Saúde

O que é a síndrome do pôr-do-sol que afeta muitas pessoas com demência

À medida que a luz vai diminuindo em direção ao final do dia, também diminui a quantidade de informações sensoriais disponíveis para auxiliar um paciente com demência a interpretar o mundo

Nosso cérebro tem mais capacidade do que a necessária para as tarefas do dia a dia -  (crédito: Getty Images)
Nosso cérebro tem mais capacidade do que a necessária para as tarefas do dia a dia - (crédito: Getty Images)
BBC
Steve Macfarlane - The Conversation*
postado em 17/08/2023 11:17 / atualizado em 17/08/2023 11:17

Os sentidos principais são a visão e a audição.

Imagine a dificuldade que você teria se lhe fosse solicitado realizar uma tarefa complexa enquanto estivesse em um ambiente escuro.

Pessoas que vivem com demência dependem igualmente das informações sensoriais para compreender e interpretar corretamente o seu entorno.

À medida que a luz vai diminuindo em direção ao final do dia, também diminui a quantidade de informações sensoriais disponíveis para auxiliar um paciente com demência a interpretar o mundo.

O impacto disso em um cérebro que já possui dificuldades em integrar as informações sensoriais pode ser significativo, resultando em maior confusão e comportamentos inesperados.

Esgotamento cognitivo

Todos nós já ouvimos que usamos apenas uma fração do nosso poder cerebral, e é verdade que temos mais poder cerebral do que geralmente é necessário para a maioria das tarefas diárias.

Essa "reserva cognitiva" pode ser usada quando precisamos realizar tarefas complexas ou estressantes, que exigem mais esforço mental.

Mas e se você não tiver muita reserva cognitiva?

As mudanças que eventualmente levam aos sintomas da doença de Alzheimer podem começar a se desenvolver até 30 anos antes desses sintomas aparecerem.

Nesse tempo, de forma simples, a condição esgota nossa reserva cognitiva.

É somente quando o dano causado é tão significativo que nosso cérebro não pode compensá-lo, que desenvolvemos os primeiros sintomas do Alzheimer e outras formas de demência.

Portanto, quando alguém apresenta os primeiros sintomas muito cedo da demência, grande parte do dano já ocorreu.

A reserva cognitiva foi perdida e os sintomas de perda de memória finalmente se tornam evidentes.

Como resultado, as pessoas que vivem com demência precisam fazer muito mais esforço mental durante o dia do que a maioria de nós.

Todos nós já nos sentimos cognitivamente exaustos, cansados e talvez um pouco irritados após um longo dia realizando uma tarefa difícil que exigiu um alto nível de esforço mental e concentração.

As pessoas que vivem com demência precisam fazer uma quantidade similar de esforço mental apenas para cumprir sua rotina diária.

Por isso, não é surpreendente que, depois de várias horas dedicadas a um esforço mental constante apenas para sobreviver (muitas vezes em um local não familiar), elas tendam a se sentir cognitivamente exauridas.

O que devo fazer?

As casas de pessoas com demência devem estar bem iluminadas durante a tarde e a noite, quando o sol está se pondo, para auxiliar a pessoa com demência a integrar e interpretar as informações sensoriais.

Uma breve soneca após o almoço pode ajudar a aliviar a fadiga cognitiva no final do dia. Isso oferece ao cérebro a oportunidade de "recarregar".

Entretanto, não há substituto para uma avaliação mais abrangente das outras causas que podem contribuir para a alteração comportamental.

Necessidades não atendidas, como fome ou sede, presença de dor, depressão, tédio ou solidão podem contribuir, assim como estimulantes como cafeína ou açúcar, se consumidos muito tarde no dia.

Os comportamentos frequentemente descritos com o termo excessivamente simplista de "síndrome vespertino" são complexos e suas causas tendem a ser individuais e inter-relacionadas.

Como frequentemente ocorre na medicina, um conjunto específico de sintomas é melhor gerenciado ao se compreender melhor as causas.

*Steve Macfarlane é Diretor de Serviços Clínicos no Dementia Support Australia e Professor Associado de Psiquiatria na Monash University.

Este artigo foi publicado no The Conversation e é reproduzido sob a licença Creative Commons. Você pode ler o original em inglês aqui.

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