção muito maior (10%) que aqueles com só o ensino fundamental (1,4%).
Em relação à identidade de gênero e orientação sexual, os que mais acessam psicoterapia são os transgêneros (11,8%), pansexual (22,1%) e assexual (29,3%). Já em termos de religião, agnósticos ou ateus são os que mais reportam fazer psicoterapia, com 13,7% do total, em comparação com apenas 2,3% no caso dos evangélicos.
Entre o perfil de quem faz terapia, aqueles que fazem esportes mais de três vezes por semana apresentaram uma taxa maior de participação em terapia. O estudo associa que as pessoas que praticam exercícios com regularidade podem estar mais preocupados com saúde e bem-estar dentro desse grupo.
Entre as pessoas que fazem terapia, a pesquisa questionou a quanto tempo elas se consultam. 56,9% responderam que a mais de um ano, 17,6% a menos de um ano, 13,7% menos de três meses e 11,8% a menos de seis meses.
Uso de medicamentos
Apesar de apenas 5% da população acessar serviços de psicoterapia para o cuidado com a saúde mental, 16,6% afirmam fazer uso contínuo de medicamentos. Entre os 16,6% que reportam o uso, destacam-se os pansexuais (55%), transgêneros (40,5%), os viúvos (32,8%), os não binários (30,4%) e os idosos (25%).
Entre os usuários, mulheres fazem uso de forma um pouco maior que homens (19% x 14%). Também há maior prevalência entre aqueles que possuem apenas Ensino Fundamental (24%) e aqueles com renda entre R$ 5-10 mil (21%). A pesquisa também observou um aumento da associação entre uso de medicamentos a medida que o individuo experienciou com mais frequência bullying, dor crônica, consumo de cigarros e briga com familiares.
Quanto as pessoas gastam com saúde mental?
A maior parte dos entrevistados (62,1%) responderam que não tem nenhum gasto do próprio bolso para atendimento em saúde mental nos últimos 12 meses. Aqueles que reportaram gastos com a saúde mental nos últimos 12 meses, indicaram: 9,8% com um gasto médio de R$ 100/mês, 9,7% com um gasto médio de R $500/mês, 9,5% com um gasto médio de R$ 100-R$ 200/mês; e 8,8% com um gasto médio de R$ 200-R$ 500/mês.
Os grupos que mais tiveram gastos foram: transgêneros (21,5%), pessoas com renda acima de R$ 10 mil (18.6%), pessoas com 45 a 49 anos (15,5%) e pessoas grávidas (15%).
Os pesquisadores notaram que os que menos gastaram com saúde mental são: pessoas preocupados com a situação financeira (75,2%); aqueles que não sentiram dor crônica (68,7%); aqueles que consumiram álcool três vezes por semana ou mais (65,9%); aqueles que se encontraram com amigos três vezes ou mais (65,4%) e aqueles que não brigaram com familiares (65,1%).